Título: Escalada repressiva antes do voto
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 29/02/2012, Mundo, p. A17

O regime iraniano tenta impedir o surgimento de protestos populares na reta final para as eleições legislativas de sexta-feira. Um relatório da Anistia Internacional aponta que o governo investiu na criação de uma ciberpolícia, capaz de hackear contas de ativistas e, com isso, evitar a organização de manifestações pela internet. A mesma entidade também seria responsável pelo ataque a sites contrários ao regime. O levantamento da Anistia indica, ainda, o aumento da repressão a opositores ao longo de 2011, especialmente nos últimos meses. Segundo o documento, dezenas de dissidentes sofreram prisões arbitrárias e houve quatro vezes mais execuções públicas do que em 2010.

Os casos mais emblemáticos, conforme o relatório, são os de Hossein Mousavi e Mehdi Karrubi, ambos derrotados por Mahmud Ahmadinejad na eleição presidencial de 2009. Os dois, que integram a facção reformista do regime e se opõem ao presidente, estão em prisão domiciliar há um ano. Este mês, o blogueiro Mehdi Khazali, defensor da separação entre Estado e religião, foi condenado a quatro anos e meio de prisão, mais 10 de "exílio interno". "Hoje, no Irã, se alguém for além do estrito comportamento político aceito pelo governo, estará em sérios apuros", diz Drewery Dyke, especialista em política iraniana na Anistia Internacional.

Em entrevista ao Correio, Dyke explica que neste ano está havendo um fenômeno incomum no país. "Em eleições anteriores, observamos um aumento da liberdade de expressão nessa época", comenta o especialista. Para Dyke, o regime dos aiatolás observou como os manifestantes de 2009 — que tomaram as ruas para protestar contra a reeleição do presidente — usaram as redes sociais para relatar ao mundo as violações dos direitos humanos. Além disso, as autoridades se alarmaram com o desenrolar da Primavera Árabe em nações como o Egito e a Tunísia, algo que contribuiu para o aumento da repressão. "As autoridades estão extremamente sensíveis em relação ao uso da internet", ressalta Dyke.

A Anistia Internacional não detalha quais são as ferramentas usadas para cercear a liberdade na rede de computadores. Segundo a organização, o governo conseguiu restringir a largura de banda e está adotando protocolos específicos para a troca de dados. Vários sites foram bloqueados (entre eles o da própria Anistia) e há indícios de que um "ciberexército", vinculado à Guarda Revolucionária, estaria trabalhando para derrubar sites como o Twitter. Mesmo com os esforços do regime, analistas acreditam que possa haver protestos nos próximos dias. "O sistema eleitoral é tão fechado que isso não faria diferença para o resultado. Mas é um período em que o país está com alta visibilidade internacional, portanto é o momento perfeito para mostrar a insatisfação", pondera Murilo Meihy, professor de história contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 29/02/2012 02:30