O Estado de São Paulo, n. 45245, 02/09/2017. Economia, p. B8.

 

Balança comercial já supera resultado de 2016

Lorenna Rodrigues 

02/09/2017

 

 

Exportações subiram 18,1%, puxadas pelos preços de commodities, e as importações tiveram alta de 7,3%; no ano, superávit vai a US$ 48 bi

 
 

O saldo comercial brasileiro ultrapassou, nos oito primeiros meses de 2017, o valor alcançado em todo o ano de 2016 e durante os anos anteriores. De janeiro a agosto, as vendas ao exterior superaram as compras em US$ 48,1 bilhões, acima do resultado recorde de R$ 47,7 bilhões registrado em todo o ano passado. Somente em agosto, o resultado foi positivo em R$ 5,6 bilhões.

Diferentemente de 2016, quando o montante foi alcançado principalmente por conta de queda nas importações, o saldo deste ano ocorre apesar do crescimento das compras de 7,3% no ano. Já as exportações subiram ainda mais, 18,1%, impulsionadas pela melhora no preço de commodities, como minério de ferro, e pela safra recorde de produtos agrícolas.

Em agosto, a alta nas vendas foi de 14,7% e, nas compras, 8%. “O resultado do mês de agosto reforça a trajetória muito consistente da balança comercial e uma recuperação nas exportações como um todo”, disse o secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto. Apesar dos bons números, o governo manteve a estimativa de saldo para este ano em US$ 60 bilhões.

Houve crescimento disseminado nas exportações no ano por produto – com aumento nas vendas de básicos (25,8%), semimanufaturados (14,2%) e manufaturado (10,4%) – e para vários destinos, principalmente China, EUA e Argentina. Em agosto, também houve crescimento nas três categorias na comparação com o mesmo mês de 2016. Os básicos cresceram 24,2%, manufaturados 9,7% e semimanufaturados 3,4%.

Importações. Pelo lado das importações, em agosto foi registrado o primeiro crescimento nas compras de bens de capital desde junho de 2016, uma alta de 6,6%. Para o diretor de Estatísticas e Apoio às Exportações da Secex, Herlon Brandão, ainda é prematuro dizer que isso demonstra a recuperação da atividade econômica: “Temos de esperar alguns meses para confirmar, mas é uma boa notícia.”

Brandão destacou o crescimento da balança de petróleo e derivados, que, de janeiro a agosto, registrou superávit de US$ 4 bilhões, resultado de um crescimento na produção de 10,4% e melhora nos preços. Será o segundo ano na história que a venda de petróleo e derivados ultrapassa a compra. Ele também destacou os aumentos nas vendas de carne in natura (8,6% no ano).

Recorde. Para o economista da Tendências Silvio Campos Neto, embora os efeitos positivos da supersafra de grãos estejam perto do fim – o que ajuda a entender a queda de 5,3% dos embarques brasileiros na comparação com julho –, a produção recorde de soja permitiu um aumento superior a 40% das exportações desse produto frente a agosto de 2016, enquanto os preços do minério de ferro voltaram “surpreendentemente” a subir.

O economista observa ainda que as exportações de carne bovina, com alta de 48,6% em relação a agosto do ano passado, seguem em recuperação após a Operação Carne Fraca, a ação deflagrada em março pela Polícia Federal que investigou o suborno de fiscais sanitários por grandes frigoríficos do País. “A balança comercial confirmou o panorama em que, a despeito da sazonalidade menos favorável, as exportações seguem fortes, com crescimento de dois dígitos”, comenta.

Já a alta das importações de bens de capital em agosto é, para Campos Neto, um sinal positivo da reação dos investimentos, ainda que o PIB do segundo trimestre, divulgado ontem, não tenha trazido sinais de recuperação dos investimentos. “É um sinal de que, mesmo de

“O resultado do mês de agosto reforça a trajetória muito consistente da balança comercial e uma recuperação nas exportações como um todo” Abrão Neto SECRETÁRIO DE COMÉRCIO EXTERIOR

forma lenta, as coisas estão voltando a caminhar. Como ainda vivemos um período de muita incerteza, é normal que a reação seja lenta. Mas o aumento das importações de bens de capital é um bom sinal.”

