Correio braziliense, n. 19873, 20/10/2017. Política, p. 03.

 

Dodge reforça prisão de Geddel

Renato Souza

20/10/2017

 

 

PODER EM CRISE » Para procuradora-geral, postura do ex-ministro é “típica de líder de organização criminosa”. Fachin já havia decidido mantê-lo detido

 

 

Em um parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde de ontem, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que o ex-ministro Geddel Vieira Lima “parece ter assumido um comportamento típico de líder de organização criminosa”. Dodge pediu ao ministro Edson Fachin a manutenção da prisão preventiva de Geddel. O Ministério Público afirma que o montante de R$ 51 milhões apreendidos em um imóvel utilizado por ele em Salvador tem origem ilícita.

Geddel está preso desde setembro, com base em provas colhidas pela Polícia Federal no âmbito da operação Tesouro Perdido. Os investigadores encontraram digitais do ex-ministro em paredes do apartamento e nas malas usadas para armazenar o dinheiro. Em seu relatório, Raquel Dodge diz que Geddel “reuniu muito em pouco tempo” e manteve a conduta criminosa durante as investigações do caso relacionado à Caixa. “Sua conduta criminosa violou, a um só tempo, as condições que lhe foram impostas para a concessão da prisão domiciliar e a confiança que o Poder Judiciário lhe depositou”, destacou a procuradora.

A chefe do Ministério Público destacou ainda que se passaram apenas dois meses entre as supostas ações para obstruir o trabalho da Justiça e a ocultação do dinheiro encontrado no imóvel. “Portanto, em um primeiro momento, Geddel Quadros Vieira Lima violou a ordem pública e pôs em risco a aplicação da lei penal ao embaraçar investigação de crimes praticados de organização criminosa. Num segundo momento, passados nem dois meses do primeiro [crime], reiterou a prática criminosa (reiteração delitiva) ao ocultar mais de cinquenta milhões de reais de origem criminosa”, completou.

Como o Correio adiantou,  a Justiça Federal de Brasília recebeu do ministro Edson Fachin, do STF, a determinação para que os assuntos envolvendo a Caixa Econômica sejam analisados pela Justiça de primeira instância. Já os fatos relacionados ao dinheiro encontrado no apartamento continuam no STF, por envolverem o irmão dele, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). O ministro decidiu manter o ex-ministro na cadeia, desconsiderando um pedido da defesa que solicitou que ele responda em liberdade.

A defesa de Lúcio afirmou que as buscas que foram realizadas nos endereços ligados ao deputado “são apenas um procedimento preliminar” e que o ato “é prova de que não existem fundamentos que ligam o político aos valores”. A Caixa Econômica Federal informou que está em contato permanente com as autoridades e presta irrestrita colaboração com as investigações. Procurada pela reportagem, a defesa de Geddel não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.

 

Frase

"Em um primeiro momento, Geddel Vieira Lima violou a ordem pública e pôs em risco a aplicação da Lei penal ao embaraçar investigação de crimes"

Raquel Dodge, procuradora-geral da República