Título: Obama alivia sanções ao regime
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Fonte: Correio Braziliense, 08/02/2012, Mundo, p. 17

Os Estados Unidos deram mais um sinal de aproximação com o governo de Mianmar. Em uma manobra autorizada pelo presidente Barack Obama, o Departamento de Estado aliviou as sanções impostas ao país asiático. Desde segunda-feira, instituições financeiras internacionais podem restabelecer contato com organizações birmanesas para avaliar projetos que permitam a reconstrução da economia local. Trata-se de uma medida com pouco alcance prático, mas que representa a retomada das negociações nessa área, após décadas de isolamento. Segundo recentes estimativas, 32,7% da população de Mianmar vive abaixo da linha de pobreza.

Com a decisão, entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco de Desenvolvimento Asiático poderão atuar em setores específicos para reverter as graves condições sociais do país. "Avaliações das instituições financeiras internacionais proporcionarão meios críticos para obter uma maior compreensão da situação econômica, particularmente da necessidade de reduzir a pobreza", detalhou o Departamento de Estado, em um comunicado. A curto prazo, não haverá efeitos para a população. A expectativa de analistas é de que a flexibilização das sanções fique maior após abril, quando devem se realizar eleições parlamentares livres, conforme promessa do atual governo.

"Antes disso, Mianmar também precisa saldar as dívidas que tem com alguns desses bancos para, então, conseguir novos empréstimos", pondera o professor David Steinberg, da Georgetown University, especialista em política birmanesa. "As instituições financeiras farão as avaliações para ter certeza de que os projetos são viáveis", disse ele, em entrevista ao Correio. A flexibilização das sanções estava em negociação havia pelo menos dois meses. Em novembro, a secretária de Estado Hillary Clinton visitou o país e disse que o Ocidente iria rever as medidas punitivas assim que o governo birmanês desse sinais de efetiva mudança.

Os militares comandaram Mianmar durante quase meio século. No ano passado, um novo governo — civil, mas formado por ex-militares — assumiu o poder, prometendo uma série de reformas. Já foram libertados 600 presos políticos e foram convocadas eleições multipartidárias. Ontem, o principal nome da oposição, Aung San Suu Kyi, iniciou sua campanha. Suu Kyi, que passou anos em prisões e em confinamento domiciliar, ganhou o prêmio Nobel da Paz de 1991.

Mesmo com os avanços, muitos observadores não acreditam nas boas intenções do atual presidente, Thein Sein. Maung Zarni, um dos maiores especialistas em política de Mianmar, afirma que as recentes reformas não atingem o aspecto central da ditadura: a presença dos militares. "Os generais e ex-generais que estão no poder não têm nenhuma disposição para transformar o país sistematicamente, porque isso significaria um suicídio de classe para eles", afirma Zarni, professor na London School of Economics. Por trás das recentes decisões, diz o analista, estaria apenas o medo de que a população birmanesa se revolte tal qual ocorreu nos países árabes. (CV)