O Estado de São Paulo, n. 45252, 09/09/2017. Política, p.A8

 

 

 

Planos de Lula para 2018 ficam em aberto

Analistas avaliam que depoimento de Palocci compromete imagem de petista

Por: Marianna Holanda

 

Marianna Holanda

O depoimento prestado nesta semana pelo ex-ministro Antonio Palocci, no qual ele atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o protagonismo no esquema de corrupção na Petrobrás, deixa em aberto a tentativa do petista de se viabilizar como candidato à Presidência da República em 2018, segundo analistas consultados pelo Estado .A avaliação é de que, ainda que Palocci tenha de comprovar o que disse ao juiz Sérgio Moro, suas afirmações são fortes e podem comprometer ainda mais a imagem de Lula.

O professor emérito de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Ruy Fausto disse que o depoimento “enfraquece ainda mais a posição de Lula”. “Creio que, agora, a direção do PT no fundo se empenhará principalmente em evitar que ele seja preso”, afirmou.

Para Fausto, se por um lado a fala de Palocci mostrou “o violento processo de corrupção que atingiu o poder petista”, por outro, “é evidente que Palocci está numa situação desesperada e, para se safar, dirá o que aconteceu e também o que não aconteceu. Assim, é preciso ter alguma cautela”, afirmou.

A avaliação do cientista político e consultor da Arko Advice, Murillo Aragão, é de que o depoimento foi “trágico para o PT e para o Lula”. “Em poucas palavras, relevou a extensão da tragédia política do País. Então, é seriíssimo o que ele (Palocci) disse e não há porque não acreditar nele”, afirmou. Palocci foi ministro da Fazenda no governo Lula e da Casa Civil durante parte do mandato de Dilma Rousseff.

Além do depoimento de Palocci, Lula teve outro revés nesta semana. Ele foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao lado da presidente cassada Dilma Rousseff e outros petistas, sob acusação de formar uma organização criminosa. Se o Supremo Tribunal Federal aceitar a denúncia, será o sexto processo do ex-presidente na condição de réu.

Aragão considerou que a candidatura de Lula está prejudicada, mas, ainda assim, ponderou que Palocci estava sob a pressão de estar preso há quase um ano. “É evidente que uma pessoa presa há muito tempo termina pressionada a adotar posturas que deem fim à sua agonia.” Segundo ele, o ex-ministro deverá provar, de alguma forma, as afirmações que fez a Moro, entre elas a da existência de um “pacto de sangue” entre Lula e a Odebrecht. “Ele não pode apenas acusar sem ter a mínima condição de provar.”

Cautela. Para a professora de filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Tatiana Roque, “antes de tudo, tem de ter cautela e esperar as provas”. Ela lembrou de outros delatores, como o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, que voltaram atrás no que disseram sobre Lula. “Mais importante é: qualquer decisão que inviabilize uma candidatura com a popularidade, o porcentual de votos que Lula tem, deve ser extremamente rigorosa e não deixar nenhuma margem de dúvida em termos de provas.”

Em depoimento à Justiça Federa neste ano, porém, Léo Pinheiro disse que o triplex no Guarujá foi oferecido pela OAS a Lula e apresentou registros de encontros com o petista. Em um deles, segundo o empreiteiro, o ex-presidente o teria orientado a destruir provas.

Para o professor de História Contemporânea da USP Everaldo Almeida, Palocci “está dizendo, de certa forma, tudo o que querem que ele diga”. “Ele está sob uma gigantesca pressão, é uma pessoa muita inteligente e sabe exatamente o que falar para conseguir algum tipo de benefício com a delação dele”, disse.

Almeida lembrou que Palocci era figura das mais importantes do PT, mas defendeu posições que contrariavam setores do partido – ainda que as posições de Palocci sempre estivessem alinhadas com as de Lula, a quem era subordinado, e tivessem sido avalizadas pelo então presidente.

 

 

 

Justiça confirma depoimento de petista na quarta

Por: JULIA AFFONSO E LUIZ VASSALLO

 

A Justiça Federal negou recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manteve para a quarta-feira, em Curitiba, o depoimento do petista ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em primeira instância. O interrogatório será no âmbito da ação em que Lula é réu por suposto recebimento de propinas da Odebrecht. A defesa pedia o adiamento até que fossem juntados nos autos elementos sobre os sistemas My Web Day e Drousys, usados para a distribuição de propinas, segundo investigadores.

Os dados sobre o sistema My Web Day estavam na Suíça e foram enviados pela Odebrecht ao Ministério Público Federal em agosto. O relator do processo, desembargador federal João Pedro Gebran Neto, disse que o pedido não tem previsão legal.

