O Estado de São Paulo, n. 45258, 15/09/2017. Política, p. A10.

 

Ciro: Lula ‘insulta inteligência do povo’

Fábio Grellet

15/09/2017

 

 

Ex-ministro no governo do petista afirma que ex-presidente não pode manter a ‘narrativa’ de que é vítima de uma perseguição política

 

 

Ministro durante o governo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atual pré-candidato à Presidência da República em 2018 pelo PDT, Ciro Gomes fez ontem duras críticas ao seu antigo aliado. “Não é possível insultar a inteligência do povo brasileiro e manter essa mesma narrativa (de perseguição política)”. Segundo ele, a narrativa de Lula fez com que a população perdesse a confiança nos partidos de esquerda. “Eu não falo isso sem dor no coração”, lamentou.

Ciro lembrou que o ex-presidente passa por um período de dificuldades e que não pretende tomar a iniciativa de agravar ainda mais a situação. Porém, deixou claro que o posicionamento do Partido dos Trabalhadores de apoiar a candidatura de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para a presidência do Senado enfraquece os argumento de que houve um golpe de Estado no País, que culminou no impeachment da ex-presidente da República Dilma Rousseff. O senador cearense foi um parlamentares que votaram a favor do impeachment.

“Nós estamos ferindo de morte a narrativa central de que ainda dava a nós alguma respeitabilidade na opinião pública progressista brasileira, que é a ideia de que o Brasil está sob um golpe de Estado. Como é que eu posso então assistir na semana passada o Lula abraçado com (ex-presidente do Senado) Renan Calheiros (PMDB-AL), que era senador e votou pelo impeachment?”, afirmou o pedetista, que participou ontem de um evento no Rio.

Ciro Gomes também criticou a postura do PT na eleição para governador do Amazonas, quando apoiou a candidatura do senador Eduardo Braga, do PMDB.

Ciro tem se colocado como pré-candidato à presidência em 2018. Em entrevistas recentes, afirmou que só se candidataria se Lula não estivesse na disputa. Ontem, Ciro reafirmou sua intenção em concorrer e disse acreditar que a presença do expresidente comprometeria o debate político.

Para Ciro Gomes, o Brasil precisa passar um amplo debate da atual crise política para que se possa construir novos caminhos e superá-la. A entrada de Lula na disputa, acredita, tornaria o debate “passional”. “O ambiente de ódios e paixões tira qualquer chance de o País ter um minuto de discussão sóbria do seu futuro”, afirmou

Sobre a nova denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) encaminhada ontem pela Procuradoria Geral da República, o pedetista disse acreditar que ela terá o mesmo resultado da primeira: a Câmara não vai autorizar a abertura do processo. “Nós estamos com um problema grave, de que a maioria orgânica da Câmara brasileira é parte da quadrilha, um conjunto ramificado e quadrilheiro”, afirmou.

O pedetista acredita que a repulsa popular a essas práticas já está diminuindo o apoio a Temer. “(Os deputados) Vão cobrar (pelo apoio) vai ser outra rodada pesada e eles (o governo) vão bancar”.

 

Antigo aliado. Ciro Gomes (PDT) foi ministro do governo petista e é pré-candidato à Presidência em 2018

 

’Golpe de Estado’

“Nós estamos ferindo de morte a narrativa central de que ainda dava a nós alguma respeitabilidade na opinião pública progressista brasileira (...). Como é que eu posso então assistir o Lula abraçado com Renan Calheiros, que era senador e votou pelo impeachment?”

Ciro Gomes (PDT)

EX-GOVERNADOR DO CEARÁ

 

Apoio

Lula enviou uma mensagem à deputada federal Clarissa Garotinho (PRB-RJ) em solidariedade pela prisão de seu pai, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, anteontem.