Título: Trocas autorizadas
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 08/02/2012, Política, p. 3

O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, recebeu aval do Palácio do Planalto para promover uma ampla reestruturação em sua pasta, inclusive nas autarquias relacionadas, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), um dos principais focos de corrupção durante a gestão anterior, como adiantou o Correio no sábado passado. Ontem, Mendes Ribeiro confirmou a exoneração, a pedido, do secretário de Produção e Agroenergia, Manoel Vicente Bertone. Em seu lugar, foi nomeado o atual diretor do Departamento de Cana de Açúcar e Agroenergia, José Gerardo Fontelles.

Bertone comunicou na semana passada ao ministro o desejo de deixar o cargo e voltar a dedicar-se às suas atividades empresariais no interior de São Paulo. Segundo ele, a família "estaria incomodada com sua ausência" e ele preferiu encerrar sua participação na máquina pública federal. Como interessa ao ministro a montagem de uma equipe mais próxima dos seus planos, Mendes Ribeiro não hesitou e aceitou a exoneração de Bertone.

A mudança mais radical ocorrerá na presidência da Conab. O atual titular, Evangevaldo Santos, ligado ao PTB, deixará o cargo nos próximos dias. O processo de exoneração está em fase de conclusão na Casa Civil e deve ser publicado em breve. Ele será substituído por João Carlos Bona, atual diretor financeiro do órgão.

Bona entrou na autarquia no lugar de Oscar Jucá Neto — irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) —, acusado de facilitar a quitação de um débito de R$ 8 milhões de um parceiro da Conab. Outra razão para o adiamento das trocas foi uma cirurgia feita pelo ministro para retirada de um tumor no cérebro, o que o deixou de licença por alguns dias.

Nos planos iniciais do ministro da Agricultura, Bona deveria ter assumido diretamente a presidência da Conab, sem o estágio probatório na diretoria de finanças da autarquia. Mas o receio de comprar briga com mais um aliado — a saída de Jucá Neto já tinha sido traumatizante para o PMDB — levou Mendes Ribeiro Filho a adiar a substituição.

O ministro da Agricultura é filiado ao PMDB, mas sua escolha teve o impulso pessoal da presidente Dilma. Os dois militaram juntos nos tempos da clandestinidade no Rio Grande do Sul e mantêm uma relação fraternal até hoje. Mendes, por exemplo, tem interlocução direta com o Planalto, sem a necessidade de intermediação do vice-presidente Michel Temer