O Estado de São Paulo, n. 45273, 30/09/2017. Política, p. A8.

 

‘Nunca mais vamos ganhar a vida fazendo rolo’, diz delator

30/09/2017

 

 

Segundo a revista ‘Veja’, em áudio recuperado pela PF, Joesley Batista e Ricardo Saud, ambos da J&F, falam sobre acordo

 

 

Em gravações recuperadas pela Polícia Federal, um dos donos da J&F, o empresário Joesley Batista, ao comentar as negociações para firmar acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, diz ao executivo do grupo, Ricardo Saud, que “com essa história aqui (delação), nós não vamos fazer rolo nunca mais”. Na sequência, Saud, que também fechou acordo de delação, responde: “Nós nunca mais vamos ganhar a vida fazendo rolo”.

Em outra gravação, Joesley relata a um interlocutor identificado apenas como “Gabriel” sua estratégia para se safar de uma investigação. “Ô, meu, é a coisa mais simples do mundo, porque se você tem problema e o problema é, como se diz, batom na cueca, ô, meu, corre lá e faz a p... dessa delação.”

Os áudios foram revelados ontem pela revista Veja. De acordo com a revista, a gravação é uma das quatro que foram omitidas da Procuradoria-Geral da República pelos delatores da J&F. A descoberta das gravações levou, posteriormente, o então procurador-geral Rodrigo Janot a pedir a rescisão do acordo de delação e as prisões de Joesley e Saud.

Em nota, a J&F afirmou que “tais gravações já haviam sido recuperadas dos aparelhos entregues há meses por Joesley Batista à Polícia Federal, e estavam com sigilo decretado pelo STF por se tratarem de diálogos entre advogados e clientes”.

Gravadas logo após uma reunião entre os delatores da JBS e membros da Procuradoria-Geral da República, as conversas tratam de detalhes da negociação que resultou na imunidade penal aos delatores. Em um trecho, a advogada que na ocasião representava a J&F, Fernanda Tórtima, afirma que a PGR não perderia a oportunidade de fechar o acordo.

Segundo ela, a melhor opção seria Joesley sair do País. “Pra eles (procuradores) é bom que você se ‘pirulite’ do Brasil também. Se for pra dar imunidade, que seja fora pra ninguém ver tua cara, ninguém lembrar que você existe. Você longe daqui, sumido, as pessoas esquecem que você ganhou imunidade.”

Em outro trecho, Joesley se mostra entusiasmado com os próximos passos do grupo nos EUA. “Vou fechar essa p... em 15 de março. A gente vaza e faz filing SEC e faz IPO”, disse ele, referindo-se aos planos de abertura de capital da JBS Foods International.

‘Armação’. Em nota, o a Presidência da República afirmou que “a cada nova revelação das gravações acidentais dos delatores do grupo JBS demonstra-se cabalmente a grande armação urdida desde 17 de maio contra o presidente Michel Temer”.

No texto, o Planalto pede punição em “todas as esferas”. “Não se pode mais tolerar que investigadores atuem como integrantes da santa inquisição, acusando sem provas e permitindo a delatores usarem mecanismos da lei para fugir de seus crimes. Cabe agora, diante de tão grave revelação, ampla investigação para apurar esses fatos absurdos e a responsabilização de todos os envolvidos, em todas as esferas.”

 

 

DIÁLOGOS

 

 

Joesley e interlocutor chamado de Gabriel

 

Joesley - “Ô, meu, é a coisa mais simples do mundo, porque se você tem problema e o problema é, como se diz, batom na cueca, ô, meu, corre lá e faz a p... dessa delação.”

 

Joesley e Ricardo Saud, executivo da J&F

Joesley - “Com essa história aqui (delação), nós não vamos fazer rolo nunca mais.”

Ricardo Saud - “Nós nunca mais vamos ganhar a vida fazendo rolo.”

 

Joesley e a advogada Fernanda Tórtima

Joesley - “Vou amanhecer em Nova York, se Deus quiser. Eu vou ficar aqui, Fernanda? Cê tá louca? Soltar uma bomba dessa aí e ficar aqui fazendo o quê?”

Fernanda - “Pra eles (procuradores) é bom que você se pirulite do Brasil.”