O Estado de São Paulo, n. 45272, 29/09/2017. Política, p.A7

 

 

 

Filhos de Jucá são alvo de operação da PF

Investigação em Roraima apura desvio de R$ 32 mi no programa Minha Casa Minha Vida

Por: Andreza Matais / Julia Affonso / Fausto Macedo

 

Andreza Matais

Julia Affonso

Fausto Macedo

 

Dois filhos e duas enteadas do senador e líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), foram alvos, ontem, de uma operação da Polícia Federal em Roraima. A investigação apura indícios de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro.

A Polícia Federal cumpriu mandados judiciais de busca e apreensão em endereços de Rodrigo e Marina Jucá, filhos do senador; e Luciana e Ana Paula Surita Macedo, filhas da prefeita de Boa Vista Teresa Surita (PMDB), ex-mulher de Jucá. Rodrigo e Marina foram indiciados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A operação batizada de Anel de Giges cumpriu mandados emitidas pela Justiça de Roraima em Boa Vista (RR), Brasília, e Belo Horizonte. Jucá disse que nem ele nem sua família temem investigações .

Na ação, a PF prendeu em flagrante por posse ilegal de armas o marido de Luciana Surita Macedo, Frederico Macedo. Durante buscas na casa de Luciana, a polícia encontrou um fuzil 762 e uma pistola, além de munições. Os investigadores não localizaram registros das armas nem autorização para Frederico como colecionador nem como atirador.

 

Fazenda. Na investigação, feita em conjunto com a Receita Federal, a PF investiga o desvio de R$ 32 milhões dos cofres públicos, tendo como origem o superfaturamento na aquisição da Fazenda Recreio, localizada em Boa Vista, e na construção do empreendimento Vila Jardim, do projeto Minha Casa Minha Vida, no bairro Cidade Satélite.

São investigadas as transações decorrentes da venda da Fazenda Recreio, que pertencia aos filhos e enteadas de Jucá, para construção do empreendimento Vila Jardim, bem como pela fiscalização e aprovação do empreendimento na Caixa Econômica Federal. O superintendente da Caixa em Roraima, Severino Rivas, também foi alvo da operação.

A investigação da PF apontou superfaturamento e desvio de pouco mais de R$ 1 milhão na venda do terreno pertencente aos filhos e enteadas de Jucá. O local foi comprado pela Caixa, em 2013, para a construção de um megaempreendimento do programa Minha Casa Minha Vida.

“Os quatro proprietários venderam o terreno de forma superfaturada. Em valores aproximados o valor de mercado era de R$ 3,5 milhões, mas o terreno foi vendido por R$ 4,5 milhões”, disse o delegado responsável pela operação, Allan Robson.

Na área do conjunto residencial onde atualmente moram cerca de 10 mil famílias, distribuídas em 2.992 apartamentos, ficava localizada uma parcela de 26 hectares da Fazenda Recreio.

Entre os e oito mandados de condução coercitiva expedidos pela Justiça, três foram cumpridos contra Hamilton José Pereira, Elmo Teodoro Ribeiro e Francisco José de Moura Filho, que teriam ligações com a empresa CMT Engenharia, responsável pela construção do empreendimento na Fazenda Recreio.

Segundo a PF, do custo total da obra – R$ 185 milhões –, R$ 31 milhões teriam sido desviados. Os envolvidos, segundo a investigação, teriam supervalorizado o preço do concreto utilizado na

construção dos blocos de prédios. O nome da operação foi inspirado na citação existente no Livro II da obra filosófica A República, de Platão, na qual é discutido o tema da Justiça. / COLABOROU LUAN GUILHERME CORREIA

 

Arma. PF apreendeu pistola na casa de enteada do senador

 

 

Valores

R$ 32 mi

é o valor que a PF acredita ter sido desviado na construção de prédios do programa Minha Casa Minha Vida.

 

R$ 1 mi

é o valor que teria sido superfaturado na venda da fazenda da família de Jucá para a Caixa, segundo a PF.

 

 

 

 

 

‘Ninguém vai me intimidar’, diz senador

Por: Luan Guilherme Correia

 

Após ser questionado sobre a operação da Polícia Federal que envolveu seus filhos e enteadas, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) classificou a ação como “desproporcional” e disse que não será intimidado.

“Ninguém vai me intimidar”, afirmou ao chegar para uma reunião na presidência do Senado ontem pela manhã. Em nota o senador, que não estava entre os alvos da PF, criticou a operação.

“Desproporcional e constrangedor, esse episódio poderia ter sido evitado. Bastava às autoridades pedirem os documentos anexados que comprovam que não há nenhum crime cometido”, disse. “Não tememos investigação. Nem eu nem qualquer pessoa da minha família.”

Jucá disse ainda que a operação de ontem teria acontecido por uma “retaliação” de uma juíza federal. “Tornarei público todos os documentos que demonstrarão a inépcia da operação.”

Em nota, a Caixa Econômica Federal afirmou que passará informações sobre o caso “exclusivamente às autoridades competentes.” “A Caixa esclarece que mantém contato permanente com as autoridades competentes, prestando irrestrita colaboração com as investigações e operações policiais.”

A reportagem encaminhou pedido de esclarecimento aos advogados e assessores de todos os envolvidos na operação, mas não houve resposta até a conclusão desta edição. / L.G.C.