Correio braziliense, n. 19886, 02/11/2017. Política, p. 04.

 

Presidente trabalha no feriado

Paulo de Tarso Lyra

02/11/2017

 

 

Depois de se submeter a cirurgia, Michel Temer pretende dar uma sacolejada no governo, aparar arestas no Congresso Nacional e retomar discussões de projetos como a reforma da Previdência

 

 

Após se recuperar em São Paulo da cirurgia de raspagem da próstata, o presidente Michel Temer retornou ontem a Brasília para passar o feriado sem agenda oficial, mas disposto a dar um novo ânimo ao governo. Livre do risco de ser processado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por obstrução de Justiça e organização criminosa, o peemedebista vai dividir a sua estratégia de ação em três esferas: legislativa, econômica e política. Mesmo com a redução mais acentuada em sua base de apoio — apenas 251 deputados votaram a favor do arquivamento da denúncia —, o Planalto ainda não jogou a toalha e quer retomar as discussões da reforma da Previdência.


Para tentar amansar parlamentares, como já adiantou o Correio, Temer pretende alternar a pauta do Executivo com a do Congresso. Já fez isso em matérias como as novas formas de financiamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a ampliação do número de municípios mineiros incluídos na Sudene e a extensão do porte de arma para agentes penitenciários. Com isso, espera ter benevolência de deputados e senadores na aprovação das medidas provisórias do ajuste fiscal e, especialmente, nas mudanças nas regras de aposentadoria.

O governo tampouco quer saber de crises com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Ninguém conduz uma pauta desse nível brigado com os comandantes do Legislativo. E nenhum presidente da Câmara aprova matérias importantes, tendo que negociar com a base e a com oposição, estando rompido com o Planalto”, resumiu um aliado de Temer.

A segunda frente de ação é econômica. O governo espera consolidar novas ações e colher os frutos do que plantou. Estimativas moderadas do Planalto apontam a possibilidade de o Produto Interno Bruto (PIB) crescer mais do que os 2% previstos pelo mercado em 2018. Além disso, podem ser criados cerca de 6 milhões de empregos, o que reduziria a praticamente a metade a taxa de desocupação do país.

Lei trabalhista
A aposta também é na modernização. O governo espera ansioso o 11 de novembro, quando entrará em vigor a nova legislação trabalhista. Alguns empresários já teriam avisado que estão apenas esperando isso para se movimentar rumo às contratações. Projetos como as novas regras dos apps de transporte e o que retoma a ideia do Céu Aberto — um acordo fechado entre a Latam e a América Latina — também avançarão.

O primeiro foi votado pelo Senado na noite de terça-feira, mas só deve ser apreciado pela Câmara em 2018 ou 2019. O segundo é fruto de um acordo firmado entre os então presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama, dos Estados Unidos. A parceria nunca decolou, e Temer encaminhou um projeto ratificando a proposta, mas que ainda espera análise dos parlamentares. O presidente também fará uma série de viagens pelo sudeste asiático — sobretudo Cingapura, onde um fundo soberano bilionário atrai países dispostos a receber investimentos — e à Suíça, para participar do Fórum Econômico de Davos.

Por fim, o Planalto prepara-se para recompor as relações políticas. Embora faça parte de suas características de negociação, Temer quer privilegiar os entendimentos institucionais com as cúpulas partidárias e diminuir as conversas isoladas, no varejo. O objetivo é manter a coalização atual de governo unida para lançar um candidato às eleições de 2018.

Ameaça de agressão no PSDB
Em mais um episódio da crise interna no PSDB, deputados da ala que defende o apoio do partido ao governo Temer bateram boca com o presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), que é favorável ao rompimento. A briga ocorreu durante encontro da bancada tucana na Câmara. Segundo dois deputados, que não quiseram se identificar, houve ameaças de agressão. A reunião foi para que a empresa Ideia Big Data fizesse uma exposição sobre o plano de reestruturação de comunicação do partido nas redes sociais. A discussão começou quando os deputados Domingos Sávio (MG), Paulo Abi-Ackel (MG) e Giuseppe Vecci (GO) criticaram a contratação da empresa, feita por Tasso. Os três são aliados do senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado da sigla. A reação negativa é devido ao fato de o vice-presidente de Digital da empresa, Moriael Paiva, ter sido o responsável pela campanha do governador Fernando Pimentel (PT) em 2014, que derrotou a candidatura do tucano Pimenta da Veiga, apoiado por Aécio, ao governo de Minas.