Título: Governo manda infantaria a Homs
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Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2012, Mundo, p. 19

Primeiro ataque terrestre ao reduto opositor pretende eliminar rebelião contra Al-Assad

Alvo de uma série de bombardeios há meses, o bairro rebelde de Baba Amr, na cidade de Homs, centro da Síria, sofreu ontem, pela primeira vez, uma ofensiva terrestre pela infantaria do Exército nacional. O regime do presidente Bashar Al-Assad tenta conter a rebelião no local — de acordo com analistas internacionais, por medo de que Homs se transforme na capital da resistência ao governo, como ocorreu com a cidade líbia de Misrata. "O setor está controlado. O Exército procedeu uma limpeza quadra por quadra, casa por casa e agora os soldados estão verificando cada porão e túnel em busca de armas e terroristas", afirmou uma fonte das forças de segurança em Damasco à agência de notícias AFP. "Ainda restam alguns focos de resistência por eliminar", acrescentou. No mesmo dia, a Síria negou o ingresso da chefe de operações humanitárias da Organização das Nações Unidas (ONU), Valerie Amos, no país. Sua visita seria em uma missão para avaliar a crise na região, que, segundo funcionários da ONU, acontece por causa da violenta repressão contra os manifestantes sírios.

O bairro foi bombardeado desde o período da manhã, após uma noite sem ataques. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) descreveu a ofensiva como vários "combates no perímetro de Baba Amr entre o Exército regular e grupos de desertores que querem impedir o ataque" ao bairro. "São ouvidos explosões e tiros em outros lugares", comentou o órgão. Além dos atentados, os militares também fecharam os acessos a Homs, a fim de acabar com a resistência dos manifestantes. "As forças do regime conseguiram interromper uma rota clandestina pela qual chegavam provisões, e o acesso à cidade está suspenso", informaram chefes do Exército Sírio Livre, grupo opositor a Al-Assad.

Matança A violência no país deixou, apenas na terça-feira, 48 mortos, dos quais 33 civis. A maioria estava em Homs. Um alto funcionário da ONU divulgou que as vítimas da repressão já passam de 7,5 mil mortos, fato que tem motivado as organizações internacionais a nomear enviados para tratar do assunto da crise síria. Uma dessas pessoas é o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, que foi nomeado na última quinta-feira representante especial da organização e da Liga Árabe para lidar com o problema. Essa iniciativa, no entanto, foi questionada pelo chefe da diplomacia em Damasco, Walid Mouallem, que pediu às Nações Unidas mais informações sobre o objetivo da missão de Annan.

Valerie Amos, que também pretendia ir à Síria em missão diplomática devido aos confrontos, aguardava, em Beirute, capital do Líbano, o visto para ingressar no país. O governo de Al-Assad, no entanto, nem sequer respondeu à solicitação da subsecretária-geral da ONU, segundo diplomatas. "Estou profundamente decepcionada por não ter conseguido visitar a região, apesar de meus reiterados pedidos para me reunir com as autoridades sírias para discutir a situação humanitária e a necessidade de um acesso sem obstáculos às pessoas afetadas pela violência", lamentou Amos, em comunicado. "A cada dia que não conseguimos entrar em contato com as pessoas, principalmente nos locais onde há violentos confrontos, o sofrimento delas aumenta", completou.

Jornalistas atacados O repórter espanhol Javier Espinosa, que estava preso no bairro de Baba Amr, em Homs, com outros três jornalistas estrangeiros, conseguiu chegar à capital libanesa, Beirute, após o comboio que tentava levar o grupo para o Líbano ter sido atacado na terça-feira. Espinosa se perdeu dos outros jornalistas depois do atentado. O repórter fotográfico britânico Paul Conroy, ferido na perna durante o ataque, também está em Beirute.