O globo, n. 30878, 20/02/2018. PAÍS, p.3

Comissão de Ética da Presidência investiga declarações de Segovia

KARLA GAMBA

JAILTON CARVALHO

CAROLINA BRÍGIDO

 

 

Diretor da PF indicou que inquérito sobre Temer seria arquivado por falta de provas

A Comissão de Ética Pública da Presidência abriu processo para investigar as declarações do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, sobre falta de provas e possível arquivamento do inquérito que investiga envolvimento do presidente Michel Temer com corrupção relacionada à edição de um decreto sobre portos. Em audiência ontem com o ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), Segovia disse que seus comentários foram distorcidos.

A investigação foi aberta na Comissão de Ética na última sexta-feira a partir de uma representação do deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Segovia terá dez dias, contados a partir de ontem, para dar explicações aos membros da comissão.

— Queremos saber se as informações privilegiadas foram conservadas, se houve ou não alguma espécie de transgressão praticada pelo diretor-geral da Polícia Federal ao prestar tais declarações — afirmou o presidente da comissão, Mauro Menezes.

Após o prazo paras as explicações de Segovia, a comissão deverá designar um relator para o caso e decidir pela absolvição ou punição do diretor da PF.

— Nós não estamos referendando os termos da representação. A comissão ouvirá os esclarecimentos do diretor-geral da Polícia Federal para que possa se pronunciar se houve ou não a alegada infração ética por parte de Segovia — disse o presidente.

Indagado sobre o tipo de punição que o diretor da PF poderia receber, Menezes não quis se antecipar:

— Nós ainda estamos em uma fase muito preliminar e talvez seja precoce estabelecer qualquer espécie de prognóstico. Preferimos, de forma prudente, escutar os esclarecimentos do diretor para projetarmos uma continuidade, se houver, desse procedimento.

Na audiência com Barroso, Segovia disse não ter tentado interferir no andamento das investigações sobre Temer e nem ameaçado o delegado Cleyber Malta Lopes, que está à frente do caso. Barroso mandou incluir as explicações do diretor no inquérito.

Numa entrevista à Reuters, às vésperas do carnaval, Segovia disse que não havia indícios de corrupção na edição do decreto sobre concessão dos portos no país, e indicou que o inquérito seria concluído em menos de três meses com sugestão de arquivamento por falta de provas. O diretor-geral também comentou que, se houvesse reclamação formal de Temer, Cleyber Lopes poderia sofrer algum tipo de punição.