Já a economista especializada em setor externo Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou que a importação de bens de capital avança a ritmo mais lento que a de outros itens, como insumos para o agronegócio, o que é preocupante. /

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China defende carne brasileira, mas não libera frigoríficos

Cláudia Trevisan

02/09/2017

 

 

Sem acordo para o produto nem para a compra de aviões, encontro de Temer com Xi Jinping teve anúncio sobre vistos e futebol

 

 

O presidente da China, Xi Jinping, disse ontem que é um “garoto propaganda” da carne brasileira e prometeu a seu colega Michel Temer que seu país ampliará as compras do produto. Mas a visita de Estado do brasileiro a Pequim terminou sem nenhum anúncio concreto sobre a habilitação de novos frigoríficos pela China. O último credenciamento ocorreu há dois anos e 89 plantas aguardam o sinal verde para iniciar embarques com destino ao país asiático.

“Sempre digo que a carne brasileira é uma das melhores do mundo”, declarou Xi na reunião que teve com Temer no Grande Palácio do Povo, segundo relato de integrantes do governo que acompanharam o encontro. China e Hong Kong são os principais destinos das exportações brasileiras do produto, mas o potencial do mercado de 1,4 bilhão de pessoas está longe de ser explorado pelos empresários nacionais.

A expectativa de que o governo chinês autorizasse a compra de 38 aviões da Embraer por empresas do país foi frustrada. As operações já foram anunciadas, mas não chegaram a ser concretizadas em razão do atraso na concessão de licenças pela administração federal. Sem elas, as companhias aéreas não podem cumprir os contratos. Apesar da ausência de um acordo formal, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse a Temer que seu governo aprovará as transações. Só não se sabe quando isso ocorrerá.

O presidente brasileiro foi recebido com honras militares em sua primeira visita de Estado à China, a mais elaborada no ranking diplomático. Sob um céu escurecido por uma pesada nuvem de poluição, Temer passou em revista as tropas na entrada do Grande Palácio do Povo, que fica na Praça da Paz Celestial e a poucos metros da Cidade Proibida. O número de partículas poluentes no ar ontem era dez vezes superior ao padrão recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O caráter marcial do evento foi amenizado pela performance de um grupo de 80 estudantes de 8 anos e 9 anos. Carregando bandeiras do Brasil e da China, eles gritaram e pularam quando os dois presidentes se aproximaram.

Restrições. A China também prometeu flexibilizar a salvaguarda imposta em maio sobre a importação de açúcar, que atingiu em cheio os produtores nacionais. O Brasil é o único país que exporta um volume superior à quota estabelecida por Pequim, sobre a qual incide tarifa de 15%. A medida adotada pela China elevou de 50% a 95% a alíquota cobrada sobre as vendas que excedem a quota.

Esse assunto foi discutido na reunião de Temer com o primeiro-ministro, na qual ficou decidida a criação de um grupo de trabalho para tratar de conflitos e demandas comerciais. Entre elas, está a investigação antidumping sobre as exportações

de frango do Brasil aberta pela China duas semanas atrás e outras adotadas pelo Brasil contra a China.

Além dos acordos puramente econômicos, os dois governos firmaram convênio que aumenta de três para cinco anos o prazo de validade de vistos de turismo e de negócios de múltiplas entradas. O Brasil também decidiu abrir 12 novos centros de concessão de vistos no país asiático, com o objetivo de estimular o turismo. A cada ano, a China envia 120 milhões de turistas a outros países. Desses, apenas 50 mil escolhem o Brasil como destino.

Os dois países ainda fecharam acordo para coproduções de filmes. A China estabelece uma quota anual para filmes estrangeiros, que normalmente é ocupada por blockbusters de Hollywood. As produções conjuntas são uma maneira de driblar essa barreira e realizar filmes que serão considerados nacionais.

Xi Jinping e grande parte dos chineses são fanáticos por futebol e os dois países definiram cooperação para promoção do esporte, por meio da abertura de escolas na China.