O globo, n.30766 , 31/10/2017. País, p.4

Investimento cai em estados onde a violência aumenta

CHICO PRADO

JULIANA ARREGUY

 

 

Gasto público em segurança teve queda de 14,2%, entre 2015 e 2016

O investimento per capita em segurança pública caiu em 10 dos 17 estados onde o número de mortes violentas cresceu entre 2015 e 2016, segundo dados do 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado ontem. Somando-se os gastos de todos os estados e da União, a despesa do poder público, dividida pelo número de habitantes, caiu 14,2% no período: de R$ 407,95 para R$ 349,99.

No Amapá, por exemplo, o número de mortes violentas aumentou 52,1%, enquanto a despesa com segurança pública do governo estadual, dividida pelo número de habitantes, despencou de R$ 660,35 para R$ 529,21. Procurado para comentar os dados, o governo do Amapá não respondeu.

No Rio de Janeiro, o número de mortes subiu 24,3%, enquanto o gasto recuou de R$ 570,99 para R$ 550,60 por habitante. Sem citar os dados levantados pelo fórum, a Secretaria de Segurança Pública do Rio afirmou que implementou “medidas estruturantes” para monitorar a criminalidade.

Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, além da crise econômica, a destinação não obrigatória de recursos, determinada em lei, contribui para que governos estaduais não priorizem o setor.

— A crise econômica, de fato, se colocou, e segurança pública é uma área que não tem destinação de verbas vinculadas. Então, é onde dá para cortar. Você tem na saúde e na educação percentuais mínimos de investimento e na segurança, não. Com o crescimento de déficit público e endividamento, é de onde vai sair o (corte do) dinheiro.

Outros estados onde o número de mortes violentas intencionais subiu ao mesmo tempo que os investimentos caíram foram Alagoas, Pará, Pernambuco, Santa Catarina, Acre, Rio Grande do Sul, Sergipe e Rondônia.

Aumentar investimento também não foi suficiente para reduzir a violência. Em sete estados (Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Bahia) a quantidade de mortes violentas intencionais subiu, apesar de o investimento também ter sido turbinado. Na Bahia, o estado investia R$ 265,89 per capita, em 2015, e passou a destinar R$ 271,42, no ano passado. Ainda assim, o índice de mortes cresceu 12,8%. O governo do estado disse que não teria tempo hábil para responder aos questionamentos.

 

CRIMES CONTRA MULHERES

Na publicação de ontem, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública também revelou dados sobre crimes contra mulheres. Em 2016, a cada duas horas, uma mulher foi assassinada no Brasil. Ao todo, foram 4.657 vítimas. Desses, 533 foram enquadrados como feminicídio, ou seja, quando a mulher é morta em decorrência do gênero.

O número de estupros aumentou 3,5% no país entre 2015 e 2016 e chegou a 49.497 ocorrências em 2016, segundo o anuário. Em números absolutos, São Paulo é o estado com maior número de casos: foram 10.055 em 2016 — uma média de 1,14 estupro por hora. A variação foi de 7%.

No Rio, foram 4.308 casos (25,9% mais do que em 2015).