Correio braziliense, n. 19864, 11/10/2017. Política, p. 04.

 

Irmãos Batista são denunciados pelo MP

11/10/2017

 

 

PODER EM CRISE » Procuradores acusam Joesley e Wesley, donos do grupo J&F, de uso de informação privilegiada e manipulação do mercado. Eles teriam lucrado R$ 100 milhões com compra de dólar

 

 

Os procuradores da República Thaméa Danelon e Thiago Lacerda Nobre, do Ministério Público Federal, em São Paulo, denunciaram à 6ª Vara Federal os irmãos Joesley e Wesley Batista, na Operação Acerto de Contas, desdobramento da Tendão de Aquiles, por uso de informação privilegiada e manipulação do mercado. Os executivos estão presos. A Tendão de Aquiles apura o uso indevido de informações privilegiadas em transações no mercado financeiro ocorridas entre abril e 17 maio, data da divulgação dos dados relacionados à delação premiada firmada pelos executivos e a Procuradoria-Geral da República.

Para o Ministério Público Federal, em São Paulo, os irmãos “minimizaram prejuízos mediante a compra e venda de ações e lucraram comprando dólares com base em informações que dispunham sobre o acordo de delação premiada que haviam negociado com a Procuradoria-Geral da República”. “Juntos, Wesley e Joesley atuaram para reduzir o prejuízo com os papéis e lucrar com a compra da moeda americana, aproveitando-se da informação privilegiada e, como consequência, manipulando o mercado de ações”, diz a Procuradoria da República

Segundo a denúncia, “as operações ilegais” de venda e compra de ações ocorreram entre 31 de março e 17 de maio. Wesley foi preso em 13 de setembro, em sua casa, em São Paulo. Joesley havia sido custodiado dois dias antes por ordem do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, por suspeita de violação de sua própria delação premiada.

 

“Abalo”

Segundo a denúncia do MP, os irmãos Batista teriam lucrado cerca de R$ 100 milhões com compra de dólar no mercado futuro e a termo, além de terem deixado de perder R$ 138 milhões com o processo de venda e recompra de ações da JBS, um dos braços do grupo J&F. “Sabendo que quando viessem à tona as delações haveria alteração no mercado financeiro, eles passaram a vender e a recomprar ações, para que não caísse muito. Paralelamente fizeram compras de contratos futuros de dólar”, disse a procuradora Danelon sobre ações que foram realizadas pelos irmãos dias antes da divulgação das delações.

“Ficou bastante comprovado que saberiam que viria um abalo no mercado”, disse Nobre. “Eles (Batistas) são pessoas que trabalham na área e que entendem perfeitamente como funciona o mercado e manipularam para seus interesses”, afirmou o procurador. A denúncia de insider trading começou com o monitoramento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que, a partir disso, o MPF iniciou as investigações com levantamento de documentações e entrevistas, inclusive com funcionários das empresas dos irmãos. Segundo Nobre, funcionários chegaram a afirmar que as movimentações foram atípicas de fato. “Não era comum compras (de dólar) no fim da tarde”, disse o procurador sobre comentários destes funcionários.

Em nota, a JBS afirma que “as operações de recompra de ações e derivativos cambiais em questão foram realizadas de acordo com perfil e histórico da companhia, que envolvem operações dessa natureza. Tais movimentações estão alinhadas à política de gestão de riscos e proteção financeira e seguem as leis que regulamentam tais transações”.