Correio braziliense, n. 19895, 11/11/2017. Política, p. 4

 

"A corrupção é sistêmica"

Renato Souza

11/11/2017

 

 

Empossado como novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia promete ampliar operações contra o desvio de dinheiro público

Ao assinar o termo de posse, na tarde de ontem, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, afirmou que o país “vive uma corrupção sistêmica” e prometeu ampliar as operações de combate às organizações criminosas que lesam os cofres públicos. O delegado disse ainda que está conversando com integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato para definir mudanças nas equipes de investigação. “Tem gente que está cansada e quer sair. Outros querem entrar. Esse é um processo natural”, destacou. À noite, ele se encontrou com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, na sede do Ministério Público Federal, em Brasília. Eles conversaram sobre as novas estratégias de combate à corrupção e ao crime organizado tanto na política quanto nas ruas.

Segóvia destacou o papel das instituições no combate à corrupção. Ele falou com a imprensa no Ministério da Justiça. “A corrupção neste país, ela é sistêmica, mas existe a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e vários outros órgãos que combatem a corrupção neste país, e a gente pretende continuar cada vez mais forte nesse combate”, disse. A troca de comando na PF já foi publicada no Diário Oficial da União.

Assim que o presidente Michel Temer anunciou que o delegado Leandro Daiello seria substituído no comando da corporação, surgiram especulações no campo político sobre uma possível interferência na Operação Lava-Jato. Segóvia procurou tranquilizar a sociedade. Disse que dentro da instituição os trabalhos vão ocorrer normalmente. “A Polícia Federal está tranquila, já tive reuniões com todos os atuais diretores, todos os atuais superintendentes regionais e todos estão tranquilos. A gente pretende continuar o trabalho da Polícia Federal e as mudanças serão feitas paulatinamente”, afirmou.

Apesar das declarações positivistas, Segóvia deve enfrentar barreiras orçamentárias durante sua gestão. Uma proposta de emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias, que é vista como importante para garantir os gastos da PF, ainda não foi aprovada no Congresso. Neste ano, a corporação sofreu um corte de 44% nas verbas discricionárias que estavam previstas. Com isso, serviços, como a manutenção de veículos e a emissão de passaportes, foram prejudicados.

No próximo ano, a tendência é de um orçamento um pouco mais elevado que os R$ 6 bilhões de 2017. No entanto, dívidas deste ano podem sobrar para 2018. O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, destacou que a preocupação com o orçamento cresce dentro da corporação. “A sociedade brasileira pede prioridade para a área de segurança pública. Precisamos de mais policiais nas fronteiras, nas operações. Uma solução seria o retorno do fundo que recolhe dinheiro da emissão de passaportes e taxas de emigração para reforçar o caixa. A PF recolhe com esses serviços cerca de R$ 500 milhões por ano.”

O orçamento reservado para a Polícia Federal neste ano é o menor da última década. Com o caixa apertado, no próximo ano as unidades policiais podem ser obrigadas a reduzir a periodicidade de manutenção dos veículos e avaliar a migração de escrivães, que atuam internamente, para áreas operacionais, integrando equipes policiais que atuam nas operações.