Título: BC prioriza o crescimento
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 29/02/2012, Economia, p. 10/11

Alexandre Tombini admite, em audiência no Senado, que ritmo da atividade econômica, no momento, pesa mais que meta de inflação

Diante da desconfiança cada vez maior dos analistas em relação ao compromisso do Banco Central de manter a inflação próxima da meta definida pelo governo, de 4,5% ao ano, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, decidiu soltar o verbo ontem na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE).

Ele admitiu, pela primeira vez, que a instituição já não olha apenas para o comportamento dos preços ao definir os rumos da taxa básica de juros (Selic). Tombini afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) também está considerando o ritmo de crescimento da economia.

Como a atividade está fraca e o país, se expandindo abaixo de seu potencial, os juros continuarão caindo — pelo menos mais 0,5 ponto na semana que vem, para 10%, segundo especialistas. "Não é por outra razão que o BC vem ajustando a sua taxa para baixo", disse.

Segundo Tombini, a economia dá sinais de fragilidade desde o terceiro trimestre do ano passado. Por isso, o Copom se antecipou e, em agosto, cortou a Selic em 0,5 ponto a despeito de enxurrada de críticas do mercado financeiro, que viu na decisão uma ordem da presidente Dilma Rousseff. Para o chefe do BC, a instituição passou a trabalhar com um novo "mix de política econômica", que concilia taxa de juros, medidas macroprudenciais, para ajustar a oferta de crédito, e controle de gastos públicos. "A manutenção desse mix de política econômica é compatível com maior crescimento da economia e convergência da inflação para a meta", assegurou, convicto de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará 2012 por volta de 4,8%.

O presidente do BC revelou, porém, estar preocupado com a taxa de câmbio. Mesmo depois de cinco dias de intervenção no mercado, a autoridade monetária não conseguiu impedir que o dólar fechasse ontem abaixo de R$ 1,70 (leia mais na página 13). Enfático, ele assegurou que não vai deixar a cotação correr livremente, seja na alta ou na baixa do dólar. "Queremos que o mercado funcione, nós temos responsabilidade sobre isso e entraremos nesse mercado para garantir que ele tenha condições de funcionar", afirmou.

Tombini se defendeu dos críticos que o acusam de ter abandonado o sistema de metas de inflação. "Temos cumprido por 18 anos tudo o que diz respeito às metas de inflação", disse. Ele também garantiu aos senadores que os preços estão em queda, com os índices de custo de vida apontando deflação. "Vem ocorrendo de fato um processo de desinflação forte. Os participantes do mercado estimam uma inflação na faixa de 5,11% em 2012, ou seja, afastado do centro da meta. Isso não nos satisfaz, buscamos os 4,5%", disse.

Juros em queda Para o mercado, a fala de Tombini foi mais uma tentativa de convencer os investidores a não apostar contra a queda dos juros. Em cerca de 30 minutos de depoimento, o presidente do BC apresentou seus argumentos pela continuidade da redução da Selic. "A taxa de crescimento da economia tem vindo abaixo do potencial nos últimos três trimestres, não por outra razão, o BC vem flexibilizando sua política monetária", disse.

"O BC quer que o mercado também corte os juros. Está criando uma série de argumentos que apontam para redução, mostrando para o mercado que seria razoável trabalhar em patamares mais baixos", observou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimento. "Eu estou convencendo o pessoal a ficar vendido em juros, a taxa vai cair."

Cobrança de multa Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, ontem, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, garantiu que a instituição tem empreendido um "esforço adicional" para cobrar multas aplicadas pelo órgão. "Estamos intensificando a recuperação de créditos e multas. Nosso desempenho tem melhorado e vamos continuar nesse processo", disse Tombini.