Correio braziliense, n. 19883, 30/10/2017. Política, p. 2

 

A união do centro contra os extremos 

Denise Rothenburg

30/10/2017

 

 

PODER EM CRISE » Apesar de todos buscarem o protagonismo nas eleições de 2018, partidos começam a defender alianças para combater a tendência radical à direita ou à esquerda demonstrada em pesquisas de intenção de voto

Diante da persistência de uma polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deputado federal Jair Bolsonaro a menos de um ano da eleição presidencial, partidos começam uma série de exercícios e conversas no sentido de aglutinar forças. O problema é que cada um se vê como “a novidade” para atrair o eleitor, seja no campo da esquerda que não deseja seguir com Lula, seja ao centro, em que todos rejeitam o extremista Bolsonaro.

O primeiro a fazer ensaios neste sentido foi o PSDB que, depois da queda de avaliação do prefeito de São Paulo, João Doria, afunilou as forças em torno do governador paulista, Geraldo Alckmin. Internamente,os dois se esforçam em busca de unidade, fizeram questão de posar lado a lado na convenção do PSDB paulistano ontem. Existe inclusive movimentos para fazer de Doria vice de Alckmin, conforme antecipou, na última quarta-feira, o blog da Denise, no site do Correio Braziliense. Porém, fora de São Paulo, a construção não colou.

“Não tem chance. Uma chapa pura paulista perde força no restante do país. João Doria é o candidato natural ao governo de São Paulo. Assim, o partido tem chance de eleger o governador, ficar com a prefeitura e ter em Alckmin o melhor nome para a Presidência da República”, diz o presidente do PSDB do Distrito Federal, deputado Izalci Lucas, que planeja disputar o governo local.

Rechaçada no próprio partido, a dobradinha Geraldo-João serviu, entretanto, para tirar outros partidos da toca e levá-los a aprumar as conversas com o PSDB. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, buscou a aproximação. O carioca tem como plano A a reeleição para deputado federal e, assim, tentar reconquistar a Presidência da Câmara. Mas não está descartada a presença dele no palanque de Geraldo, de forma a reforçar o candidato tucano no Rio de Janeiro.

O DEM, entretanto, vai aproveitar o período de ensaios rumo a 2018 para testar o poder de fogo de suas estrelas. “Temos nossos quadros, por que não apresentá-los?”, diz o líder da bancada, Efraim Filho (PB). A ideia é apresentar, além de Maia, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que já foram citados como potenciais candidatos a presidente da República ou a vice, mas jogam para concorrer ao governo dos respectivos estados, Bahia e Goiás.

Enquanto o DEM faz apostas, o PTB de Roberto Jefferson está a postos para seguir com Geraldo Alckmin há tempos. Outras legendas, como o PP, o PR e o PSD aguardam os movimentos do PMDB, considerado um dos mais afastados do PSDB. Isso porque o presidente Michel Temer tem plena consciência de que não adianta insistir, os tucanos não defenderão seu governo. Temer não quer repetir José Sarney — o presidente da República que passou pela eleição de 1989, a primeira depois da redemocratização, atacado por todos os candidatos. Por isso, busca um nome para defender a continuidade do governo. Como os tucanos não querem o papel, a tendência do PMDB hoje é acolher uma candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como o beque do governo no horário eleitoral gratuito. Aliás, com a aliança PMDB-PSD, Meirelles teria tempo de sobra para defender os feitos de Temer à frente do país.

Esquerda pulverizada

Os partidos mais ao centro apostam que Jair Bolsonaro não terá tempo de tevê para reproduzir sua mensagem e que o segundo lugar das pesquisas não se repetirá na urna. O mesmo vale para a esquerda, que hoje tem Lula como o representante mais popular nos levantamentos. PSol, Rede, PDT, PSB têm dúvidas se Lula será candidato e rejeitam a aproximação com os petistas. Porém, a divisão entre eles é maior do que a dos partidos de centro. O PSol e Rede têm caminhos próprios rumo a 2018. O PDT tem Ciro Gomes como ponta de lança para o próximo ano.

O PSB encolhe a olhos vistos ao mesmo tempo em que conversa com os pré-candidatos a Presidência. Em entrevista ao programa CB.Poder na semana passada, o presidente do partido, Carlos Siqueira, abriu o leque de opções e evitou fechar apoio a esse ou àquele pré-candidato. “Essa questão será resolvida lá para fevereiro, março. Conversamos com Geraldo Alckmin, com Ciro Gomes, vamos conversar com Marina Silva. Temos que apoiar um candidato cujo programa tenha coerência com o nosso partido”, disse.

Aliás, apesar de preocupados e interessados que Lula e Bolsonaro não consolidem as posições das pesquisas, os partidos sabem que o quadro eleitoral continuará tumultuado até março, quando estará aberta a janela partidária para troca de legenda. Por exemplo, no fim de outubro de 2013 já se sabia que Marina Silva seria vice de Eduardo Campos em 2014, por causa do prazo de um ano para filiação partidária. Agora, com o prazo reduzido a seis meses antes das eleições, ninguém está com pressa de definir caminhos. A ordem é esperar para ver a forma mais segura de evitar um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. É nisso que a maioria dos partidos, dos tradicionais aos novos, trabalham para a eleição de 2018.

Frase

"João Doria é o candidato natural ao governo de São Paulo. Assim, o partido tem chance de eleger o governador, ficar com a prefeitura e ter em Alckmin o melhor nome para a Presidência da República”

Izalci Lucas, presidente do PSDB-DF