Correio braziliense, n. 19849, 26/09/2017. Política, p. 4.

 

Dodge quer a volta da confiança no MP

Bernardo Bittar

26/09/2017

 

 

Diante de uma crise de imagem da instituição que comanda há uma semana, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, chamou a atenção da necessidade de “fazer com que a sociedade volte a acreditar no Ministério Público como seu protetor”. A primeira mulher a ocupar o cargo na história teve um tumultuado início de gestão, com a exoneração, na última sexta-feira, do procurador Sidney Pessoa Madruga, após ele revelar detalhes sobre a postura interna da nova administração à advogada Fernanda Tórtima, que atua na defesa do grupo J&F. Duas semanas atrás, o Ministério Público Federal (MPF) viu-se novamente envolvido em uma polêmica: a suposta colaboração do ex-procurador Marcello Miller na omissão de informações na delação de Joesley Batista.

Segundo a procuradora-geral, é hora de restabelecer a “confiança nas instituições de Justiça”, que, conforme estudos citados por ela, estão abaladas e sendo “desafiadas pelos apoiadores de posições totalitárias”. Raquel Dodge discursou na posse dos novos integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), onde também afirmou que “o fortalecimento do MPF é papel deste conselho, que precisa defendê-lo e fazer com que a sociedade volte a acreditar nele (o Ministério Público Federal) da maneira que nos incumbiu a Constituição Federal”.

Dodge salientou que “a população cobra resultados” e qualificou o MPF como “defensor da sociedade”. Para que todos os objetivos sejam cumpridos, ela afirmou a intenção de viabilizar “os recursos financeiros necessários”: nem exagerados nem faltosos, “como vem acontecendo”. Por fim, desejou que todos os 14 conselheiros do CNMP — instituição presidida por ela enquanto procuradora-geral — deixem, ao fim de dois anos, um “legado de esperança em dias melhores para todos os brasileiros”.

 

Flagrante

Na instituição, o discurso da recém-empossada PGR foi visto como “uma resposta” à atitude dela própria, que exonerou Madruga do cargo de coordenador do Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral (Genafe). Os dois almoçaram em um restaurante do Lago Sul na última quinta-feira. Em almoço com a dvogada Fernanda Tórtima, do grupo J&F, ele falou sobre a “tendência” da PGR em investigar o procurador Eduardo Pellela, ex-chefe de gabinete do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, por suposta atuação irregular nos acordos de delação premiada da JBS.

Ontem, duas faixas com a foto de Rodrigo Janot e do advogado Pierpaolo Bottini, à frente da defesa da JBS, foram colocadas na descida para o Congresso. A imagem dos dois sentados em um bar do Lago Sul com a frase “happy hour da JBS” foi fotografada e compartilhada por quem passava na Esplanada dos Ministérios. Há duas semanas, Janot e Bottini se encontraram nos fundos de um bar do Lago Sul, um dia depois que o ex-procurador-geral pediu a reversão do acordo de delação premiada de Joesley Batista, que teria feito conluio com Marcello Miller e omitido informações. Joesley está preso em Brasília. Miller, hoje advogado, teve sua carteira funcional suspensa por 90 dias. Cerca de 380 profissionais da área passaram por situação semelhante em toda a história da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).