Correio braziliense, n. 19899, 15/11/2017. Política, p. 04.

 

 

PMDB do Rio na mira da PF

Renato Souza

15/11/2017

 

 

PODER EM CRISE » Presidente da Assembleia Legislativa do estado, Jorge Picciani, e o deputado Paulo Melo foram alvo de condução coercitiva. Foram presos na operação um dos filhos do líder da Alerj e os empresários Jacob Barata e Lélis Teixeira

 

 

Acusado de fraudes no setor de transportes, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani, foi levado para depor na sede da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, na manhã de ontem. Deputado estadual desde 1990, ele é um dos alvos da Operação Cadeia Velha, que resultou na prisão de seu filho, o empresário Felipe Picciani. O político estava em um voo que saiu de Uberlândia, em Minas Gerais, e foi abordado por agentes assim que a aeronave pousou. Já o filho dele foi detido no aeroporto mineiro, após deixar o pai no saguão de embarque.

Além deles, também foram presos o empresário Jacob Barata Filho e o ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) Lélis Teixeira. O deputado Paulo Melo (PMDB) foi alvo de condução coercitiva. Todos são acusados de envolvimento em esquema de corrupção que beneficiaria empresários e políticos, que, de acordo com o Ministério Público, é liderado pelo ex-governador do Rio, Sérgio Cabral. De acordo com as investigações, os envolvidos depositavam propina para os parlamentares da Alerj, que em troca aprovaram leis em favor das empresas que atuam no transporte do Rio de Janeiro.

As investigações tiveram origem em informações do acordo de colaboração premiada do doleiro Álvaro José Novis. Felipe Picciani passou a noite na Superintendência da PF, prestando depoimento sobre o caso. Antes de entrar no prédio, ele foi recebido por manifestantes, aos gritos de “ladrão”. Felipe chegou ao local de cabeça baixa e não falou com a imprensa. Os investigadores encontraram mensagens de e-mail que dão indícios da participação dele no esquema. O empresário é acusado de ser o responsável por “dissipar os valores” recebidos.

A Polícia Federal informou que foram cumpridos 35 mandados de busca e apreensão, sendo que um deles ocorreu no gabinete de Jorge Picciani, na Alerj. Foram realizadas ainda buscas na empresa Agrobilara, que pertence à família do deputado. Os investigadores acreditam que a empresa, que atua no setor agropecuário, foi utilizada para lavar dinheiro por meio da compra de gado.

 

Patrimônio

A Operação Cadeia Velha é um desdobramento da Lava-Jato a nível regional. O patrimônio do presidente da Alerj aumentou consideravelmente em 20 anos. Em 1994 ele declarou ao Tribunal Regional Eleitoral (TCE) do Rio de Janeiro que tinha um patrimônio de R$ 1,2 milhão. Já em 2014, de R$ 12,2 milhões, um crescimento de mais de 10 vezes. O Ministério Público acredita que podem existir recursos que não foram declarados, provenientes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em razão disso, ele teve a prisão preventiva solicitada pelos procuradores. No entanto, a Justiça ainda não avaliou o caso.

Em nota, Jorge Picciani afirmou que “atua há 33 anos no ramo da pecuária e que nunca se envolveu em negócios ilícitos”. Ele negou as acusações de envolvimento com fraudes no sistema de transporte carioca e chamou a prisão do seu filho de “covardia”.