Título: De aliados a concorrentes
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2012, Cidades, p. 37
Aprovação da Lei da Ficha Limpa abre novo cenário na corrida eleitoral para governador do Distrito Federal em 2014. Agnelo Queiroz, em busca da reeleição, pode ter como adversários candidatos vindos da própria baseNotíciaGráfico
Com nomes da oposição abalados pela Operação Caixa de Pandora ou abatidos pela Lei da Ficha Limpa, o governador Agnelo Queiroz (PT) vê crescer potenciais adversários para as próximas eleições na própria aliança que o levou ao Palácio do Buriti em 2010. Candidatos considerados competitivos como Joaquim Roriz (PSC) e José Roberto Arruda (sem partido) dificilmente estarão na corrida ao governo em 2014. Mas na disputa pelo poder não há espaço vazio. Um eventual insucesso da administração petista pode resultar na proliferação de candidaturas surgidas na base aliada, a começar pelo número dois do Executivo, Tadeu Filippelli (PMDB). Os dois senadores eleitos na chapa de Agnelo, Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), são apontados como potenciais concorrentes (leia quadro).
Presidente do PMDB-DF, o vice-governador Filippelli é um curinga. O principal parceiro do PT, o PMDB, tem sido cortejado pelo grupo político que esteve no comando na administração de Arruda e de Paulo Octávio, mas hoje está alijado do poder. Ambos estão afastados na cena pública desde os escândalos da Pandora, mas ainda exercem uma liderança que pode fazer a diferença em 2014.
Uma parceria com Filippelli não seria uma surpresa. Os três têm afinidades. Estiveram juntos ao lado de Joaquim Roriz nos quatro mandatos dele no Palácio do Buriti. Fizeram campanha separados quando os interesses eram conflitantes, mas têm caminho aberto para o diálogo. Antes da Pandora, Filippelli trabalhava para ser o vice de Arruda. Agora, pode liderar uma frente que o represente.
Conflitos Os cenários mudam em decorrência dos fatos, unindo e afastando aliados. Foi o que ocorreu com Filippelli e Roriz. Mas o pragmatismo político pode fazê-los darem as mãos. Assim como políticos voltam às pazes, Agnelo e Cristovam têm chance de romper. Os dois realizaram campanhas de braços dados, no primeiro e no segundo turno, quando o pedetista já estava eleito.
Ainda na fase de transição, no entanto, começaram os conflitos. Cristovam declarou ter se sentido traído por não ter participado da escolha do titular da Secretaria de Educação, sua principal área de atuação. Ele se tornou um crítico e o afastamento foi se tornado maior à medida que Agnelo enfrentou crises no ano passado, provocadas por investigações relacionadas à passagem dele como ministro do Esporte e diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Justamente pelos desgastes de Agnelo, Cristovam passou a ser incentivado por diferentes políticos a trabalhar para se viabilizar como candidato a novo mandato de governador. Ele sempre rejeitou essa possibilidade, mas, segundo pessoas próximas, as coisas mudaram. "Ele pensa na hipótese de verdade", contou ao Correio um secretário importante da gestão de Cristovam, entre 1995 e 1998. Um dos fiéis escudeiros de Cristovam naquela época que exerce a mesma função agora no governo de Agnelo, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) não acredita nesse projeto. "Cristovam sabe que não conseguiria se eleger sem o PT e a militância do partido", aposta o petista.
Cristovam confirma que tem um vínculo grande com a chamada "nação petista", eleitores que sempre votaram nos candidatos do PT, mas não dependem do partido. "É uma relação afetiva. Não consigo me ver fazendo campanha contra o PT do Distrito Federal, mas muita gente, até do próprio partido, que ainda tem sonhos, me procura e me incentiva a concorrer novamente. Mas eu continuo considerando como meta de vida a revolução na educação do país", afirmou o senador do PDT.
O sucesso da candidatura de Cristovam ao governo exigiria aliança com antigos parceiros, como Rollemberg, que também está de olho no Palácio do Buriti. Para ter chance de derrotar um candidato do PT, Cristovam também precisaria ter ao seu lado Toninho do PSol, que se projetou na última campanha, e a ex-deputada Maria José Maninha. Mas o clima ainda não é de união. Cristovam e Rollemberg andaram se estranhando. O pedetista tem criticado a proximidade de Rollemberg em relação à administração de Agnelo. "Ele está perdendo o timing. Quando sair candidato, estará ainda muito vinculado a esse governo", avalia Cristovam.
PDT e PSB têm cargos na administração petista e os distritais das legendas, Professor Israel (PDT) e Joe Valle (PSB), são da base aliada. Em entrevista ao Correio, no ano passado, Agnelo comentou a possibilidade de Rollemberg tornar-se um adversário na eleição. "As aspirações são legítimas no mundo político. O importante é ter lealdade, mesmo quando as opções são divergentes", afirmou em outubro, durante viagem a Zurique, na Suíça. Agnelo ainda deixou claro que aposta na manutenção da parceria com o PSB, mas deu um recado: "Se ele (Rollemberg) tiver um entendimento diferente disso, tem todo o direito. Mas precisa saber que para isso precisa construir um caminho fora do nosso governo".
Rollemberg também tem sido encorajado por pessoas próximas a se preparar para a disputa. Ele, inclusive, elegeu 2012 como o ano em que vai se concentrar nos assuntos do DF. Sobre a candidatura, o senador do PSB afirma que ainda é cedo para tratar do assunto. "É claro que com um fraco desempenho do governo aumentam as expectativas em relação a quem pode ser candidato. Aí, surgem o meu nome, o do Cristovam, o do Reguffe. Mas é absolutamente cedo para tratar de 2014." Sobre a participação do PSB na atual administração, ele sustenta que essa é uma decisão do partido.
Toninho do PSol ganhou força política no último pleito ao ficar em terceiro na corrida eleitoral. Ele antecipa que o seu nome está colocado na disputa ao Buriti em 2014. "Tenho um patrimônio de 14,5% dos votos e vou trabalhar para ganhar. Não descarto, no entanto, as coligações com os iguais", afirmou, ao dizer que aceitará composições com partidos de esquerda e cujos intergrantes tenham a ficha limpa.
Prévias Agnelo pode enfrentar adversários dentro do próprio partido. Nome mais lembrado para uma eventual disputa em prévias, o deputado federal Geraldo Magela tem afirmado que não está disposto a isso. O raciocínio é o de que um candidato do PT que derrote Agnelo internamente sairá fragilizado para a campanha de 2014, com resistências internas e um discurso frágil. O tema principal de prévias seriam inevitavelmente a gestão de Agnelo e a do PT, críticas internas a serem exploradas pela oposição no decorrer de uma campanha eleitoral disputada.
No PT, no entanto, nada é definido sem disputa. Cristovam Buarque, mesmo com alta popularidade como governador, teve de se submeter a prévias no PT em 1998. Ele concorreu com o então senador Lauro Campos. No Rio Grande do Sul, em 2002, houve um episódio emblemático. O então governador, Olívio Dutra, foi derrotado nas prévias pelo prefeito de Porto Alegre à época, Tarso Genro. Ele deixou o mandato para concorrer, mas perdeu para Germano Rigotto (PMDB).
Dificuldade No último encontro, o PT tornou mais rigorosas as regras para candidaturas em prévias. Quem se colocar na disputa precisará de apoio interno considerável para levar a decisão para eleições internas.
Colaborou Lilian Tahan
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