Correio braziliense, n. 19891, 07/11/2017. Política, p. 4

 

Temer: reforma em risco

Rodolfo Costa 

07/11/2017

 

 

PODER EM CRISE » Em reunião com líderes da base aliada, o presidente admite que são pequenas as chances de aprovação integral do texto atual da PEC da Previdência. Mas ele ressalva que continuará a defender a votação das mudanças na aposentadorias

O presidente Michel Temer acredita serem muito pequenas as chances de votar a reforma da Previdência com o texto atual. E pior: reconhece que ela pode nem ser aprovada no atual mandato. Pela primeira vez desde que a proposta seguiu para o Congresso, o peemedebista admitiu, em reunião com líderes governistas da Câmara, que ela pode não ser aprovada “em todo o conjunto”.

A articulação e o empenho pela aprovação serão mantidos, assegurou Temer. Mas sinalizou que a proposta poderá sofrer modificações e ficar mais enxuta. “Embora você não consiga fazer todo o conjunto do que a reforma previdenciária propõe, mas quem sabe, nós conseguimos, avançar”, afirmou.

O peemedebista disse, ainda, que é preciso discutir o assunto para que ela possa ser debatida “mais adiante”. “Até certo ponto que permita, a quem venha depois, mais adiante, fazer uma nova revisão da Previdência Social”, declarou. As falas de Temer deixaram claro o tom de que ele procura chegar a um denominador comum com os parlamentares. “Eu vejo muitas vezes que muitos pretendem derrotá-la, supondo que derrotando-a estão derrotando o governo. E assim não é verdade: derrotam o Brasil”, afirmou.

Não há consenso para a aprovação da reforma com o texto atual. Sem mudanças, aliados reconhecem que seria uma missão impossível enviar a matéria para o Senado. A ideia do Planalto, agora, é trabalhar para suavizar a proposta de emenda à Constituição (PEC) e manter pelo menos a idade mínima para aposentadoria, de 62 anos para mulheres e 65 para homens, e assegurar uma regra de transição.

Os dois pontos têm respaldo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que avalia que podem ser votados ainda em 2017 no plenário. Maia avalia que a idade mínima e a regra de transição são importantes para “acabar com a transferência de renda dos que ganham menos para os que ganham mais”.

Aprovar o texto, ainda que em um formato mais light, não será uma tarefa simples. Para isso, Maia defende que o governo articule a base e a convença da importância das mudanças. Diante disso, o Planalto iniciou ontem uma força-tarefa com os líderes para apurar quantos deputados ainda compõem a base governista. Os representantes das bancadas saíram da reunião com Temer com o compromisso de fazer uma reavaliação com os comandados.

O deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara, afirmou que a ideia é promover uma recontagem que permita aos aliados terem uma real noção da capacidade do governo em discutir a matéria. “Precisamos ouvi-los para chegar a um acordo. A base está consolidada, mas temos que recuperar os números”, afirmou. Nas contas dele, há 21 dias para colocar o texto em votação. “Temos prazo e condições de votar”, disse.