Correio braziliense, n. 19894, 10/11/2017. Política, p. 2

 

O PAC de Temer 

Paulo de Tarso Lyra, Rodolfo costa e Natália Lambert 

10/11/2017

 

 

PODER EM CRISE » Enquanto tenta aprovar parte do texto original da reforma da Previdência, o presidente anuncia a ampliação de programas e obras para garantir apoio de governadores e empresários. Distrito Federal tem cinco empreendimentos contemplados

Diante das dificuldades de aprovar a reforma da Previdência no Congresso, o presidente Michel Temer organizou ontem uma solenidade no Planalto para mostrar que é capaz de fazer a economia girar mesmo se não conseguir alterar as regras de aposentadoria. Sem a presença dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), Temer apresentou o Programa Avançar, com previsão de investimentos de R$ 130,97 bilhões até 2018.

A intenção é retomar e finalizar 7,44 mil obras que estavam paradas ou em ritmo lento. O projeto prevê ações em rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos e portos. E também em áreas sociais, como habitação, saneamento e drenagem, recursos hídricos, mobilidade urbana, contenção de encostas e centros de artes e esportes unificados, creches, quadras, unidades básicas de saúde, entre outras.

A medida é um agrado aos empresários e ao mercado, para mostrar que o governo não está paralisado. O próprio ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, reconheceu isso. “Ficamos os últimos 18 meses de governo tentando recuperar a credibilidade. Hoje, os pagamentos estão em dia e só no ano passado pagamos R$ 42 bilhões em obras. Este ano, fizemos uma programação da execução com o orçamento, e vamos continuar avaliando até o fim do ano”, declarou.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), João Carlos Martins, avalia que o governo tenta recuperar a confiança dos empresários. Mas discorda de que seja um agrado para sinalizar que a reforma da Previdência pode não sair. “A reforma vai sair. Não tem como ninguém aguentar o estratosférico rombo”, ponderou.

Foi o primeiro evento público do presidente após a Câmara enterrar a segunda denúncia contra ele, por corrupção passiva e obstrução de justiça. “Ao longo dos últimos cinco meses, muita gente temeu por uma crise política, mas veja só, debelada a recessão, foi nesse período que a economia voltou a crescer”, disse Temer. “Fomos contestados do ponto de vista da oposição aguerrida e orgânica que não aceitou o governo posto e legitimado. Depois, fomos contestados do ponto de vista moral, mas eu sempre afirmei que as coisas viriam à luz”, lembrou.

Em todos os discursos proferidos, foi possível ler nas entrelinhas alfinetadas internas do governo. Responsável por definir o caderno de obras, o ministro da Secretaria de Governo, Moreira Franco, aproveitou para criticar o rigoroso fiscalismo do titular da Fazenda, Henrique Meirelles. “Asseguro que Meirelles não deixará faltar dinheiro para esses projetos”, brincou Moreira.

Como uma maneira de agradar à base aliada e reverter a impopularidade, o Nordeste será a região com o maior número de obras contempladas: 3.186, com investimentos de R$ 19 bilhões. Por outro lado, nada menos que 2.254 obras estão ligadas à pasta da Saúde, do ministro Ricardo Barros, do PP, um dos partidos que mais cobra a reforma ministerial e namora a pasta de Cidades, hoje nas mãos do PSDB.

Apesar das recentes revisões da meta de deficit fiscal, o governo elaborou um programa que se desdobra em três subprodutos: o Avançar Cidades, que disponibilizará R$ 29,9 bilhões da Caixa Econômica Federal, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; o Avançar Energia, que injetará R$ 58,9 bilhões de empresas estatais no setor de energia; e o Avançar com recursos do orçamento geral da União, de R$ 42,1 bilhões.