Correio braziliense, n. 19913, 29/11/2017. Política, p. 4

 

PF aponta crimes de Geddel

Renato Souza 

29/11/2017

 

 

PODER » Ex-ministro é suspeito de lavagem de dinheiro e associação criminosa na apuração sobre as malas com dólares e reais apreendidas em Salvador

Investigações da Polícia Federal apontam que o ex-ministro Geddel Vieira Lima cometeu os crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Os indícios são descritos no relatório que compõe o inquérito que investiga a origem dos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento emprestado a ele, em Salvador. O documento, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), conclui que o dinheiro teve origem em desvios da Caixa Econômica Federal, na prática de caixa dois em campanhas eleitorais e em desvio de salário de secretários parlamentares.

A apuração, a partir de documentos do Banco Central, descobriu que as cédulas encontradas no imóvel foram distribuídas de agências do Banco do Brasil na cidade de São Paulo, entre 2012 e 2015. A localização foi obtida a partir de dados fornecidos pelo BC, que analisou a numeração impressa nas notas.

Além de Geddel, também são investigados o irmão dele, deputado Lúcio Vieira Lima, o ex-assessor parlamentar Job Ribeiro, o advogado Gustavo Ferraz e Marluce Vieira Lima, mãe do ex-ministro. Os valores teriam sido desviados da Caixa enquanto Geddel era vice-presidente de Pessoa Jurídica da instituição financeira.

No relatório, a PF aponta que parte dos valores chegou a ser armazenada na casa de Marluce Vieira Lima. Depois, o montante foi levado em malas para o apartamento localizado na capital baiana. “Entendemos estarem presentes nos autos suficientes indícios dos crimes de associação criminosa, previsto no Artigo 288 do Código Penal Brasileiro, e de lavagem de dinheiro, previsto no Artigo 1 da Lei nº 9.613/1998”, destaca um trecho do documento. “Passados quase 3 (três) meses da apreensão da quantia milionária, não foi apresentada qualquer documentação que viesse dar um mínimo de suporte aos valores apreendidos”, concluíram os investigadores.

No início das diligências, a Polícia Federal recebeu uma denúncia anônima, por telefone, informando que o imóvel estava sendo usado por Geddel para armazenar pertences do pai, já falecido. No entanto, o doleiro Lúcio Funaro afirmou em depoimento que tinha repassado propina para o ex-ministro. As declarações fizeram as equipes policiais seguirem até o apartamento, onde foram encontradas nove malas com R$ 51 milhões em espécie. Procurada pela reportagem, a defesa de Geddel Vieira Lima não retornou as ligações.

Em liberdade

Job Ribeiro, ex-assessor parlamentar de Lúcio Vieira e que estava em prisão domiciliar, teve a detenção revertida pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF. Ele apresentou ao Supremo documentos que provam que ele entregava 80% do salário para Lúcio e Geddel. As provas foram apresentadas em meio à negociação de um acordo de delação premiada com o Ministério Público.

Em pedido enviado ao STF, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu que a prisão domiciliar fosse revertida. De acordo com a decisão do ministro, Job também está liberado da obrigação de utilizar tornozeleira eletrônica. Em documento enviado ao ministro Fachin, um escrivão da Polícia Federal, lotado em Brasília, afirma que à capital federal chegaram apenas sete das nove malas apreendidas no apartamento de Salvador. No entanto, o documento ainda cita dois malotes recebidos pela PF no DF.

Uma fonte ligada à PF informou ao Correio que o dinheiro apreendido não sofreu nenhuma perda, e que apenas as malas não foram encaminhadas para Brasília. Em nota, a PF confirma que não houve alterações nos valores recolhidos no apartamento. Segundo a corporação, as malas apontadas como desaparecidas estão na Bahia.

Digitais

O ex-assessor de Lúcio Vieira Lima teve as digitais identificadas pela Polícia Federal em parte dos R$ 51 milhões apreendidos em setembro no apartamento em Salvador que, segundo as investigações, era usado como uma espécie de “bunker” de Geddel.

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Presidente do PR finalmente se entrega

29/11/2017

 

 

O ex-ministro dos Transportes Antônio Carlos Rodrigues, que também é presidente do PR, se entregou na Superintendência da Polícia Federal, na tarde de ontem, em Brasília. Ele estava foragido desde sexta-feira, quando teve a prisão decretada pela Justiça do Rio de Janeiro. O político é acusado de ter cometido diversos crimes, entre eles, corrupção, falsidade ideológica e participação em organização criminosa.

Antônio Carlos é alvo da mesma investigação que levou os ex-governadores Rosinha e Anthony Garotinho para a cadeia. Ele foi ministro dos Transportes no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, o ex-ministro negociou doação de dinheiro em forma de propina com a JBS. Os recursos ilegais teriam abastecido a campanha de Garotinho para o governo estadual, em 2014.

A denúncia contra ele tem como fundamento afirmações realizadas pelos empresários Wesley e Joesley Batista, do grupo J&F, que controla a JBS. O executivo Ricardo Saud também fez acusações contra Antônio Carlos em acordo de colaboração premiada.

Antes de se apresentar na Superintendência da PF, o ex-ministro ficou em um hotel na cidade de São Paulo. O advogado Daniel Bialski, que defende Antônio Carlos, afirma que ele não se entregou antes por problemas de saúde. “Nós estávamos aguardando o julgamento de um recurso apresentado na Justiça. Meu cliente também não estava em boas condições de saúde. Mas agora ele demonstra que não está tentando fugir ou obstruir as investigações”, afirma. O político chegou à PF no mesmo horário em que o empresário Joesley Batista prestava depoimento. Ele estava acompanhado do advogado e deve permanecer na unidade policial até determinação da Justiça. (RS)