O Estado de São Paulo, n. 45263, 20/09/2017. Política, p. A6.

 

Raquel tira nomes de Janot da Lava Jato

Beatriz Bulla

20/09/2017

 

 

Procuradora-geral mantém apenas 2 dos 10 procuradores que trabalhavam com antecessor e escolhe Raquel Branquinho para a coordenação

 

 

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, oficializou a mudança na equipe que conduz as investigações da Lava Jato. A maioria do grupo foi trocada e só dois dos dez procuradores que trabalhavam com o ex-procurador-geral Rodrigo Janot vão permanecer na equipe.

Além disso, Raquel estabeleceu que cinco integrantes do grupo antigo permanecerão por mais 30 dias para um trabalho de transição. Entre eles está o promotor Sérgio Bruno, que coordenou as investigações da Lava Jato durante a gestão de Janot. Depois desse período, a procuradora-geral da República vai avaliar se é necessário pedir mais reforços de investigadores. O grupo de Raquel terá oito membros permanentes. Com a oficialização dos nomes, a equipe começou a se debruçar no material da Lava Jato que existe na PGR.

As reuniões de transição entre parte da equipe de Raquel e o grupo de Janot já vinham acontecendo ao longo do último mês. No entanto, as informações sigilosas da Lava Jato só puderam começar a ser passadas para a nova equipe depois das nomeações. Segundo procuradores, a própria Raquel estabeleceu que as informações sigilosas só deveriam ser compartilhadas após a oficialização no cargo.

O grupo de trabalho da Lava Jato, conhecido como GT, conduz as investigações que ficam sob responsabilidade da PGR – os casos em que os alvos são autoridades com foro privilegiado.

Pela portaria assinada por Raquel, os integrantes do grupo de trabalho poderão colher depoimentos e participar de outros atos de produção de provas, participar de audiências relacionadas à Lava Jato que sejam conduzidas por juízes auxiliares do STF, pedir informações e documentos necessários às investigações. O grupo também é autorizado a participar de negociações para celebrar acordos de delação premiada.

A equipe ficará subordinada à Secretaria de Função Penal no Supremo Tribunal Federal, de responsabilidade a partir de agora da procuradora Raquel Branquinho. Ela comanda não só o grupo como também todas as questões envolvendo direito criminal perante o STF.

Para coordenar especificamente o GT, Raquel nomeou o procurador José Alfredo da Silva. Tanto ele como Raquel Branquinho têm experiência em investigações criminais emblemáticas e já trabalharam juntos, por exemplo, durante o processo do mensalão.

Toda a equipe tem experiência em investigações criminais, com atuação em operações como Zelotes e Greenfield. Além de Raquel Branquinho e José Alfredo da Silva, farão parte do grupo os procuradores Hebert Mesquita, José Ricardo Teixeira Alves, Luana Vargas Macedo, Marcelo Ribeiro de Oliveira, Maria Clara Barros Noleto e Pedro Jorge do Nascimento Costa.

 

Áudio de Joesley. Os dois últimos já integravam o grupo durante a gestão de Janot. Foi Maria Clara quem identificou o áudio em que os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud conversam sobre suposta orientação para fechar a delação premiada, que os fez perder o acordo com a Procuradoria-Geral.

Outros dois integrantes do grupo de Janot – Rodrigo Telles e Fernando Alencar – haviam sinalizado a intenção de permanecer no GT, mas foram incluídos no grupo de transição e, portanto, devem deixar a investigação dentro de 30 dias.

De acordo com interlocutores de Raquel, os dois não manifestaram oficialmente nas primeiras reuniões de transição a vontade de ficar na PGR.

 

PONTOS-CHAVE

O caminho e as escolhas da nova PGR

Indicação

Raquel Dodge ficou em segundo lugar na lista tríplice dos procuradores da República, atrás de Nicolao Dino, alinhado ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot.

 

Posse

Nomeada por Temer, Raquel tomou posse anteontem com discurso em defesa do ‘devido processo legal’ e criticou a corrupção, sem citar a Lava Jato.

 

Atuação

Raquel, em seu discurso, destacou que a atuação do Ministério Público Federal vai além do combate à corrupção, indicando uma ampliação de foco.

 

Equipe

A procuradora-geral trocou a equipe responsável por coordenar as investigações da Lava Jato em Brasília e manteve apenas dois indicados por Janot (foto).

 

GRUPO DE TRABALHO

Raquel Branquinho

A secretária da Função Penal na Procuradoria-Geral da República terá sob seu comando o grupo de trabalho da Lava Jato.

 

José Alfredo da Silva

O coordenador do grupo de trabalho da Lava Jato é lotado na Procuradoria Regional da República da 1ª Região. Atuou no mensalão.

 

Hebert Mesquita

O procurador integrou a força-tarefa da Operação Zelotes. Já foi delegado da Polícia Federal.

 

José Ricardo T. Alves

É lotado no Estado de Tocantins e atua na Operação Ápia, que apura desvios de obras rodoviárias.

 

Luana Vargas Macedo

A procuradora da República integra a força-tarefa da Operação Greenfield – que inclui as operações Sépsis e Cui Bono?.

 

Marcelo R. de Oliveira

Procurador tem experiência em investigações de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

 

Maria Clara Barros Noleto

É do grupo de trabalho desde 2016, sob condução de Janot. Foi procuradora-chefe na Procuradoria da República no Pará.

 

Pedro Jorge do N. Costa

É o outro remanescente do grupo de Janot. É procurador da República com atuação criminal em Pernambuco.