O Estado de São Paulo, n. 45250, 07/09/2017. Política, p. A5.

 

‘Ex-presidente manteve esquema após pré-sal’

Fausto Macedo Julia Affonso Ricardo Brandt Luiz Vassallo

07/09/2017

 

 

Palocci relata conversa com Lula sobre corrupção na Petrobrás, mas afirma que descoberta de reservas petrolíferas impediu ‘providências’

 

 

Interrogado ontem pelo juiz Sérgio Moro, o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que, em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula o questionou sobre corrupção na Petrobrás, mas que, por causa do pré-sal, “as coisas continuaram do jeito que eram”.

Palocci disse que, quando o petista foi reeleito, ele foi chamado para uma reunião no Palácio da Alvorada. “Ele (Lula) falou: ‘Eu soube que na área de Abastecimento e de Serviços está havendo muita corrupção. É verdade?’ Eu falei: ‘É verdade. É aquilo que foi destinado para os diretores operarem, para o PT num cargo, para o PP no outro’. Ele perguntou: Você acha que isso tá adequado?’ Eu disse: ‘Não, está muito exagerado’”, relatou o ex-ministro.

De acordo com Palocci, o então presidente, na ocasião, estava pensando em “tomar providências” sobre o esquema na Petrobrás. “(Lula) não estava gostando, porque a coisa estava repercutindo de forma muito negativa”, disse. “Mas logo depois veio o pré-sal, que pôs o governo numa atitude frenética em relação à Petrobrás. E esses assuntos de ilícitos e diretores ficaram pra terceiro plano. E as coisas continuaram correndo do jeito que eram”, declarou.

O loteamento de diretorias da Petrobrás apontado nas investigações também foi confirmado pelo ex-ministro. “Essas diretorias, elas foram nomeadas e, ao longo do tempo, se desenvolveu, na Diretoria de Serviços, o PT, na Diretoria Internacional, o PMDB, e, na Diretoria de Abastecimento, o PP, uma relação de intenso financiamento partidário, de políticos, pessoas, empresas, né? Foi um ilícito crescente na Petrobrás.”

Palocci mencionou ainda reunião com Lula na qual o então presidente pediu “contribuição” oriunda de contratos do pré-sal para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010, à Presidência. Segundo ele, Lula “encomendou” ao então presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, que, “através das sondas, pagasse a campanha da presidente Dilma em 2010 pedindo, obviamente, às empresas os valores que seriam destinados à campanha”. Palocci disse, porém, que Gabrielli “deixou claro que não ia viabilizar contribuição de campanha nesse projeto”.

 

‘Repercussão negativa’

“(Lula) não estava gostando, porque a coisa (corrupção na Petrobrás) estava repercutindo de forma muito negativa. Mas logo depois veio o pré-sal (...) e esses assuntos ficaram pra terceiro plano.”

Antonio Palocci

EX-MINISTRO

 

NA MIRA

 

Já condenado, petista ainda é alvo de ações

 

- Operação Janus

Em outubro de 2016, Lula se tornou réu por corrupção, lavagem, organização criminosa e tráfico de influência sob acusação de atuar no BNDES por interesses da Odebrecht em projetos na Angola.

 

- Operação Zelotes

Em ação aberta em dezembro de 2016, Lula é acusado de receber R$ 2,5 milhões de lobistas em caso relativo à prorrogação de incentivos fiscais a montadoras de veículos e à compra de caças suecos.

 

- ‘Quadrilhão’

Oferecida anteontem, a denúncia da PGR atribui aos ex-presidentes Lula e Dilma, além de cinco ex-ministros do PT, o crime de formação de organização criminosa para atuar no esquema de corrupção na Petrobrás entre 2002 e 2016.

 

- Obstrução da Justiça

Em denúncia apresentada ontem, a PGR afirma que a presidente cassada Dilma Rousseff e o ex-ministro Aloizio Mercadante, além de Lula, atuaram para obstruir os trabalhos da Operação Lava Jato. Cerveró

Lula ainda é acusado de participar de uma trama para tentar comprar o silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, que fez delação. A ação foi aberta em julho de 2016, em Brasília. Em 1º de setembro, o MPF pediu a absolvição de Lula neste caso, por falta de provas.

 

- Terreno

Em dezembro de 2016, Lula tornou-se réu sob acusação de que o petista recebeu propina da Odebrecht por meio de um terreno em São Paulo que seria usado para a instalação do Instituto Lula e de um apartamento vizinho à residência do ex-presidente, em São Bernardo do Campo (SP).

 

- Condenação

Em julho, Lula foi condenado por Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. A defesa recorre à segunda instância.