Correio braziliense, n. 19894, 10/11/2017. Política, p. 4

 

PSDB cada vez mais rachado

Natália Lambert, Bernardo Bittar e Ezequiel Trancoso 

10/11//2017

 

 

PODER EM CRISE » Decisão de Aécio de tirar Tasso Jereissati da presidência interina do partido surpreende tucanos e amplia a divisão da legenda

A decisão do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de destituir o colega Tasso Jereissati (PSDB-CE) da presidência do partido e colocar o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman na função abalou de vez um rachado PSDB que depositava esperanças na convenção nacional de 9 de dezembro para se reerguer. A ação do mineiro, em resposta ao lançamento de candidatura de Tasso para o comando da sigla, pegou muitos de surpresa, inclusive nomes de peso com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo e pré-candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin. Um dos motivos de Aécio teria sido a pressão dos ministros tucanos que querem permanecer nos cargos.

Goldman admitiu que foi pego de surpresa com a nomeação. O ex-governador revelou ter recebido, na noite de quarta-feira, uma ligação de Aécio pedindo para que fosse para Brasília e que “intuiu” que receberia o convite. “Ele me comunicou hoje (ontem), me chamou para almoçar e me colocou isso que ele colocou na carta”, revelou o novo comandante do ninho tucano, em entrevista na sede nacional do partido, em Brasília, no fim da tarde de ontem.

O documento comunicou Tasso de que o mineiro reassumiria o posto de presidente e, na sequência, o transferiria para Goldman “com o objetivo de garantir a desejável isonomia entre os postulantes”. Aécio está afastado do comando do partido desde maio, quando foi divulgado áudio em que pedia R$ 2 milhões ao empresário e delator da Lava-Jato Joesley Batista.

Jereissati conta que recebeu Aécio no gabinete, por volta das 15h, quando o mineiro teria pedido a presidência de volta. “O senador me pediu que entregasse à presidência para haver equidade entre os candidatos. Pedi a ele sinceridade quanto às razões. Sabia que ele não queria que eu fosse candidato, nem presidente do partido, porque hoje temos diferenças profundas. E que ele me afastasse, então, para que as diferenças ficassem bem nítidas”, disse. “O PSDB desses caras não é o meu PSDB”, frisou repetidas vezes Tasso.

Aécio minimizou a atitude que considerou “normal”. “O senador Tasso, diferentemente do que dizia, anunciou a candidatura à presidência. Havendo outro candidato, é natural que seja garantida a isonomia na disputa. Essa decisão é absolutamente normal e feita com serenidade”, comentou. Entretanto, a “serenidade” não se refletiu nas bancadas da Câmara e do Senado. Tucanos ficaram atordoados sem saber o que dizer. Até aliados de Aécio, que defendiam o afastamento de Tasso da presidência, se irritaram. Apesar de ter discursado para defender o colega de estado, o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) teve de se acalmar antes de subir à tribuna.

Por meio de nota, o governador de Goiás, Marconi Perillo, concorrente de Tasso, disse que a decisão “restabelece o equilíbrio de forças para a disputa”. “Seria antiético e nem um pouco isonômico o processo se essa decisão não fosse adotada, já que a máquina partidária poderia pender para o lado de quem estivesse no comando do partido”, destacou.

Um dos motivos que tucanos chamados cabeças-pretas alegaram para a ação de Aécio foi a revolta dos ministros que têm sido pressionados a deixar o cargo. Aliado do presidente Michel Temer, Aécio não concorda com o desembarque do governo. Agora, com Goldman no comando, a aliança será mantida, ao menos, por ora. “A posição será, até decisão contrária, continuar no governo”, salientou Goldman, que negou que Aécio tenha sido pressionado.

Desavenças

O novo presidente interino do PSDB tem dificuldades de se relacionar com um dos mais influentes políticos atualmente na legenda. Alberto Goldman e João Doria começaram a se desentender quando o ex-governador criticou o prefeito de São Paulo por viajar muito ao exterior. “Não temos prefeito. Temos um candidato a presidente da República”, disse Goldman no Facebook. “É um dos piores prefeitos de São Paulo.” Doria respondeu às críticas também pela internet: em conta na mesma rede social, escreveu: “Hoje meu recadinho vai para você, Alberto Goldman, que viveu a vida inteira na sombra do Orestes Quércia e do José Serra. Você é um improdutivo”.

Frase

“O senador Tasso, diferentemente do que dizia, anunciou a candidatura à presidência. Havendo outro candidato, é natural que seja garantida a isonomia na disputa. Essa decisão é absolutamente normal e feita com serenidade”

Aécio Neves (PSDB-MG), senador