Na quarta, será a segunda vez que Lula ficará diante do juiz Sérgio Moro. A primeira foi em maio, na ação referente ao triplex do Guarujá. A militância petista já organiza atos em Curitiba como os do primeiro depoimento. / JULIA AFFONSO E LUIZ VASSALLO

 

 

 

 

ENTREVISTA - Marconi Perillo: ‘Prévias são o instrumento mais legítimo de escolha’

Governador que deve presidir o PSDB a partir de dezembro minimiza a discórdia entre Alckmin e Doria pela Presidência
Por: Felipe Frazão

 

Felipe Frazão

Favorito para assumir o comando do PSDB em dezembro e liderar o partido na campanha presidencial de 2018, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), 54 anos, afirmou que as prévias são “o meio mais democrático” para que o PSDB escolha seu candidato à Presidência em 2018.

Perillo articula para chegar como postulante único à direção da legenda em dezembro, impulsionado pela relação com os presidenciáveis Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e João Doria, prefeito da capital paulista. Ele minimiza o embate cada dia mais ruidoso entre eles e diz que “prevalecerá o bom senso”.

 

• João Doria sugeriu que pode deixar o PSDB para disputar a Presidência. Qual sua avaliação?

Não acredito que o prefeito Doria deixe o partido e vou continuar trabalhando nossa unidade.

 

• Qual deve ser o formato para a escolha do candidato do partido?

Prévias são um instrumento democrático de escolha. Elas devem ser mantidas, caso haja mais de um précandidato. Por mais que fiquem fissuras, é o instrumento mais legítimo e democrático que um partido pode ter. Mas não creio que haverá entre Geraldo e Doria.

 

• Quem tem melhores condições de vencer, Alckmin ou Doria?

Não vejo em nenhum deles disposição para qualquer tipo de dissenso. Estou seguro de que haverá uma convergência entre eles e de que prevalecerá o bom senso, o compromisso maior com o projeto de vitória. O PSDB tem uma sequência histórica de consensos. Sempre tem alguma escaramuça antes, alguns nomes se colocam, mas ao fim e ao cabo prevalece o que tem melhores condições ( de vencer a eleição). • O presidente interino, Tasso Jereissati, disse que ‘Alckmin é o primeiro da fila’. Doria, por ser mais novo, deve esperar na fila? No momento certo essas coisas estarão resolvidas.

 

• O candidato tucano deve adotar tom conciliador ou se opor frontalmente a Lula?

Defendo um misto das duas coisas. Nosso discurso tem que centrar fortemente no combate ao populismo, à demagogia, ao corporativismo e todos os ismos que atrasaram o Brasil e a América Latina. Mas também acho que o voto se dará baseado no equilíbrio, na experiência e na capacidade que o candidato terá de pacificar o País, convencer de que as reformas são boas para o povo. Não vejo espaço para que alguém da extrema direita ou extrema esquerda vença eleições no País ou nos Estados.

 

• Qual deve ser a agenda do PSDB para 2018?

Uma agenda agressiva de reformas. É preciso diminuir o tamanho do Estado, tomar medidas duras com relação à Previdência, aprofundar as privatizações e acabar com a estabilidade do emprego no serviço público, exceto as carreiras de Estado, num primeiro momento. O que pode ser extirpado da burocracia federal? Precisamos de três senadores por Estado? Dessa quantidade de deputados?

 

• Temer conseguirá tocar essas reformas?

O presidente faz um grande esforço para aprovar uma agenda de reformas, mas como o governo dele é de transição, um governo congressual, ele não tem a força que um presidente eleito pelo voto do povo terá para adotar essa agenda.

 

• Então por que o PSDB não desembarca?

O PSDB não está no governo. Ele tem ministros e apoia as reformas. Os ministros vão continuar até quando quiserem, mas o partido tem compromisso só com os projetos que tenham a ver com os interesses da nação.

 

• O senhor vai assumir a presidência do PSDB?

Eu transito entre todas as lideranças do partido, sempre fui solidário e correto com todos. Se o meu nome agregar, me coloco à disposição.

 

• Se houver mais de um candidato, o senhor disputa?

Não. Meu lema é unidade.

 

• Há uma preocupação no PSDB porque o senhor também foi delatado pela Odebrecht e denunciado no caso Delta, então traria de volta a suspeição que levou Aécio a se licenciar do partido...

Ninguém é obrigado a me querer como presidente, nem sou obrigado a ser se for para causar constrangimento. Não quero atrapalhar em nada e jamais forçaria a barra. As acusações são absolutamente defensáveis. Em relação à Delta, eu fui à CPI por nove horas e refutei todas as provas. Em relação à Odebrecht, é algo totalmente infundado. Falaram de caixa 2, e posso provar as contradições.

 

• Como o senhor explica a insurgência dos deputados cabeçaspretas?

Um partido que não tivesse essa inquietude dos mais jovens seria como o silêncio dos cemitérios. Seria uma lástima um partido de velhos. A nova executiva terá de reservar espaços para as gerações mais novas.

 

 

 

Uma janela para jurar fidelidade ao seu padrinho

 

 

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ouviu ontem na inauguração de um conjunto habitacional o prefeito da capital, João Doria (PSDB), negar que a disputa pela candidatura à Presidência vá afastá-los. “Não vai atrapalhar, porque estamos juntos e continuaremos juntos. Não há rusga, não há nada que nos afaste.”