O Estado de São Paulo, n. 45255, 12/09/2017. Internacional, p.A12

 

 

 

 

 

EUA recuam paa obter apoio chinês e russo a sanções contra Coreia do Norte

Pressão diplomática. Conselho de Segurança da ONU impõe novas punições a Pyongyang, estabelece barreiras às exportações norte-coreanas, limita o acesso do país a petróleo, combustíveis e proíbe a realização de joint ventures com empresas estrangeiras

Por: Cláudia Trevisan

 

Cláudia Trevisan

CORRESPONDENTE / WASHINGTON

 

O Conselho de Segurança da ONU impôs ontem uma rodada de sanções contra a Coreia do Norte. Os EUA aceitaram recuar em sua proposta original e suavizar as exigências, para conseguir apoio de Rússia e China. O pacote restringe exportações, limita acesso a petróleo, combustíveis e proíbe a realização de joint ventures com empresas estrangeiras.

A estimativa é que as medidas reduzam em US$ 1,3 bilhão as receitas do país, que tem um PIB de US$ 28,5 bilhões. Aprovada por unanimidade, a resolução é uma resposta ao teste nuclear do dia 3, quando Pyongyang detonou a mais potente bomba nuclear que já produziu. Os EUA defendiam a suspensão total das exportações de petróleo ao país e o congelamento de bens do ditador Kim Jon-un, mas aceitaram uma versão mais amena para garantir apoio da China e da Rússia, dois aliados de Pyongyang com poder de veto no Conselho de Segurança.

“De longe, essas são as mais fortes medidas já impostas contra a Coreia do Norte”, afirmou a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley. Segundo ela, sua aprovação só foi possível em razão do bom relacionamento entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping. “Esses passos só terão efeito se todos os países os implementarem de maneira completa e agressiva.”

O embaixador da China, Liu Jieyi, conclamou a Coreia do Norte a responder à expectativa da comunidade internacional e interromper a realização de qualquer teste nuclear. Mas ele reiterou que a solução para a crise deve ser obtida por meios “pacíficos, diplomáticos e políticos”. Liu afirmou ainda que outros países não devem buscar o fim ou o colapso do regime de Pyongyang, nem defender a reunificação apressada da península.

A sanções proíbem a importação de produtos têxteis da Coreia do Norte e suspendem novos programas para contratação de trabalhadores do país no exterior, duas das principais fontes de divisas estrangeiras de Pyongyang. Dados sobre o comércio exterior da China mostram que roupas e tecidos foram o principal produto de exportação da Coreia do Norte ao país no segundo trimestre deste ano, quando representaram 38% dos embarques totais de US$ 385,2 milhões. Em razão de sanções impostas anteriormente, as vendas de carvão caíram a zero nesses três meses, depois de responder por 43% das exportações no primeiro trimestre, com vendas de US$ 220,6 milhões.

Haley afirmou que há cerca de 95 mil norte-coreanos trabalhando no exterior. A maioria deles está na Rússia e na China, onde são empregados em setores como mineração, extração de madeira, têxtil e construção. O pagamento de seus salários garante receita anual de centenas de milhões de dólares.

A resolução limita a venda ou transferência de petróleo à Coreia do Norte ao limite registrado nos 12 meses anteriores a sua adoção. O texto estabelece ainda teto de 2 milhões de barris/dia para embarques de produtos refinados de petróleo. A medida entrará em vigor em 1.º de janeiro e afetará cerca de 10% das exportações chinesas dessas mercadorias. Também ficam suspensas as vendas de gás natural líquido e condensado ao país.

O texto solicita que membros da ONU inspecionem navios que transportam produtos para ou da Coreia do Norte, mas não autoriza o uso de força nessas operações, que só poderão ser conduzidas com autorização dos países onde as embarcações são registradas. A proposta original dos EUA era mais forte e previa a interdição de navios que carregassem armas ou combustíveis em violação das sanções.

O Conselho de Segurança impôs uma série de sanções contra a Coreia do Norte desde 2006, quando o país realizou seu primeiro teste nuclear. Mas as punições não foram suficientes para conter as ambições militares do regime. Desde sua chegada ao poder, em 2012, Kim acelerou seu programa nuclear. No dia 3, seu regime anunciou que já detém a tecnologia para miniaturizar bombas nucleares e colocá-los em ogivas capazes de atingir outros países.

 

Novo pacote

“De longe, essas são as mais fortes medidas já impostas contra a Coreia do Norte”

Nikki Haley

EMBAIXADORA DOS ESTADOS UNIDOS NAS NAÇÕES UNIDAS

 

PARA LEMBRAR

Órgão impôs série de penas

O Conselho de Segurança das Nações Unidas já aprovou um grande número de resoluções com sanções que condenaram a Coreia do Norte desde que o país realizou seu primeiro teste nuclear, em 2006. No total, foram nove resoluções aprovadas em 2006, 2009, 2013, 2016 e este ano. As penalidades foram variadas. Na primeira delas, o Conselho de Segurança proibiu Pyongyang de exportar suprimentos militares e importar artigos de luxo. No projeto de 2009, membros do Conselho de Segurança foram encorajados a inspecionar navios e a destruir qualquer carregamento suspeito de estar relacionado ao programa nuclear do país.

 

PONTOS-CHAVE

Testes militares recentes dos norte-coreanos

3 de setembro

Coreia do Norte diz ter testado uma bomba de hidrogênio, desafiando a ameaça do presidente Donald Trump de responder com ‘fogo e fúria’

 

28 de agosto

Pyongyang lança um míssil que sobrevoa o norte do Japão e cai a 1.180 quilômetros da costa. O teste leva japoneses a buscar proteção em abrigos

 

17

testes com mísseis foram feitos apenas este ano pela Coreia do Norte. O primeiro lançamento do país foi feito em 1984.

 

28 de julho

Coreia do Norte lança o segundo míssil intercontinental em menos de um mês, demonstrando capacidade de atingir território americano