Correio braziliense, n. 19856, 03/10/2017. Política, p. 3.

 

Expectativa pelos depoimentos na CPMI

Guilherme Mendes e Paulo de Tarso Lyra

03/10/2017

 

 

A CPMI da JBS, criada pela base governista para constranger os executivos da J&F e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, terá nesta semana o primeiro grande depoimento com a oitiva do procurador do Ministério Público Federal (MPF) Ângelo Goulart. Ele chegou a ser preso na Operação Greenfield, acusado de ter vendido informações sigilosas sobre investigações relacionadas à JBS, mas foi liberado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no início de agosto.

Em entrevista, Ângelo Goulart declarou que a ambição de Janot era barrar a nomeação de sua sucessora, a atual procuradora-geral Raquel Dodge, e derrubar o presidente da República, Michel Temer, “a qualquer custo” — para isso, teria usado a delação da JBS e dos irmãos Batista como pretexto.

Desde que as declarações foram dadas, a ação do MPF tem ficado sob a suspeita de parlamentares e servido como um sólido ponto na defesa do presidente Temer na denúncia contra ele, em tramitação na Câmara. O desafeto entre Goulart e Janot, agora público, deverá ser um dos focos principais da oitiva na CPMI. “A comissão está ainda no início, mas a oitiva de Goulart poderá servir para termos um parâmetro de como atua o Ministério Público nas investigações e nos acordos de delação”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

 

Requerimentos

A comissão de deputados e senadores deve votar hoje novos requerimentos para que mais pessoas sejam ouvidas —dois desses pedidos são para ouvir a advogada de Joesley Batista, Fernanda Tórtima. Ela participou diretamente do fechamento do acordo de delação premiada dos executivos da J&F com o Ministério Público Federal e aparece em pelo menos dois pontos nevrálgicos da história.

O primeiro deles é que ela foi uma das responsáveis por convencer o ex-procurador Marcelo Miller a deixar o Ministério Público Federal para ingressar no escritório Trench Watanabe Associados, responsável pelo acordo de delação dos executivos.

Além disso, Tórtima foi flagrada almoçando com o procurador Sidney Madruga. No encontro, Madruga levantava a hipótese de se investigar Eduardo Pellela, ex-chefe de gabinete de Janot, para averiguar se ele saberia dos movimentos suspeitos de Miller. Após o vazamento do almoço, Madruga acabou exonerado do grupo mais próximo da atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

A CPMI da JBS tem sua primeira sessão na manhã de hoje, com oitivas do advogado dos acionistas da empresa Márcio Lobo, além do ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho. Amanhã será a vez do depoimento de Willer Tomaz de Souza, ex-advogado do grupo J&F que foi preso na operação Patmos da Polícia Federal em maio. Até o fim deste mês, será ouvido o ex-diretor Ricardo Saud.

Na opinião do relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), as oitivas envolvendo nomes como o do procurador-geral da República Rodrigo Janot, do ex-procurador Marcelo Miller e do dono da J&F, Joesley Batista, devem ocorrer apenas no mês que vem.