Correio braziliense, n. 19876, 23/10/2017. Opinião, p. 09.

 

A qualidade passa pela valorização do professor

Lúcia Vânia

23/10/2017

 

 

No mês em que se comemora o Dia do Professor, devemos refletir sobre um dos assuntos mais importantes em pauta no país: as 20 metas do Plano Nacional de Educação 2014-2024 (PNE), das quais cinco dizem respeito diretamente aos professores. No PNE, está claro que a melhoria da qualidade do ensino passa, obrigatoriamente, pelos docentes, pelo aperfeiçoamento e valorização do professor.

Acredito que o investimento no professor é um dos caminhos mais seguros para a mudança que queremos na educação. Em cada sala de aula, em cada escola deste país, precisamos de profissionais comprometidos com a constante revisão da eficiência do processo de ensino-aprendizagem, bem formados e, principalmente, bem remunerados.

Mas, infelizmente, o que deveria ser senso comum ainda é um plano, ideia que, embora expressa em planos nacionais e leis, não se tornou realidade. A apatia do poder público diante da contínua desvalorização dos profissionais da educação ajuda a explicar os resultados negativos de nossos estudantes em exames internacionais.

O desempenho dos alunos brasileiros na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2016, foram piores do que os alcançados na edição anterior. Em ciências, nossa nota caiu de 405 para 401; em leitura, de 410 para 407 e, em matemática, de 391 para 377. A maioria dos estudantes obteve nota abaixo do nível mínimo: 56% em ciências; 50%, em leitura; e 70%, em matemática, o que levou o Brasil a ficar no 65° lugar entre as 70 nações submetidas às provas.

Embora avanços tenham sido registrados nos últimos anos, como o aumento no número de matrículas e consequente melhora dos índices de escolarização, além da distribuição mais eficiente de material didático, um aspecto fundamental para o sucesso tem sido sistematicamente negligenciado — os professores. Se quisermos promover mudanças no nosso sistema de ensino, temos de investir, principalmente, na formação e valorização dos docentes.

Essa não é constatação recente. Desde o lançamento do PNE 2014-2024, sabíamos que esse seria o caminho, e a história de Cingapura, país que apresentou os melhores resultados no Pisa, corrobora com essa análise. Em meados dos anos 1990, o país percebeu que os professores não eram respeitados e que, por isso, o número de estudantes que almejavam abraçar o magistério era cada vez menor. Perceberam, também, que, sem bons mestres nas salas de aula, seria impossível mudar a realidade da educação no país. Decidiram atrair os melhores profissionais, equiparando-lhes os salários aos de engenheiros e passaram a lhes divulgar o trabalho.

Anos depois, em pesquisa sobre qual profissão havia contribuído para a construção da nação, os professores apareceram em primeiro lugar. Os frutos dessa política se colhem nos testes internacionais. No Pisa, o país recebeu as melhores notas em todas as disciplinas: 556 em ciências; 535 em leitura e 564 em matemática. É preciso discutir a educação no Brasil. É preciso encarar os resultados negativos como indicadores de que urge a mudança tão necessária. Impõe-se reconhecer que o professor é a ponta de lança desse processo e merece todo o apoio que o Estado e a sociedade possam lhe dar.

Em visita ao Brasil, o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama defendeu a ideia de que o investimento em educação é fundamental para um país ser bem-sucedido. Concordo com Obama e acrescento que um povo bem-educado supera crises econômicas, contribui para o desenvolvimento de seu país, corrige mazelas sociais, vota com consciência. E quem educa o povo é o professor.

No mês do professor, celebro a coragem e a resiliência de nossos mestres, que lutam, obstinados, contra todas as adversidades para dar às nossas crianças, aos nossos jovens a formação transformadora de que tanto precisam.

(...)

 

LÚCIA VÂNIA

Senadora e presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado