O Estado de São Paulo, n. 45265, 22/09/2017. Político, p. A8.

 

Funaro cita propina a Temer por usina

Fabio Serapião / Beatriz Bulla

22/09/2017

 

 

De acordo com delator, os repasses relativos a obras da hidrelétrica de Santo Antônio (RO) foram divididos entre peemedebistas e petista

 

 

O corretor Lúcio Funaro afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que o presidente Michel Temer foi um dos destinatários de propina paga pela Odebrecht e Andrade Gutierrez em uma obra da estatal Furnas no Rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia. As duas empreiteiras são sócias de Furnas na Santo Antônio Energia, responsável pela instalação e operação da Hidrelétrica Santo Antônio, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Segundo Funaro, além de Temer, receberam propina o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) – Cunha e Alves foram presidentes da Câmara e estão presos por causa de desdobramentos da Lava Jato. Todos negam as acusações (mais informações nesta página).

Funaro não citou os valores da propina. De acordo com o delator, Cunha lhe contou que os repasses foram acertados pelos ex-executivo da Odebrecht Benedicto Júnior, o “BJ”, e pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques Azevedo, que também são delatores.

“Os valores foram recebidos por Eduardo Cunha e, posteriormente, foram repartidos entre Henrique Eduardo Alves, Arlindo Chinaglia e Michel Temer”, disse Funaro em depoimento prestado em 24 de agosto. O relato do corretor foi anexado à denúncia oferecida pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer por organização criminosa e obstrução da Justiça.

Ainda segundo Funaro, “provavelmente os pagamentos foram feitos parte em espécie e parte em doação de campanha, como era feito de costume na maioria dos casos”. “Cunha costumava ira na casa de Otávio Azevedo, localizada perto do aeroporto, quando ia a São Paulo. Que (Funaro) não sabe precisar, nesse caso, o valor total pago e os porcentuais da divisão. Que Arlindo Chinaglia recebeu parte da propina porque era presidente da Câmara e ajudou a convencer o governo a entregar a presidência de Furnas para Eduardo Cunha”, diz trecho do depoimento do corretor.

Em delações, ex-executivos da Odebrecht disseram que um grupo de quatro parlamentares recebeu cerca de R$ 50 milhões em propina para ajudar a empreiteira e a Andrade Gutierrez na licitação de Santo Antônio.

Entre os citados pelos delatores, estão dois citados por Funaro em seu depoimento: Cunha e Chinaglia. Segundo os colaboradores da Odebrecht, o petista teria recebido R$ 10 milhões e Cunha, R$ 20 milhões.

 

Ex-ministro. A Polícia Federal mapeou todos os repasses realizados por Funaro a Henrique Alves. Segundo a PF, foram 15 pagamentos efetuados entre 2012 e 2014 que somam R$ 6,3 milhões. Em 2014, quando Alves foi candidato ao governo do Rio Grande do Norte, os agentes federais apontam o envio de R$ 4,8 milhões ao peemedebista.

Os repasses têm como base planilhas e anotações encontra- das em HDs apreendidos com uma irmã de Funaro, alvo da Operação Patmos, em 18 de maio. Além de entregas em dinheiro pessoalmente ao peemedebista, como uma no valor de R$ 3,5 milhões em 18 de setembro de 2014, a PF detectou doações eleitorais para partidos indicados por Alves e o pagamento de despesas com helicóptero usado na campanha de 2014.

Em delação, Funaro disse que conheceu Alves por meio de Cunha e que ele recebeu propina de operações realizadas pe- la vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa.

 

‘110%’. Em depoimento prestado em 23 de agosto, Funaro afirmou que “Cunha redistribuía propina a Temer, com 110% de certeza”, segundo o jornal O Globo. De acordo com a reportagem, no relato há citações a casos em que Temer, Cunha e outros integrantes do partido teriam recebido propina. O delator afirmou ainda, conforme o jornal, que o dinheiro era lavado com a compra de imóveis.

 

Corretor. Lúcio Funaro durante sessão da CPI das ONGs no Senado, em abril de 2010

 

Depoimento

“Os valores foram recebidos por Eduardo Cunha e, posteriormente, foi repartido entre Henrique Eduardo Alves, Arlindo Chinaglia e Michel Temer.”

Lúcio Funaro

CORRETOR, EM DEPOIMENTO À PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Cunha ganhou Porsche de dono da Gol, diz PF

Luiz Vassallo

22/09/2017

 

 

Compra do carro seria uma contrapartida pela aprovação de MPs de interesse do empresário Henrique Constantino

 

 

A Polícia Federal identificou nas planilhas do corretor Lúcio Funaro notas fiscais relativas a supostos pagamentos de propinas que ele teria operado em nome do dono da Gol, Henrique Constantino. Entre os itens identificados está a compra de um Porsche Cayenne pelo executivo da empresa aérea para o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Constantino é citado em diver- sos trechos dos documentos como pagador de vantagens indevidas a peemedebistas em troca de edições de medidas provisórias favoráveis à sua empresa.

Avaliado em R$ 429 mil, o Porsche foi um dos veículos apreendidos em 2015, quando Cunha foi alvo de um pedido de inquérito pela ProcuradoriaGeral da República (PGR). Na ocasião, também foram apreendidos um Ford Edge V6 (R$ 120,1 mil) e um Ford Fusion NA WD GTDI (R$ 92,6 mil). Os veículos estavam em nome da Jesus.com – empresa do deputado cassado e de sua mulher, Cláudia Cruz.

Na ocasião da prisão de Cunha, em outubro do ano passado, a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba apontou que empresas ligadas a Constantino teriam pago propinas ao deputado cassado por meio de transferências à Jesus.com. Os pagamentos também são citados no acordo de leniência da Gol.

Funaro afirmou, em delação, que pouco antes de ser preso tratou sobre um suposto crédito de R$ 100 mil com o empresá- rio. O objetivo, segundo o operador, era possibilitar que a empresa de Cunha “tivesse caixa oficial para pagar um veículo Porsche Cayenne adquirido da empresa Auto Miami”.

 

Pagamentos. As planilhas de Funaro apreendidas pela PF apontam para cinco formas de repasses supostamente feitos por Constantino: “pagamentos de notas fiscais emitidas por empresas de Lúcio Funaro”; “pagamentos realizados a terceiros, à ordem de Lúcio Funaro”; “pagamentos realizados diariamente às empresas do deputado Eduardo Cunha”; “pagamentos de notas fiscais de empresas de Lúcio Funaro para compra de um veículo Porsche Cayenne a Eduardo Cunha, co matroca de dinheiro vivo”; e “pagamentos de doações ao PMDB, em especial a Gabriel Chalita ”. / COLABORAM F.F. e F.S

 

Polícia Federal. Cunha esteve em Brasília para depor