O Estado de São Paulo, n. 45244, 01/09/2017. Economia, p.B12

 

 

BNDES e família Batista travam disputa na Justiça antes de assembleia da JBS

Acionistas da companhia, BNDES e Caixa conseguiram ontem liminar para impedir que controladores do grupo votem em reunião, marcada para hoje, que vai discutir a saída de Wesley Batista do comando da empresa; holding J&F vai recorrer da decisão

Por: Mônica Scaramuzzo

Mônica Scaramuzzo, O Estado de S.Paulo

01 Setembro 2017 | 05h00

 

O braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar) e a Caixa Econômica Federal, acionistas da JBS (controlada pela holding J&F, da família Batista), conseguiram ontem na Justiça Federal de São Paulo liminar para impedir que os controladores da companhia votem hoje na assembleia geral extraordinária. A reunião, marcada para as 10h, vai discutir, entre outras questões, a saída de Wesley Batista do comando da empresa de alimentos. A J&F vai recorrer da decisão, apurou o ‘Estado’.

Em entrevista ao Estado, Ricardo Lacerda, presidente da BR Partners, banco de investimento contratado pela J&F para mediar as negociações entre a família Batista e o BNDESPar, disse que os controladores tentaram um acordo amigável com o banco de fomento, mas que, agora, o assunto será discutido na Justiça. “O BNDES deveria ter aceito o pedido de adiamento da assembleia feito na segunda-feira”, afirmou o banqueiro.

A família Batista detém 42,1% da JBS, por meio da FB Participações, e o BNDESPar, segundo maior sócio, possui 21,3% da empresa. A Caixa tem cerca de 5%. “Ao entrar na Justiça, o BNDES vai ter de responder por seus atos”, disse Lacerda. “O BNDES está usando Brasília para prejudicar os interesses da companhia.”

As delações dos irmãos Batista à Procuradoria Geral da República envolveram o presidente da República, Michel Temer. O BR Partners assessorou o grupo francês Casino, dono do Grupo Pão de Açúcar, na disputa societária com Abilio Diniz.

A família assinou um acordo de leniência com o Ministério Público Federal e se comprometeu a pagar multa de R$ 10,3 bilhões. Procurada, a JBS não comenta. Já a J&F informou, por meio de nota, que “não tem conhecimento do teor da decisão. Tão logo a empresa seja intimada, irá analisar e tomará as medidas legais cabíveis.”

 

Embate. No dia 14 de agosto, o BNDES declarou a intenção de votar pela saída de Wesley Batista por entender que o empresário pode prejudicar os interesses da companhia. Na segunda-feira, a JBS informou ao mercado que os representantes do conselho da companhia haviam decidido pela permanência de Wesley no comando da JBS. Foram sete votos a favor e dois contra. Apenas Maurício Luchetti e Claudia de Azeredo Santos, representantes do BNDES no conselho, foram contrários. Os demais acionistas argumentam que Wesley, que tem mandato até 2019, é considerado peça importante nas renegociações de dívidas da empresa.

Na terça-feira, a CVM tinha decidido pela permanência dos representantes da família na assembleia por entender que não havia conflito de interesse. Se não conseguir derrubar a liminar na Justiça até o início da reunião, Wesley deverá deixar o comando do grupo. Seu irmão, Joesley Batista, que era presidente da holding J&F, renunciou ao posto e também saiu do conselho.

A família está em negociações para a venda da Eldorado (papel e celulose) para a asiática APP. A Moy Park, negócio de carnes processadas da Irlanda, está em processo de venda e atraiu interesse de diversos grupos estrangeiros. O ativo de energia Âmbar está sendo negociado para a gestora canadense Brookfield. A gestora não comentou o assunto.

“O BNDES deveria ter aceito o pedido de adiamento da assembleia. Ao entrar na Justiça, o banco vai ter de responder por seus atos. O BNDES está usando Brasília para prejudicar os interesses da companhia.”