O Estado de São Paulo, n. 45271, 28/09/2017. Política, p. A8.

 

Carta de Palocci cita 7 ações contra Lula

Ricardo Brandt / Ricardo Galhardo / Fausto Macedo / Julia Affonso

28/09/2017

 

 

De forma direta ou indireta, ex-ministro faz referência ao caso do triplex do Guarujá e também a irregularidades em contratos da Petrobrás

 

 

Escrita de próprio punho na cadeia, em Curitiba, e posteriormente entregue a seus advogados para ser transformada em três páginas digitadas, a carta assinada pelo ex-ministro Antonio Palocci cita sete casos investigados pela Operação Lava Jato que têm entre os alvos os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O texto no qual o ex-ministro pede sua desfiliação do PT foi encaminhado à presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), anteontem, no dia em que o ex-ministro completou um ano preso.

De forma direta e indireta, o texto sugere ter havido corrupção nos casos do sítio de Atibaia, triplex do Guarujá (caso em que o ex-presidente foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão), apartamento de São Bernardo, terreno e doações financeiras ao Instituto Lula, doações ao partido e às campanhas e detalha a suposta cobrança explícita de propinas pelo ex-presidente nos negócios da Petrobrás no pré-sal.

A carta de Palocci foi uma resposta ao PT, que deu início ao processo de expulsão da legenda após ele ter incriminado Lula em depoimento à Justiça no dia 6 de setembro.

O texto foi escrito pelo próprio Palocci entre terça e quarta-feira, depois de o PT de Ribeirão Preto instaurar uma comis- são de ética para apurar a conduta do ex-ministro. Na cadeia, Palocci entregou o rascunho aos seus advogados, que passaram o fim de semana tentando decifrar a caligrafia tortuosa “de médico” do ex-ministro e, por fim, chegaram à versão final.

Uma das preocupações dos advogados era não revelar crimes que fazem parte das negociações que Palocci tem feito desde maio com o Ministério Público Federal com intuito de fechar acordo de delação premiada. Já são quase 50 anexos.

 

Tijolo. No PT, além do forte impacto causado pelo conteúdo, considerado mais um tijolo na parede que pode separar Lula da candidatura presidencial de 2018, a carta de Palocci provocou discussões internas sobre os erros cometidos no processo de punição ao ex-ministro. Alguns dirigentes criticaram a falta de coordenação entre as instâncias municipal, estadual e nacional. Alegam que não se poderia ter dado tempo e espaço para Palocci disparar contra Lula e o partido ao instaurar a comissão de ética e determinar a suspensão em vez de expulsar o ex-ministro sumariamente da legenda, apesar de o estatuto partidário ser dúbio em relação à medida extrema.

 

Manuscrito. Ex-ministro escreveu o texto na prisão e entregou aos advogados

 

Citações

Citações se referem a linhas de investigação tocadas pela Operação Lava Jato que estão em andamento em Curitiba ou já foram concluídas em primeira instância, como a que resultou na condenação de Lula.

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Ex-ministro é ‘refém’ de MPF e Lava Jato, diz ex-presidente

Marianna Holanda

28/09/2017

 

 

Antes da publicação da carta de Palocci, petista afirmou que ‘pessoas são obrigadas a dizer o que o MP quer que elas digam’

 

 

Pouco antes da divulgação de uma carta na qual Antonio Palocci pede sua desfiliação do PT e faz duras críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente disse anteontem que o ex-ministro era um “refém” da Operação Lava Jato e do Ministério Público Federal.

“Por falta de prova, por falta de responsabilidade no comportamento, perante à opinião pública, todo dia uma mentira, todo dia uma invenção e mantém uma série de reféns: ( Antonio) Palocci preso há um ano, Marcelo Odebrecht preso há três anos, Leo (Pinheiro) preso há não sei há quanto tempo”, disse o petista, em entrevista à Rádio Trianon, de São Paulo.

Palocci completou anteontem um ano preso em Curitiba. Seu pedido de desfiliação foi encaminhado à presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). No texto, ele criticou a sigla que ajudou a fundar e reafirmou declarações dadas ao juiz federal Sérgio Moro. “Somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”, questionou.

Ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, ele foi afastado pelo Diretório Nacional do partido no dia 22 por 60 dias. O motivo foi o depoimento prestado a Moro, no começo deste mês, em que relatou um “pacto de sangue” entre Lula e Emílio Odebrecht por propina.

“As pessoas são obrigadas a dizer o que o Ministério Público quer que elas digam, as pessoas vão sendo obrigadas a dizer o que os advogados dos delatores querem que digam. Ou seja, e vai aumentando a quantidade de mentira, uma atrás da outra e não tem saída”, afirmou Lula. A entrevista foi concedida a distância e transmitida ao vivo pela página do petista no Facebook.

Após chamá-lo de refém à tarde, no fim da noite a assessoria do ex-presidente disse que Palocci “voltou a dizer mentiras” contra Lula com objetivo de fechar uma colaboração.

Palocci foi um dos fundadores do PT e, até o momento, é o único envolvido em escândalos de corrupção da Lava Jato que enfrentou processo disciplinar na sigla.

As declarações de Lula à rádio foram em resposta a como ele teria reagido quanto ao aumento de quase dez anos da pena do ex-ministro José Dirceu pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

“Primeiro recebo com tristeza, em saber que o companheiro José Dirceu teve a pena aumentada e acho isso grave. Porque ele já pagou por qualquer crime que ele tenha cometido”, afirmou. Para Lula, não havia motivo para a decisão da Justiça. O ex-ministro foi condenado a mais de 30 anos por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Lula, porém, se disse esperançoso no caso do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que foi absolvido pelo mesmo tribunal anteontem. “Mas tem outros inquéritos no caso do Vaccari, certamente eles vão arrumar um pretexto qualquer para não liberar o Vaccari”, disse.

Para o ex-presidente, o País vive “época de anormalidade” e “anomalia muito séria”. Setores do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público, segundo ele, “fazem a condenação das pessoas mesmo sem provas, porque o que é mais grave em todo esse processo é que as pessoas não querem mais prova”.

 

Facebook. Entrevista concedida por Lula à rádio foi transmitida na página do ex-presidente

 

Delações

“As pessoas vão sendo obrigadas a dizer o que os advogados dos delatores querem que digam. Ou seja, e vai aumentando a quantidade de mentira, uma atrás da outra.”

Luiz Inácio Lula da Silva

EX-PRESIDENTE