Correio braziliense, n. 19845, 22/09/2017. Política, p. 3.

 

Convite a Janot

Natália Lambert

22/09/2017

 

 

Criada inicialmente para investigar irregularidades em empréstimos e transações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com a empresa JBS, entre 2007 e 2016, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) aprovou ontem convite para que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot preste depoimento ao colegiado. A intenção, segundo parlamentares autores dos requerimentos, é que Janot esclareça dúvidas a respeito da “superdelação” premiada dos executivos do grupo, que teria culminado nas denúncias contra o presidente da República, Michel Temer.

Em entrevista ao Correio, publicada na última quarta-feira, Rodrigo Janot falou sobre o desvio de foco da comissão. “A CPI não é da JBS. O relator (deputado Carlos Marun) já afirmou que o escopo é investigar os investigadores (...) Essa CPI tem que seguir o escopo dela. Não é a CPI dos empréstimos do BNDES? E querem investigar quem? Eu? Eu não participei de empréstimo nenhum da JBS. O acordo da JBS foi judicial. Foi homologado pelo Supremo e foi reafirmado pelo Supremo. Como o Congresso pode querer desconstituir isso?”, questionou. Além do convite a Janot, parlamentares aprovaram pedido para que o então chefe de gabinete dele, Eduardo Botão Pellela, seja ouvido também.

Procurado, Janot não foi encontrado para responder se vai depor ao colegiado, mas o presidente da CPMI, Ataídes de Oliveira (PSDB-TO), afirma que, caso ele se recuse a colaborar, o plenário decidirá se muda o convite para convocação — quando a pessoa é obrigada a comparecer. Na manhã de ontem, a comissão aprovou mais de uma centena de requerimentos de convocação, convites e solicitação de informações.

O primeiro nome escolhido para depor — provavelmente na próxima terça-feira — é o do procurador da República Ângelo Goulart, suspeito de ter recebido dinheiro da JBS para compartilhar provas e informações. Após passar mais de dois meses preso, Goulart afirmou, em entrevista, que o ex-procurador-geral orientava as delações premiadas para atingir diretamente o presidente da República. O depoimento de Goulart à CPMI coincidirá com o início dos debates na Câmara sobre a segunda denúncia contra o chefe do Executivo.

De acordo com o relator-geral do colegiado, Carlos Marun (PMDB-MS), uma ação não influenciará a outra. “Não podemos paralisar o trabalho da CPI e ficar aguardando a denúncia. É natural que sejam convocadas pessoas que tenham a ver com essa situação controversa. Eu, particularmente, confesso que gostaria de ouvi-lo como um dos primeiros colaboradores e com a máxima rapidez possível”, comentou.

O ex-procurador Marcelo Miller, acusado de fazer jogo duplo como advogado da JBS enquanto estava na Procuradoria-Geral da República, também foi convocado a depor à CPMI, ainda sem data prevista. Além de Goulart, estão previstos na semana que vem os depoimentos de Márcio Lobo, advogado da associação dos acionistas minoritários do grupo JBS, do advogado da JBS Willer Tomaz de Souza e do ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho.