O globo, n.30851 , 24/10/2018. PAÍS, p. 7

Ex-secretário de Paes volta a ser preso na Lava-Jato

JULIANA CASTRO

 

 

Alexandre Pinto é acusado de receber propina e ocultar dinheiro em conta no exterior

O ex-secretário municipal de Obras do Rio Alexandre Pinto voltou para a prisão ontem, durante a deflagração da Operação Mãos à Obra, que investiga irregularidades em obras da prefeitura do Rio. Ex-secretário na gestão Eduardo Paes, Pinto já havia sido detido em agosto do ano passado, na Operação Rio 40 Graus, mas foi solto em novembro por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A operação de ontem foi baseada na delação do empresário Celso Reinaldo Ramos Júnior, que fornecia material para empreiteiras que tinham contratos com a pasta de Obras. Depois, ele se tornou operador do ex-secretário. Ramos relatou que Alexandre Pinto, com o auxilio do então subsecretário de Obras Vagner de Castro Pereira, também preso ontem, recebeu propina nos contratos de fornecimento de material para as seguintes obras: restauração da linha Vermelha (2010); programa Asfalto Liso (2010 a 2012); Transoeste (2012 a 2013); entorno do Maracanã (não informado) e Transcarioca (2012 a 2013). A recomendação dos produtos dessas empresas para as empreiteiras que ganhavam as licitações ensejou a cobrança de vantagem indevida por parte do ex-secretário, mesmo que os contratos não fossem feitos diretamente pela prefeitura. Ramos relatou que houve entrega de propina até mesmo na sede da prefeitura do Rio.

— Há uma série de crimes de corrupção passiva praticados pelo senhor Alexandre Pinto que resultaram no pagamento de propina superior a R$ 6 milhões já revelados — afirmou o procurador Rafael Barreto.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), desses R$ 6 milhões de propina, o exsecretário ocultou R$ 1,4 milhão em uma conta no exterior. Pinto usou dinheiro da propina guardado fora do país para bancar gastos em lojas de grife durante uma viagem com a mulher a Nova York em outubro de 2015, segundo apontou o delator. Ramos entregou ao MPF fatura que demonstra gastos de US$ 7.750,44 em lojas como Gucci, Chanel, Michael Kors e Lacoste. As despesas ocorreram entre 27 e 31 de outubro de 2015.

 

OUTRO EX-SECRETÁRIO DEPÕE

Com a informação do delator, o MPF confirmou que Alexandre Pinto e a mulher estavam no exterior nesse período. Além disso, o sinal de celular emitido pelo aparelho da mulher do ex-secretário coincide com os locais das compras.

Os procuradores narram que os recursos foram remetidos para a conta no exterior aos poucos por meio de operações dólar-cabo, realizadas pelo doleiro Juan Bertran, também preso. O MPF relata que Alexandre Pinto entregava no Brasil o dinheiro de propina ao doleiro, que creditava o valor em dólar na conta em Mônaco. Na casa de Bertran, foram apreendidos dois revólveres. Ele não tinha porte de armas.

Um dos alvos dos pedidos de busca e apreensão ontem foi o prédio da Secretaria municipal de Conservação, na Cidade Nova, região central da capital. Também secretário da gestão Paes, Marcus Belchior (Conservação) recebeu R$ 250 mil em propina por obras durante sua gestão, segundo o MPF. Ele foi chamado para depor.

O MPF não cita o ex-prefeito Eduardo Paes nos pedidos da operação. Procurada, a defesa de Pinto não retornou o contato da reportagem. O GLOBO não localizou as defesas dos demais acusados.