O globo, n. 30854, 27/01/2018. ECONOMIA, p.19

RIO PERDE 92 MIL VAGAS

MANOEL VENTURA

DAIANE COSTA

 

 

Estado tem pior resultado do país em 2017, mas este ano analistas não descartam leve recuperação

O Estado do Rio perdeu 92 mil vagas de emprego com carteira assinada em 2017, o pior resultado no país, que teve o terceiro ano consecutivo de perda de postos de trabalho formais, com 20 mil vagas a menos. Especialistas apontam a crise do governo estadual e o impacto dos problemas da Petrobras e do governo estadual como as principais causas para o resultado ruim do Rio, classificado de calamitoso pelo Ministério do Trabalho. A boa notícia é que o cenário de inflação e juros mais baixos, associado a uma constante melhora financeira da estatal petrolífera, deve fazer com que o mercado reaja este ano.

— O Rio de Janeiro está fora da curva e sofreu bastante. Isso aponta para uma situação calamitosa. Há uma situação local que precisa ser resolvida. Passou o período de grandes eventos, a questão da Petrobras também influencia o mercado de trabalho, e o estado, que passa por uma situação fiscal muito ruim, tem uma grande participação dos servidores públicos na economia — disse o coordenador de estatística do Ministério do Trabalho, Mário Magalhães, durante a divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ontem, em Brasília.

Das 27 unidades da federação, 15 tiveram saldo positivo no ano passado. Mas o desempenho do Rio destoa até mesmo entre os demais estados que fecharam postos formais em 2017. Em Alagoas, o segundo pior resultado, foram perdidos 8,2 mil empregos com carteira, onze vezes menos que o Rio.

— A Petrobras teve um problema seríssimo por conta dos esquemas de corrupção e da queda do preço do barril de petróleo, e temos ainda a crise fiscal do estado. A Petrobras é uma grande contratadora de serviços, assim como o governo. Os atrasos de salários dos servidores também levam as famílias a cortar gastos, impactando comércio e serviços. No ano anterior, muitos empregos foram gerados pelos Jogos Olímpicos, vagas que não existirão mais, então todas essas pessoas terão de buscar recolocação — avalia Bruno Ottoni, economista especialista em mercado de trabalho do Ibre/FGV.

Thaís Zara, economista da Rosenberg Associados, observa que o fechamento de vagas no estado se concentrou no primeiro trimestre, reflexo direto das dispensas pós-Olimpíada, principalmente na construção civil e serviços. Os demais trimestres não foram tão ruins. Reflexo disso é que o saldo do ano passado, ainda que negativo, é melhor que o registrado em 2015 (quando foram fechadas 183,1 mil vagas) e 2016 (perda de 238,5 mil postos). Nesses três anos, o estado perdeu 513,7 mil vagas formais.

 

ESTE ANO, PREVISÃO DE ATÉ 1 MILHÃO DE VAGAS

Com uma recuperação da Petrobras, impulsionada pelos leilões e pelo aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional, atualmente em torno de US$ 70 (a maior cotação desde que começou a despencar, em meados de 2014), e de um crescimento do consumo das famílias — que estão menos endividadas, com melhor acesso a crédito e sofrendo menos a pressão da inflação —, analistas acreditam que o estado pode ter um resultado melhor em 2018.

— É possível que consiga chegar a um resultado perto da estabilidade ou até mesmo a um leve positivo no saldo de empregos — afirma Ottoni, lembrando que a melhora no preço do barril de petróleo também pode amenizar a crise fiscal, tendo em vista que boa parte da receita do estado vem dos royalties de petróleo.

O risco, pondera o economista, vem da violência crescente, que tem levado empresas a deixarem o estado, o que acarreta aumento de frete, além de inibir a população de sair de casa para lazer.

Todos os setores demitiram mais que contrataram em 2017 no Rio. O pior desempenho foi o de serviços, com fechamento de 47.052 postos. Depois vêm construção civil (-19.448), indústria (-11.944), comércio (-7.791) e administração pública (-2.105). As cidades que mais encerraram vagas de trabalho com carteira assinada, no estado, foram a capital (-55.527), Macaé (-8.904), Duque de Caxias (-8.329) e Niterói (-4.985).

As perspectivas para o cenário nacional são mais positivas, ainda que estejam longe de recuperar os 2,8 milhões de empregos com carteira perdidos no país entre 2015 e o ano passado. De acordo com a FGV e a Consultoria Tendências, este ano o Caged deve voltar a ter saldo positivo, entre 500 mil e 1 milhão. A explicação é a mesma que vale para o Rio: uma conjuntura mais favorável ao consumo, com um crescimento da economia em torno de 3%.

— Em 2017, a perda de vagas é estabilidade, tendo em vista que, no ano anterior, foi fechado 1,5 milhão. É um resultado que vem em linha com as perspectivas para o PIB do ano passado, que deve crescer em torno de 1%, depois de recuar 3,5% em 2016. Isso mostra que o emprego respondeu a esses sinais de melhora, o que voltará a ocorrer com maior intensidade em 2018 — explica Thiago Xavier, analista de mercado de trabalho da Tendências.

 

Fonte: Caged Editoria de Arte