O globo, n. 30759, 24/10/2017. ARTIGOS, p.15

Rio sem rumo

MARCELLO AVERBUG

 

 

 

 

Há várias décadas que a cidade do Rio vem sofrendo declínio social, político e na segurança. O fato de não haver descoberto ainda uma vocação econômica após a transferência da capital para Brasília explica, de forma preponderante, as agruras dos cariocas.

Nenhum dos administradores do território desprovido da condição de Distrito Federal empenhou-se em incentivar atividades produtivas compatíveis com sua vocação. Até mesmo os apontados como os mais eficientes governantes da antiga Guanabara e da atual capital fluminense restringiram-se, na verdade, a edificar obras urbanísticas, sem a lucidez de lançarem as bases à prosperidade de empreendimentos privados e à melhoria da qualidade de vida das classes menos privilegiadas.

Chegou-se a uma situação onde, tal como numa nau sem rumo acossada por tempestades, a tripulação que governa o Rio limita-se a improvisar tentativas para superar as avarias que ameaçam naufragá-lo. Enquanto isso, a sociedade civil ainda não teve chance de maximizar a participação no processo de reverter o panorama, e parte da população limita-se a lamentar aflições e resmungar contra as autoridades.

Há cariocas conscientes de que a única forma de vencer a incompetência do setor público municipal será via mobilização dos agentes integrantes da sociedade, com o objetivo de definir e executar ações que deflagrem a prosperidade do Rio. E algo já vem sendo realizado nesse sentido. Mas, para gerar resultados concretos, a mencionada mobilização deveria ser ampliada, envolvendo associações de bairro, empresários, sindicatos, instituições de pesquisa de diversas áreas, estudantes, agremiações profissionais (tais como Clube de Engenharia, OAB e ABI), comunidades religiosas, clubes sociais, meio artístico e a mídia.

Recuperar o Rio consiste em fomentar um conjunto de pontos de apoio que alavanquem seu desenvolvimento econômico e social. Tudo indica que esse conjunto abarcaria atividades como turismo, inovação tecnológica, pesquisa em meio ambiente e saúde pública, indústria cinematográfica, projetos imobiliários renovadores de espaços urbanos decadentes (inclusive no centro da cidade), pequenas e médias indústrias, construção naval, moda, esporte e entretenimento em geral.

Melhoria na prestação de serviços municipais, programas eficazes de amenização da pobreza e renovação drástica do elenco carioca de políticos atuariam como condição indispensável ao renascimento do otimismo da população. A batalha contra a violência figuraria como uma das causas e, ao mesmo tempo, efeito da prosperidade. Combater a corrupção e rejeitar obras inúteis ao crescimento da economia ou do bem-estar dos moradores funcionariam como umas das fontes de recursos aos projetos prioritários da prefeitura.

Evidentemente, a acentuação da degradação do Rio está conectada ao contexto adverso nos âmbitos federal e estadual. Além disso, cabe reconhecer que o Estado do Rio e sua capital foram especialmente vitimados pelo flagelo no qual a classe política brasileira profanou o serviço público nacional.