O globo, n.30891 , 05/03/2018. PAÍS, p.4

Janot: de procurador a ‘embaixador’ da Lava-Jato

JAÍLTON DE CARVALHO

 

 

Morando na Colômbia, ex-PGR faz palestras e publica artigos no exterior

“Em todos os países da América Latina por onde viajamos sempre nos fazem a mesma pergunta: ‘Como podemos construir uma Lava-Jato?’”, conta o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, num artigo publicado simultaneamente em jornais do México, Colômbia, Venezuela, Costa Rica e El Salvador no mês passado. No mesmo texto o ex-procurador fornece a receita: Ministério Público independente, acordos de delação premiada, cooperação internacional e apoio da sociedade, entre outros itens.

Fora do comando do Ministério Público há quase seis meses, Janot passou a liderar um movimento para propagar a Lava-Jato pela América Latina, sobretudo nos países onde grandes empreiteiras brasileiras replicaram o modelo de corrupção adotado no Brasil.

O ex-procurador-geral tem usado sua experiência para escrever artigos, fazer palestras, dar aulas e conceder entrevistas para jornais e revistas, inclusive dos Estados Unidos e da Europa, interessados nos desdobramentos internacionais da Lava-Jato.

Desde janeiro, ele está morando em Bogotá, na Colômbia, onde ministra um curso sobre técnicas de combate à corrupção na Universidad de Los Andes. As classes terminam em maio, quando Janot volta ao Brasil para conduzir um curso sobre compliance na faculdade de Direito do Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB). Compliance é uma outra faceta da Lava-Jato. Depois de fisgadas nas investigações, as grandes empreiteiras decidiram fortalecer os setores de fiscalização interna.

As andanças do ex-procurador-geral começaram em 2017. Janot já fez palestras no Peru, Chile, Colômbia e EUA.

— Da mesma forma que empreiteiras brasileiras “exportaram” um modelo de corrupção, o Brasil agora exporta um modelo eficaz no combate à corrupção — afirma o ex-secretário de Cooperação Jurídica Internacional da Procuradoria-Geral Vladimir Aras.

Em linhas gerais, Janot fala sobre o que realizou à frente da Lava-Jato, em Brasília, e o que é possível fazer sobretudo em outros países onde as investigações estão ainda em desenvolvimento. Ele discorre sobre erros e acertos, mas põe foco na independência do Ministério Público. Para Janot, a autonomia dos procuradores no Brasil tem sido essencial para levar adiante investigações sobre autoridades. O que não acontece em outros países da região, onde os ministérios públicos sofrem interferência dos governos.

Em entrevista ao GLOBO, o ex-procurador disse que não se arrepende de nada e defende os acordos de delação celebrados com executivos da JBS, apesar de terem sido posteriormente rescindidos por sua sucessora na PGR, Raquel Dodge.

A partir dos acordos, Janot fez duas denúncias contra o presidente Michel Temer e chegou a pedir a prisão do senador Aécio Neves (PSDBMG), entre outros.

— O acordo da JBS se mostrou extremamente positivo. Conseguimos fazer prova contra um presidente da República em pleno exercício do cargo, contra um senador da República e contra um deputado federal. Essa colaboração (da JBS) foi muito rica — afirmou.

Janot já deixa claro que não será candidato a nada, nem a presidente da República. E afirmou que fará campanha para que os eleitores rejeitem candidatos que não tenham ficha limpa.