Correio braziliense, n. 19856, 03/10/2017. Política, p. 4.

 

Moro vê Lava-Jato no "fim" em Curitiba

03/10/2017

 

 

PODER EM CRISE » Juiz responsável pelos casos de réus sem foro privilegiado afirma que julgar grandes traficantes de drogas "dá menos trabalho" do que os investigados por desvios no petrolão

 

 

O juiz federal Sérgio Moro disse ontem, em São Paulo, durante almoço em que foi homenageado pela universidade americana Notre Dame com a mesma láurea já concedida à madre Teresa de Calcutá, que julgar grandes traficantes de drogas “dá menos trabalho” do que os réus da Operação Lava-Jato — empreiteiros e políticos poderosos, condenados por corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. “Eu até falei brincando outro dia que a gente estava ‘doido’ para voltar a julgar grandes traficantes de drogas. Dá menos trabalho.”

Moro afirmou ainda que em Curitiba, base e origem da grande investigação, a Lava-Jato “está indo para o final”. Sob sua alçada estão os réus sem foro privilegiado. O juiz admitiu que está “cansado” de conduzir tantas ações do petrolão na 13ª Vara Federal de Curitiba, sob sua titularidade. Mas afirmou que não pretende parar. “É verdade que estou cansado. Tem sido um trabalho duro, mas não há nenhuma previsão concreta de eu deixar a 13ª Vara.”

“Em Curitiba, a investigação sempre foi sobre os contratos da Petrobras que geraram valores e as pessoas que pagavam (propinas). Grande parte já foi processada. As que recebiam e não tinham foro privilegiado, igualmente. Daí a minha afirmação de que acredito que está indo para o final em Curitiba.”

 

Premiação

Moro é o magistrado-símbolo da Operação Lava-Jato. Há mais de três anos e meio, o juiz da 13ª Vara Federal, de Curitiba, autoriza os avanços da maior investigação contra a corrupção já aberta no país. A Universidade Notre Dame definiu Sérgio Moro como alguém “comprometido em nada mais que a preservação da integridade de sua nação através de sua aplicação firme e imparcial da lei”.

“Ao abordar os problemas perniciosos da corrupção pública de forma judiciosa, porém diligente, o Dr. Moro fez uma acentuada diferença para todos os brasileiros, e para a humanidade em geral, no que se refere a nossa sede universal de Justiça. A Universidade também reconhece e elogia o serviço público do Dr. Moro como o ‘juiz dos velhinhos’, cujas decisões refletiram empatia e compreensão aos idosos”, afirma a Notre Dame. Além de madre Teresa de Calcutá, já foram premiados os humanitários Jimmy e Rosalyn Carter, dos Estados Unidos, o historiador e ativista Andrea Riccardi, da Itália, e o membro parlamentar Helen Suzman, da África do Sul.

“Os homenageados previamente com o Prêmio Notre Dame, cada um à sua maneira, atuaram como pilares de consciência e integridade, suas ações beneficiando seus compatriotas e, através de seus exemplos, o mundo inteiro, quando se comprometeram com a fé, a justiça, a paz, a verdade e a solidariedade com os mais vulneráveis”, informa a universidade.

 

Sobre Lula

Sérgio Moro também disse que “não é da sua responsabilidade” o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva eventualmente poder se candidatar à Presidência em 2018. Moro condenou Lula a uma pena de nove anos e seis meses de prisão no caso tríplex, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro supostamente recebido da empreiteira OAS. Nas mãos do juiz da Lava-Jato, estão em curso, ainda, outras duas ações penais contra o petista, que nega os ilícitos.