Título: Gregos voltam às ruas
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Fonte: Correio Braziliense, 08/02/2012, Economia, p. 13
A Grécia teve ontem uma nova greve geral, devido à insatisfação da população com as medidas de austeridade exigidas pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Sob chuva fina, milhares de grevistas e manifestantes se reuniram em frente ao Parlamento, convocados pelos dois principais sindicatos do país.
Portando cartazes com dizeres como "não às demissões na função pública", "não à redução do salário mínimo" e "não aos cortes das pensões complementares", os manifestantes resumiram suas críticas às novas reformas exigidas pela UE e pelo FMI em troca de um segundo plano de resgate do país, de 130 bilhões de euros, ainda em negociação. Eles queimaram bandeiras da Alemanha — reação às pressões da chanceler do país, Angela Merkel, para que a Grécia implemente as medidas de austeridade. A greve afetou a atividade de escolas, ministérios, bancos e hospitais. Os barcos e os trens permaneceram sem funcionar por 24 horas. Houve confrontos entre os manifestantes e a polícia.
O tempo está cada vez mais apertado para a Grécia. Em março, haverá um vencimento da dívida de 14,5 bilhões de euros, que o país não poderá honrar sem assistência exterior. Neste clima de pressão, o primeiro-ministro, Lucas Papademos, reuniu-se ontem novamente com os líderes dos três partidos de governo, para tentar convencê-los de que aprovem as medidas exigidas pelos credores.
Reformas No domingo, após cinco horas de discussões com os três principais dirigentes partidários, Papademos disse que havia um acordo sobre o volume da economia que o Estado teria de fazer (1,5% de PIB), as reformas destinadas a reduzir os custos de produção e um esquema de recapitalização dos bancos. Mas não houve um acerto final, tampouco evolução na negociação com os credores.
O impasse pode levar Papademus a perder o cargo e a Grécia, seu lugar na UE. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse que o país fica no bloco. "Nós queremos a Grécia no euro", afirmou Barroso a repórteres, depois de a comissária europeia de Novas Tecnologias, Neelie Kroes, ter dito que "ninguém morreria" se um país deixasse a Zona do Euro.
Promessa de Bernanke O presidente do Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, renovou ontem a promessa de impedir que a crise financeira da Europa prejudique a economia norte-americana. "Estamos em contato frequente com as autoridades europeias, e vamos continuar a monitorar a situação de perto e tomar todas as medidas disponíveis para proteger o sistema financeiro e a economia dos EUA", disse Bernanke, em um discurso preparado previamente para ser entregue ao Comitê de Orçamento do Senado. O presidente do Fed manteve um tom cauteloso sobre a perspectiva dos EUA e não se referiu aos dados de emprego surpreendentemente fortes divulgados na sexta-feira. "Teremos um longo caminho a seguir antes que se possa dizer que o mercado de trabalho está operando normalmente", disse Bernanke, usando retórica idêntica à que utilizou na quinta-feira, perante a comissão de orçamento da Câmara de Deputados.