Correio braziliense, n. 19905, 21/11/2017. Política, p. 4

 

Mexida na Esplanada torna Maia mais forte

Paulo de Tarso Lyra 

21/11/2017

 

 

PODER » Escolha de Alexandre Baldy para Cidades evidencia ação do governo para prestigiar o presidente da Câmara e o grupo de deputados que orbitava em torno de Eduardo Cunha

O presidente Michel Temer inicia uma semana decisiva para afinar a votação da Reforma da Previdência amarrando três dos principais partidos da base na reforma ministerial — PMDB, PP e DEM —, encontrando uma saída negociada e quase honrosa para o PSDB e elevando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao patamar de principal responsável por aprovar as mudanças nas regras da aposentadoria na Câmara. “Se a Previdência passar, o grande mérito é do Rodrigo. Se não passar, quem sai derrotado é o governo, que não mobilizou a base corretamente”, afirmou um parlamentar governista.

A escolha do deputado Alexandre Baldy como ministro das Cidades — a posse está marcada para amanhã à tarde — é uma vitória de Maia. Ambos têm bom trânsito no mercado financeiro com uma visão liberal no campo econômico. Além disso, a “barriga de aluguel” arquitetada pelo Planalto e pelo presidente da Câmara agrada a todos os lados.

O goiano Baldy (leia texto abaixo) deixou o Podemos e vai se filiar ao PP, mas não deve gerar chiadeira de outros parlamentares que esperaram tanto tempo para abocanhar Cidades e verão um cristão novo no partido assumir uma pasta com orçamento de R$ 15 bilhões. “Por que eles reclamariam se vão continuar com Agricultura, Saúde, Caixa Econômica?”, sinalizou um ministro. Na semana passada, integrantes da base afirmavam que, se o PP herdasse Cidades, teria de perder a Saúde, por exemplo.

A escolha de Maia para negociar isso, além de reconhecimento do prestígio vivido pelo demista, deve-se ao fato de o centrão estar reunido em torno do parlamentar fluminense. “O Rodrigo destruiu, gradativamente, toda a influência que o Eduardo Cunha tinha sobre esse grupo e fez com que passassem a gravitar em torno dele”, disse um aliado.

O presidente da Câmara também deve emplacar outro aliado em um cargo estratégico. São poucas as chances de permanência de Paulo Rabello de Castro à frente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No sábado, Rabello filiou-se ao PSC, e desafetos afirmam que ele está sonhando em concorrer ao Planalto, o que tornaria incompatível a permanência dele à frente do banco.

Rabello alega não ter definido ainda se concorrerá a algum cargo eletivo em 2018. Mas esse fato se soma a outros desgastes que ele tem junto à base. “Já era para ele ter deixado o cargo há muito tempo”, defende o vice-líder do governo na Câmara, Pauderney Avelino (DEM-AM). Os maiores desgastes de Paulo Rabello ocorreram quando ele se posicionou de maneira diversa do governo no episódio de criação da Taxa de Longo Prazo (TLP) e quando resistiu a devolver ao Tesouro a capitalização feita no BNDES nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.

Marun

O PMDB também arrumou um jeito de se aproveitar das mudanças que Temer vai promover na Esplanada. São boas as chances de o vice-líder do partido na Câmara, Carlos Marun (MS), assumir a Secretaria de Governo no lugar do tucano Antônio Imbassahy. Peemedebistas admitem que as posturas incisivas do deputado e o fato de ele ter ido visitar Eduardo Cunha na prisão poderão gerar um desgaste contra ele. “Mas o Marun dá a cara a tapa, mesmo que se esfole. E defende os colegas. É um cara desses que o parlamentar quer ver na articulação política, pois sabe que o acertado será cumprido”, disse um peemedebista.

O partido de Temer também deve herdar o principal naco do Ministério das Cidades: a secretaria de Habitação. É ela quem realiza as obras do Minha Casa Minha Vida e tem capilaridade ao firmar convênios com prefeitos e governadores, o que sempre é útil em anos eleitorais. Prova disso é que o PT deixou o Ministério das Cidades em 2005, mas manteve a Secretaria de Habitação até 2016, quando Dilma Rousseff sofreu impeachment.

É a segunda secretaria que o PMDB assume no Ministério das Cidades após um momento de crise. Quando se tornou presidente, Temer entregou o ministério de porteira fechada para o PSDB. Mas o partido rachou na votação da primeira denúncia encaminhada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot à Câmara, e Temer entregou para o PMDB a secretaria de saneamento, outra área atraente em termos de investimentos.

A situação do PSDB também deve começar a se desenhar hoje, quando o presidente receberá os ministros Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores). O primeiro deve ser remanejado na Esplanada, embora tenha dito a pessoas próximas que não recebeu nenhum convite para Direitos Humanos ou Transparência. Já Aloysio tem grandes chances de permanecer onde está.