Correio braziliense, n. 19896, 12/11/2017. Política, p. 08.

 

O presídio mais cobiçado

Renato Souza

12/11/2017

 

 

PODER EM CRISE » Com medo do precário sistema penitenciário nacional, políticos condenados pela Justiça se esforçam por uma vaga no Complexo da Papuda

 

 

Considerado por especialistas como o presídio mais seguro do país, o Complexo Penitenciário da Papuda atrai a cobiça de políticos condenados na Operação Lava-Jato. Tentando fugir dos riscos do precário sistema penitenciário nacional, eles tentam uma vaga no centro de reclusão brasiliense. No local, eles ficam em uma ala destinada a presos vulneráveis, em celas com menor lotação e de certa forma, um maior conforto. Atualmente, a Papuda abriga “celebridades” do crime,  como o doleiro Lúcio Funaro, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, além do ex-senador Luiz Estevão. O ex-deputado Eduardo Cunha, um dos personagens centrais dos escândalos de corrupção, briga na Justiça por uma vaga na unidade. O diferencial do centro de reclusão é o corpo de segurança, altamente treinado e preparado para conter qualquer rebelião.

Com uma capacidade para atender 7,3 mil internos, a Papuda conta hoje com 15,8 mil detentos. A última rebelião ocorreu em 2001, durou 28 horas e deixou dois mortos e 11 feridos. Cenário bem diferente das recentes revoltas que levaram o caos para centros de reclusão do Norte, Nordeste, Sudeste e do Centro-Oeste. A Papuda é o único presídio nacional a contar com um espaço conhecido como “seguro”. Lá ficam internos ameaçados, mais vulneráveis ou que correm risco de serem mortos pelos demais. Além disso, a Fazenda Papuda conta com quatro unidades separadas entre si que dividem os internos de acordo com o tipo de pena e periculosidade.

Eduardo Cunha, condenado pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, tenta ficar na Papuda. A defesa do peemedebista ingressou com um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que ele seja transferido para a unidade. Além do STF, o advogado ingressou com diversos recursos em tribunais de segunda instância. Todos acabaram negados. Cunha cumpre pena no Complexo Médico Penal de Pinhais, em Curitiba, mas está atualmente em uma cela do Departamento de Polícia Especializada (DPE), da Polícia Civil do DF.

O advogado de Eduardo Cunha, Délio Lins e Silva, justifica que o ex-presidente da Câmara quer ficar na capital federal para ter contato com a ex-mulher e ficar mais próximo da defesa dele nos processos. “Nós queremos que ele fique aqui, perto dos advogados. Nosso escritório é em Brasília. Ele também tem uma ex-mulher, mãe de três filhos dele no Distrito Federal”, conta o defensor. O advogado confessou que na impossibilidade dele ficar em Brasília, o Rio de Janeiro seria uma segunda opção.

 

Ameaças

O doleiro Lúcio Funaro, delator da Lava-Jato, está preso na mesma ala do ex-ministro Geddel Vieira Lima e a dupla se vê todos os dias, embora o contato entre eles seja monitorado de perto. Em relação ao doleiro, chegou ao conhecimento da direção do presídio uma possível desavença entre ele e o executivo Ricardo Saud, da J&F. Funaro, que é considerado por pessoas próximas como alguém agressivo e acusado de ameaçar os demais integrantes do esquema, tornaria a prisão de Saud ainda mais complicada, ao fazer ameaças nos corredores da unidade prisional. O doleiro nega as acusações e diz “que não tem contato com Saud, pois estão em corredores separados e tomam banho de Sol em horários diferentes”. Uma pessoa próxima de Funaro contou à reportagem que acredita na versão dele, mas não duvida de que ele realize ameaças ao se encontrar com os demais internos envolvidos no mesmo esquema.

O subsecretário do Sistema Penitenciário, Osmar Mendonça, afirma que o efetivo de agentes para garantir a segurança está bem abaixo do recomendado. Mas destaca que a qualidade dos servidores é um diferencial da Papuda em relação aos demais presídios. “A Papuda hoje é uma das unidades prisionais mais seguras. Temos uma superlotação. Mas o grande diferencial é o corpo de servidores, que é altamente treinado. Esse é o diferencial da Papuda. São 1.500 servidores. Sabemos que é necessário um acrescimento de mais de três mil funcionários para garantir a totalidade da segurança.”