Correio braziliense, n. 19895, 11/11/2017. Política, p. 3

 

Eleições estaduais definem rumos dos tucanos

Geraldo Alckmin

11/11/2017
 
 
Diretórios do PSDB escolhem novos nomes regionais do partido este final de semana. Depois da saída de Tasso do comando da legenda, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende união e o nome de

Os resultados das eleições dos diretórios estaduais do PSDB deste fim de semana darão o tom de como será a disputa pelo poder no partido. Dividido na maior crise interna da história, o ninho tucano começa a traçar rumos sobre a liderança que assumirá o comando da sigla em dezembro: o senador Tasso Jereissati (CE), representante dos cabeças-pretas; o governador de Goiás, Marconi Perillo, do lado dos cabeças-brancas e de Aécio Neves (MG) ou, até mesmo, uma terceira via aglutinadora: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Muitos vêem no pré-candidato à Presidência da República o melhor nome para pacificar o partido, inclusive, o ex-chefe do Executivo Fernando Henrique Cardoso e presidente de honra da legenda. Em depoimento publicado no fim da tarde de ontem no Facebook, Cardoso defende condições para que “líderes experientes e respeitados, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumam posição central no partido”.

“Tal coesão é requisito para enfrentarmos a próxima campanha eleitoral propondo as transformações pelas quais o país clama. Mais importante do que querelas internas ou do que eventual apego a posições, no partido ou no governo, é estarmos atentos ao clamor das ruas, como diz nosso manifesto de fundação(...). Estamos jogando o futuro, não apenas os próximos meses”, afirma em trecho. Caso a convergência sugerida não seja possível, FHC destaca apoio a Jereissati. “A vitória de um ou de outro não corresponde à vitória do bem contra o mal: precisamos permanecer juntos.”

A convenção nacional que elegerá uma nova diretoria está agendada para 9 de dezembro. Estão em jogo mais de 500 votos, entre membros do diretório nacional, presidentes de diretórios estaduais, parlamentares tucanos do Congresso e cerca de 150 delegados eleitos nos congressos estaduais. De acordo com o presidente destituído da legenda, Tasso Jereissati, os votos vão separar o joio do trigo. “Existe o nosso PSDB e o PSDB do momento que, ao longo dos anos, perdeu o rumo. A gente precisa estar pronto para enfrentar esse momento de desafios. E pronto não é quantidade, é qualidade”, afirmou o cearense. Na última quinta-feira, o senador Aécio Neves expulsou Tasso da presidência interina e nomeou o ex-governador Alberto Goldman para a função, alegando que a disputa precisa de “imparcialidade e equidade”.

Aliado a Aécio, o deputado federal Marcus Pestana (MG) entende que a disputa chegou a um ponto sem condições de reversão e unificação, mas ele não enxerga o momento como, necessariamente, ruim. “A divergência não é de todo mal. Isso é sinal de democracia interna e revitaliza o partido. Vamos ver o resultado das estaduais e trabalhar a partir deste cenário, que não é de tudo ou nada, mas será a indicação de uma tendência”, afirma. Do outro lado, o deputado federal Daniel Coelho (PE) também entende que o PSDB vive um caminho sem volta, mas ele não aposta tanto nos números das eleições estaduais como indicador. “Claro que vai dar pra prever grande parte dos votos na nacional com o resultado dos diretórios, mas o que vai ficar mais claro é rachadura, a maioria dos estados vai ficar perto do empate”, acredita.

Reflexo interno

O diretório no Distrito Federal também vive intensa disputa interna e, por decisão do deputado federal Izalci Lucas, 
atual presidente, as eleições para o comando local estão suspensas. Com a decisão, a executiva permanece provisória e Lucas 
tem até abril para convocar novas eleições.

Controle da verba

Medida provisória sancionada pelo presidente Michel Temer no último dia 3 entregou para o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, o controle de toda a verba de publicidade e de patrocínios do governo federal, incluindo as empresas estatais. 
A verba antes era de responsabilidade do secretário de Comunicação Social do governo, Márcio Freitas. A mudança fortalece Moreira Franco e o marqueteiro do PMDB, Elsinho Mouco. Pelo texto sancionado por Temer, compete à Secretaria-Geral “coordenar, normatizar, supervisionar e realizar o controle da publicidade e dos patrocínios dos órgãos e das entidades da administração pública federal, direta e indireta, e de sociedades sob o controle da União”.

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Planalto nega operação

Paulo de Tarso Lyra 

11/11/2017

 

 

O Planalto jura que não operou na movimentação de afastamento do senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) do comando nacional do partido. Mas também não esconde a satisfação que o gesto político do senador Aécio Neves (PSDB-MG) proporcionou. “Em agosto, o Tasso queria derrubar o presidente, estava até nomeando o novo ministério. E agora? Não se trata de uma provocação, é apenas algo de quem tem memória”, afirmou um aliado do presidente. Tasso sempre foi enxergado por Temer e pelo núcleo político palaciano como o artífice dos votos contrários ao presidente nas duas denúncias contra o presidente. Em ambas as votações, a bancada do PSDB na Câmara rachou ao meio dividida entre aqueles que defendiam o arquivamento e os que argumentavam quanto à necessidade de continuidade das investigações. Para o governo, ele também incentivou os chamados cabeças-pretas a defender a entrega imediata dos cargos para que o PSDB se afastasse de uma gestão, na avaliação dos tucanos oposicionista, “desgastado por acusações de corrupção”. Agora, na avaliação de um integrante dos “cabeças-pretas”, o menor dos problemas é saber se o PSDB fica ou não no primeiro escalão. “Na atual circunstância, no momento em que nos encontramos, se os ministros resolverem permanecer nos postos por conta de um desejo pessoal do presidente, o que nós podemos fazer?”, indagou o aliado do Tasso. Ele reconhece, contudo, que, o gesto de Aécio Neves pode fortalecer a posição de Tasso internamente. “Aumentou a indignação com a postura dos governistas”, completou o parlamentar. Aliado do senador Aécio Neves, o deputado Marcus Pestana (MG), irrita-se com as insinuações de que o Planalto tenha trabalhado no afastamento de Tasso Jereissatti. “Isso é uma coisa ridícula. Foi uma questão interna do partido. Fomos nós que lideramos o impeachment (da presidente Dilma), temos responsabilidade.” De acordo com o tucano mineiro, seria uma irresponsabilidade e um “oportunismo detestável” o partido tirar uma presidente e virar as costas para o futuro do país. Pestana critica os oposicionistas da legenda. “Os cabeças-branca, hipocritamente, dizem que apoiam o desembarque, mas que vão apoiar as reformas, mas votaram contra a terceirização e são contra a reforma da Previdência. Para nós, não se trata de uma questão de governo Temer, é uma questão da governabilidade”, justificou.