O Estado de São Paulo, n. 45258, 15/09/2017. Política, p. A6.

 

Planalto vê ‘realismo fantástico’ da PGR

Felipe Frazão / Vera Rosa

15/09/2017

 

 

A SEGUNDA DENÚNCIA / Em nota, governo critica denúncia de Janot e diz que acusação é ‘recheada de absurdos’; aliados temem agora uma eventual delação de Geddel

 

 

O Palácio do Planalto afirmou que a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer apresentada ontem pela Procuradoria-Geral da República (PGR) é “recheada de absurdos”, “falta de credibilidade” e “realismo fantástico em estado puro”.

“A segunda denúncia é recheada de absurdos. Fala de pagamentos em contas no exterior ao presidente sem demonstrar a existência de conta do presidente em outro país. Transforma contribuição lícita de campanha em ilícita, mistura fatos e confunde para tentar ganhar ares de verdade. É realismo fantástico em estado puro”, disse, em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).

No terceiro comunicado divulgado nesta semana para defender o presidente, a Secom afirma que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, empreende uma “marcha irresponsável para encobrir suas próprias falhas” ao levar ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma denúncia por organização criminosa e obstrução da Justiça. “(Janot) finge não ver os problemas de falta de credibilidade de testemunhas, a ausência de nexo entre as narrativas e as incoerências produzidas pela própria investigação, apressada e açodada.”

A nota acusa o procurador-geral da República de não zelar pelo trabalho e diz que o chefe do Ministério Público Federal (MPF), “por incompetência ou incúria, coloca em risco o instituto da delação premiada”. O comunicado afirmou também que a delação é “fraudada”. O mandato de Janot termina neste fim de semana e Raquel Dodge assume o comando da PGR na segunda-feira.

Temer quer que a Câmara vote rapidamente a segunda denúncia contra ele para demonstrar força política e desmoralizar a acusação apresentada por Janot. Na avaliação do núcleo político do Planalto, o presidente terá agora mais votos a seu favor do que os 263 obtidos por ele em 2 de agosto, quando o plenário da Câmara derrubou a primeira acusação, por corrupção passiva.

A ordem no governo é para que os aliados reajam duramente à denúncia, expondo o que a defesa de Temer chama de “falta de provas”. Antes da divulgação da nota da Secom, ontem, o presidente se reuniu com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), também denunciado, Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Antonio Imbassahy (Governo). Embora haja no Planalto quem aposte que o Supremo suspenderá o andamento da denúncia na próxima quarta-feira, ao analisar o caso, a avaliação predominante ali é a de que a Corte não vai querer interferir nesse assunto agora.

“O Supremo vai analisar isso, atendendo a pedido da defesa do presidente. Se houver prosseguimento da denúncia, a Câmara vai analisá-la com muita rapidez e acho que teremos mais votos na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário do que da outra vez, porque agora está clara a parcialidade do procurador-geral”, disse o deputado Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo.

 

Temor. Em conversas reservadas, auxiliares do presidente afirmam que a maior preocupação do Planalto, hoje, é com uma possível delação premiada do ex-ministro Geddel Vieira Lima – também denunciado por Janot – do que com um revés na Câmara.

A Polícia Federal descobriu, recentemente, malas e caixas de papelão com R$ 51 milhões em um apartamento usado por Geddel, em Salvador. Muitas notas tinham as digitais do ex-ministro, que era articulador político do governo Temer. Geddel também trabalhou com os expresidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Seus amigos dizem que ele não aguentará ficar muito tempo preso e pode contar “o que sabe e o que não sabe” para sair da cadeia.