O globo, n.30759 , 24/10/2017. SOCIEDADE, p.25

Novos sinais de alerta

CESAR BAIMA

 KARLA GAMBA

CHICO PRADO

 

 

Macacos mortos em parque de São Paulo reacendem temores de doença voltar ao país

Menos de dois meses depois de o Ministério da Saúde declarar o fim do último surto de febre amarela no país — que entre 1º de dezembro de 2016 e 1º de agosto de 2017 teve confirmados 777 casos, com 261 mortes —, a doença volta a assustar com a recente descoberta de macacos mortos no Horto Florestal, na Zona Norte de São Paulo. Diante disso, a prefeitura da cidade informou ontem que pretende vacinar um milhão de pessoas. E as doses serão fornecidas pelo próprio Ministério da Saúde, que também ontem anunciou o envio de um milhão de unidades para São Paulo em resposta a uma solicitação do estado para reforçar a vacinação após o registro de uma morte humana na cidade de Itatiba na semana passada.

Segundo o secretário estadual de Saúde de São Paulo, David Uip, foram encontrados cinco macacos mortos no Horto na semana passada. Além do que já foi diagnosticado com febre amarela, mais dois vão passar por exames. Os corpos dos restantes já estavam em estado de decomposição muito avançado para realização das análises. Desde sábado, o Horto e o Parque da Cantareira, também na Zona Norte da capital paulista, estão fechados por tempo indeterminado para “ações de prevenção à saúde”.

Ainda na manhã de ontem, Maria Ligia Nerger, gerente de imunização da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, disse ao GLOBO que a aplicação de vacinas já vinha sendo feita na cidade. O macaco encontrado no Horto Florestal, no entanto, determinou o foco na região do Horto, com cerca de 4 mil moradores do entorno imunizados já durante o fim de semana.

— Em setembro tínhamos escolhido o parque Anhanguera (Zona Oeste), onde havia mais chance de propagação da doença, para iniciar a vacinação. Mas mudamos os planos quando o macaco morreu no Horto. A morte do macaco é um alerta e serve pra gente programar ações como essa, priorizando outra região se for o caso — disse.

Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, a morte dos macacos em São Paulo representa a possibilidade de um “novo ciclo” de febre amarela no país, separado do surto recém-encerrado, já que antes de declarar seu fim se passaram 90 dias sem registro de novos casos. Ele destacou ainda que o último surto deixou “todos mais alertas” para a doença.

Chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, Amilcar Tanuri não considera precipitado a decisão do ministério de declarar o fim do recente surto. No entanto, ele diz que a situação em São Paulo é “preocupante” e evidencia a necessidade de uma “vigilância permanente” com relação à doença no país.

— Se o vírus continuasse em circulação entre a população de macacos e de humanos nas áreas afetadas pelo último surto nos estados de Minas, Espírito Santo e Rio, esses 90 dias seriam mais que suficientes para sua incubação e o surgimento de novos casos — explica. — Os casos de febre amarela em humanos no Brasil têm surgido principalmente em regiões periurbanas, onde os macacos ficam muito perto das cidades e as pessoas vão a lazer ou a trabalho. Só porque um surto acabou não quer dizer que o vírus não possa emergir em outro local. O Brasil é um país muito grande, e por isso a vigilância contra a febre amarela tem que ser permanente.