Correio braziliense, n. 19867, 14/10/2017. Política, p. 3

 

Funaro detalha atuação de Cunha

14/10/2017

 

 

Em delação premiada fechada com o Ministério Público Federal e homologada pelo Supremo Tribunal Federal, o operador financeiro Lucio Funaro relatou a atuação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados. “Eduardo funcionava como se fosse um banco de corrupção de políticos, ou seja, todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca mandava no mandato do cara”, afirmou. “Não precisava nem ir atrás de ninguém, fazia fila de gente atrás dele.”

O vídeo do depoimento prestado por Funaro à Procuradoria-Geral da República, em 23 de agosto deste ano, foi divulgado ontem pelo site do jornal Folha de S.Paulo. O operador financeiro também descreveu a forma do repasse de propinas na Caixa Econômica Federal. Funaro relatou que entre 60% e 65% do valor de cada operação ficava com Geddel Vieira Lima, depois que assumiu a vice-presidência de Pessoa Jurídica do banco, em 2011. Ele deixou o cargo em 2013, mas mantém ascendência na Caixa, segundo o doleiro “O resto (40% a 35%) eu e o Cunha meiávamos no meio (sic) ou eu dava 5% a mais para o Cunha e o resto para mim, dependia da operação e da necessidade de caixa que ele tinha”, disse Funaro.

Portos

Na delação premiada, Funaro também afirmou que soube que o presidente Michel Temer pediu ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para defender interesses de empresas portuárias durante a tramitação da MP (Medida Provisória) dos Portos, em 2013. O operador afirmou que soube da interferência de Temer na medida provisória porque Cunha lhe contou. O delator mencionou supostas relações com três empresas que operam no porto de Santos, no litoral paulista: a Rodrimar, o grupo Libra e a Santos Brasil, além da Eldorado Celulose, que pertencia ao grupo J&F, controlador da JBS, e tinha interesse em atuar em uma área própria em Santos. O Palácio do Planalto nega que Temer tenha atuado na tramitação da MP dos Portos na Câmara.

Frase

"Eduardo funcionava como se fosse um banco de corrupção de políticos, ou seja, todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca mandava no mandato do cara"

Lúcio Funaro, em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República, em 23 de agosto deste ano