Correio braziliense, n. 19872, 19/10/2017. Política, p. 02.

 

Temperatura medida

Paulo de Tarso Lyra e Guilherme Mendes

19/10/2017

 

 

PODER EM CRISE » Nas contas do Planalto, o placar do plenário a favor de Temer deve repetir o de agosto

 

Vencida a etapa da CCJ, o governo agora pensa no plenário, na próxima semana. “Calma, vamos sentar, analisar as planilhas, ver a temperatura do plenário. Sempre é bom saber se tem alguém com febre”, brincou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP). Ele não quer admitir, mas o governo reconhece a possibilidade de ter menos votos nesta do que na análise da primeira denúncia contra Michel Temer.

Em agosto, o governo conseguiu 263 votos e a oposição teve 227 votos. “Acho que o placar se repete, com 20 votos a mais ou 20 votos a menos”, afirmou o vice-líder do PMDB, Carlos Marun (MS). “Sabíamos que o PSB, que vem assumindo uma postura de oposição ao governo, substituiria seus integrantes na CCJ. Sou escravo da coerência. Assim como defendo quando o governo faz as trocas, não vou criticar o PSB”, disse Marun.

O novo líder do PSB, Julio Delgado (MG), acha possível uma inversão dos votos em plenário. “Não seria demais pensarmos em ter uns 247 votos e o governo algo em torno disso. Hoje, o plenário está bem mais dividido”, apostou o socialista. Para Alessandro Molon (Rede-RJ), o governo hoje está mais frágil, com uma base muito mais desgastada e diante de uma denúncia com uma consistência maior”, declarou o parlamentar fluminense.

Mansur é um pouco mais prudente. Ele não acha que a carta encaminhada pelo presidente Michel Temer tenha tido influência ontem ou possa ter peso no plenário na próxima semana. O documento foi citado várias vezes na CCJ ontem. “O Michel escreveu aquele texto com amargura, eu conheço ele há muito tempo. Escreveu com o fígado, com as entranhas. Por isso saiu naquele tom”, defendeu o aliado.

Temer assistiu à votação de ontem na CCJ ao lado do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco — ambos denunciados — além de Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo). Segundo relatos, Temer se mostrou tranquilo e o resultado foi visto pela cúpula do governo como dentro do “esperado”.

O discurso de auxiliares do presidente também foi na linha de que o mais importante agora é focar no plenário. Em agosto, Temer conseguiu 263 votos favoráveis ao parecer do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que recomendava a suspensão da acusação, e 227 contrários. A votação teve 19 ausências e duas abstenções. Ontem, Temer recebeu em sua agenda mais de 30 parlamentares.