Título: Grécia tem nota rebaixada
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Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2012, Economia, p. 17
Mesmo após anúncio de ajuda externa, agência de classificação Fitch atribui ao país conceito C, um nível apenas acima do risco de calote
No dia seguinte ao em que a Grécia recebeu a liberação do Eurogrupo para o novo pacote de ajuda, de 130 bilhões de euros, a agência de classificação de risco Fitch cortou a nota de longo prazo atribuída ao país de CCC para C, a menor acima da categoria calote. Embora tenha atingido uma troca de títulos acordada com os credores, na prática, o país continuará sendo designado como quebrado.
Os títulos gregos, que serão emitidos como parte da troca de dívida, também receberão um rating — nota que dá uma estimativa para os investidores da capacidade de um credor pagar seu débito. "Isso resultará em um rating baixo e especulativo", advertiu o analista da Fitch Paul Rawkins após a reavaliação, notando que a nota influenciará as perspectivas econômicas do país e o novo perfil de dívida.
Na Europa, mesmo depois da aprovação do pacote de socorro aos gregos, as principais praças derreteram: em Frankfurt, a queda foi de 0,93%; Madri registrou recuo de 1,26%; Paris tombou 0,52%; e Londres caiu 0,20%. Do outro lado do Atlântico, em Nova York, a bolsa fechou em baixa de 0,21%.
Deficit O governo grego anunciou ontem que revisou para cima o deficit público previsto para 2012, de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) para 6,7%. "Devido a uma recessão mais profunda em 2011, são previstas diferenças em relação às revisões iniciais e aos resultados de 2011, e, por isso, é preciso revisar os dados de 2012, segundo os objetivos previstos em função da lei de saneamento das finanças públicas", diz a justificativa de um projeto de lei divulgado ontem e que detalha as medidas de austeridade impostas à Grécia pelo novo plano de ajuda europeu.
O parlamento deve adotar essa lei nos próximos dias, em um procedimento de urgência, segundo uma fonte do ministério grego de Finanças. O orçamento de 2012, aprovado em outubro do ano passado, projetava um deficit público de 5,4%, com um superávit fiscal primário (reservado para pagar os juros da dívida), de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Contudo, agora se sabe que não haverá nenhum superavit primário até 2013, conforme informou na terça-feira o ministro de Finanças, Evangelos Venizelos.
A nova projeção se anuncia após a aprovação parlamentar de 12 de fevereiro de uma lei que avaliou um programa de cortes de 3,2 bilhões de euros, reclamado pelos credores da Grécia para salvar o país da quebra. A Grécia entrou em seu quinto ano de recessão. A contração do PIB grego em 2011 devia ser de 5,5%, mas as últimas estimativas são de que chegou a 6%.
Para exigir o fim dos cortes oferecidos como contrapartida do pacote de 130 bilhões de euros liberado para o país, os gregos saíram novamente às ruas ontem. Foi pequena, no entanto, a participação popular nas manifestações convocadas pela Confederação Geral de Trabalhadores (GSEE) e a Federação de Funcionários públicos (Adedy). Sob uma intensa chuva, cerca de 5 mil manifestantes convocados pelo sindicato pró-comunista Pame saíram à Praça Omonia e se somaram ao pequeno cortejo de umas 700 pessoas reunidas na Praça Sintagma pela GSEE), do setor privado, e a Adedy, do público.
A mobilização aconteceu em um ambiente tranquilo, mas a situação social continua muito tensa no país. A última grande manifestação, realizada em 12 de fevereiro, levou às ruas 100 mil gregos, sendo 80 mil deles em Atenas, após a aprovação pelo parlamento do novo programa de austeridade. "Todos juntos podemos barrar os novos cortes das aposentadorias", defenderam os sindicatos ontem.
Portugal à frente País que mais desperta a preocupação dos investidores depois da Grécia, Portugal atingiu 60% das privatizações exigidas pelo plano de resgate de 78 bilhões de euros. A velocidade do processo de privatizações português contrasta com a da Grécia, que encontra dificuldades para atrair compradores para seus ativos dentro do plano de resgate. A parcela da meta foi atingida ontem, por meio da venda da participação estatal de 40% na empresa de energia REN à chinesa State Grid e à Omã Oil, por 592 milhões de euros. Em dezembro, o governo já havia vendido cerca de 21% da Energias de Portugal (EDP) para a também chinesa Three Gorges, por 2,7 bilhões de euros.