Correio braziliense, n. 19896, 12/11/2017. Política, p. 02.

 

 

O palanque virtual

Roberto Fonseca e Maiza Santos

13/11/2017

 

 

ELEIÇÕES » A pedido do Correio, especialistas, com apoio de software, analisam perfis de prováveis postulantes ao Planalto, e apontam grau de influência. Uso das notícias falsas nas redes sociais, porém, é um desafio para candidatos e eleitores no pleito de 2018

 

 

A pouco mais de 11 meses da disputa nas urnas em 2018, partidos, candidatos e marqueteiros ainda afinam o discurso que utilizarão para tentar conquistar o eleitorado. Se a munição ainda está sendo escolhida, a arma, no entanto, está cada vez mais calibrada: as redes sociais. Com a limitação de gastos de campanha, especialistas em marketing eleitoral consideram que o uso da internet será decisivo. E sai na frente quem tem uma maior amplitude de seguidores.

Por meio do Raid.Cloud, um software normalmente utilizado para identificar fraudes em empresas de telecomunicações, a multinacional portuguesa WeDo Technologies fez uma análise, a pedido do Correio, das contas no Twitter e no Facebook dos (até agora) principais postulantes ao Palácio do Planalto. Cruzando dados como quantidade de seguidores, tuitadas, postagens e o engajamento obtido (compartilhamento e comentários, por exemplo), a aplicação montou um ranking sobre influência, exposição da vida pessoal e força emocional dos candidatos. Detalhe: foram analisadas apenas as postagens públicas (principalmente no Facebook, que permite a publicação de textos apenas para os “amigos”) dos presidenciáveis. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), tem conta apenas no Twitter. O uso maléfico das redes por atores mal-intencionados ainda é um desafio para eleitores e candidatos.

No quesito influência nas redes sociais, entre os 11 nomes analisados pelo software, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sai na frente (veja infografia ao lado). Em uma escala de zero a 100 entre todos os usuários do Twitter e do Facebook, o petista atingiu 64, seguido pela ex-senadora Marina Silva (59) e o deputado federal Jair Bolsonaro (58). O outsider João Amoedo, do Partido Novo, é o menos influente nas redes, com 44. Em comparação com líderes mundiais, os nossos candidatos ao Planalto estão bem distantes. Pioneiro no uso das redes sociais (a campanha vitoriosa nas eleições americanas de 2008 é um case de sucesso no marketing eleitoral), o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, por exemplo, tem índice 84 — enquanto o sucessor, Donald Trump, é classificado como 72.

Já na análise da exposição da vida pessoal nas redes sociais, a ex-ministra do Meio Ambiente é a que mais publica textos e imagens, com 7, seguida por João Amoedo, com 6. Os números obtidos, no entanto, são bem abaixo da média da população, que costuma ficar na faixa de 25%, no caso brasileiro. Ou seja, nossos presidenciáveis não gostam muito de expor a família e amigos nas postagens públicas. Em relação ao intervalo emocional dos candidatos, um índice que mede a capacidade de o usuário responder e tratar de temas mais variados possíveis nas redes sociais, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, o eventual substituto de Lula na chapa petista em caso de impedimento do ex-presidente de concorrer por causa das condenações na Operação Lava-Jato, aparece em primeiro, seguido por Bolsonaro. Lula é o último.

 

“Piadinhas”

Na avaliação do vice-presidente de Marketing e Estratégia da WeDo Technologies, Bernardo Lucas, a análise das contas dos postulantes ao Planalto é importante, porque mostra para a sociedade que tudo o que se publica em redes sociais está disponível para análise de humanos e da inteligência artificial. “As ferramentas hoje em dia traçam um perfil da personalidade da pessoa, a forma como o usuário reage a uma postagem. Tudo pode ser classificado”, afirma Lucas. “No cotidiano da população, isso pode trazer problemas, como a restrição de crédito ou dificuldade de recolocação profissional, por exemplo, caso o usuário fique muito fora do padrão de uma empresa em que pretenda trabalhar.” “Rede social faz parte de uma estratégia e sai na frente quem sabe usá-la”, completa.

Para o especialista em marketing político Marcelo Vitorino, a rede social é uma vitrine da vida real. “Tem que se perguntar se o discurso é um grande motivador de votos. O Ciro Gomes, por exemplo, fala sem filtros. O caminho para a transparência é ser autêntico. Se você é como o José Serra, não adianta fazer piadinhas”, analisa. Vitorino avalia que o político não está acostumado a ouvir a verdade. “É importante que ele saiba que o mundo não é como as pessoas próximas a ele dizem que é”, alerta. Segundo ele, a rede social deve funcionar como um termômetro, porém, é preciso não confundir um problema de pequenas proporções com uma crise que pode determinar o resultado da eleição, porque a resposta na internet é muito rápida.

O sociólogo Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília, afirma que os candidatos precisarão avaliar o pensamento do eleitorado para colher os frutos na campanha. “É importante que se aprenda a utilizar essas ferramentas tecnológicas para fazer filtragens, para isso, é preciso uma equipe especializada em tecnologia. Existem muitas saídas, é mais barato do que rádio ou TV.”