Título: Clima tenso entre os líderes
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 29/02/2012, Cidades, p. 21/22

Reunião do colegiado, que antecipou a votação em plenário, expôs a resistência de alguns parlamentares em abrir mão do 14º e 15º salários. Alguns chegaram a cogitar deixar a carreira política e afirmar que a benesse faria falta aos mandatosNotíciaGráfico

O clima durante todo o dia de ontem foi de tensão na Câmara Legislativa. Deputados que recebiam normalmente os 14º e 15º salários relutaram em aceitar a ideia de votar um projeto que acabaria com o benefício. No entanto, a pressão externa da opinião pública fez com que os distritais recuassem. A proposição ganhou mais força nos últimos dias, quando sete deputados resolveram ouvir o clamor popular e também abriram mão do benefício. O assunto só foi resolvido na reunião do Colégio de Líderes, no início da tarde desta terça-feira.

Na reunião, alguns distritais demonstraram claramente o descontentamento em debater o tema. Não houve discussão acalorada entre eles, mas parte do colegiado entrou no encontro com a intenção de não permitir a inclusão do projeto de lei na pauta do dia. Pela defesa da aprovação imediata do texto, posicionaram-se o bloco PPS-PSB-PDT e o líder do grupo formado pelo PTB-PP-PR-DEM, o petebista Dr. Charles — apesar da resistência interna de alguns dos seus liderados. Mesmo não concordando com a necessidade da votação, o líder do PT-PRB, Chico Vigilante, logo aderiu à proposta.

Consternados, alguns questionaram o desgaste pela qual a Casa estava exposta. Na opinião deles, injustamente. Segundo deputados, a Câmara não podia ceder à pressão sob o risco de mostrar fragilidade ou mesmo passar a impressão de que os parlamentares admitiam haver algo errado no pagamento dos salários extras. Em discursos emocionais, alguns chegaram a dizer que cogitavam deixar a carreira política. Os mais abastados afirmaram que não precisavam de remuneração para sobreviver, enquanto outros defendiam a verba para a manutenção do mandato parlamentar.

Dividido desde a última segunda-feira — quando Liliane Roriz e Washington Mesquita decidiram abrir mão do recebimento da ajuda de custo —, o PSD defendeu a não aplicação de urgência na tramitação do projeto, obrigando o PL a passar por todas as instâncias antes de chegar ao plenário. "A nossa posição é para que o projeto seja votado a toque de caixa, mas, assim como as proposições de governo, ele tem de passar em todas as comissões", defendeu a líder, Eliana Pedrosa (PSD). Momentos antes da sessão plenária, ela e Celina Leão (PSD) também anunciaram desistir da verba extra.

Antes de enfrentar o batalhão de repórteres na porta da sala da Presidência, os líderes partidários decidiram acabar de vez com a discussão que rondava a Casa há pelo menos cinco anos e ganhou dimensão nos últimos dias. Para tanto, acordaram que o projeto a prevalecer sobre os demais seria o de autoria da Mesa Diretora. Com a queda iminente do benefício, já em plenário, o distrital Siqueira Campos (PSL) resumiu o sentimento de colegas: "Temos de admitir que a imprensa tem um grande papel neste país. Ela é o quarto poder e realmente defende as coisas que interessam a nossa sociedade".

Ontem, o líder do governo, Wasny de Roure (PT), protocolou representação contra a deputada Celina Leão na Mesa Diretora. Em entrevista ao Correio, na última sexta-feira, a distrital afirmou que precisava do benefício porque não recebia "cota" do governo. A declaração foi questionada pelos governistas. Na segunda-feira, a deputada Arlete Sampaio (PT) havia pedido esclarecimentos formais. Em nota, Celina disse que se referia apenas ao espaço que os adversários possuem na administração pública, com a indicação de cargos.