Correio braziliense, n. 19901, 17/11/2017. Política, p. 03.

 

 

Justiça prende três deputados estaduais

Renato Souza

17/11/2017

 

 

CONSUMIDOR » TJDFT considera que movimento prejudicaria órgãos de segurança pública. Motoristas organizados apoiam protesto iniciado em Goiânia que impede entrega de combustível aos postos. Petrobras anuncia queda de 3,8% do produto nas refinarias

 

 

Motoristas e consumidores de Brasília reclamam dos preços do litro da gasolina. Segundo eles, o combustível está caro e sendo vendido por valores muito parecidos. Dos 29 postos visitados pelo Correio no Plano Piloto, 20 estavam com o valor entre R$ 4,08 e R$ 4,12. A média cobrada nos estabelecimentos é de R$ 4,09, variando de R$ 3,99 a R$ 4,22. (Confira quadro) Apesar dos sucessivos aumentos, os brasilienses têm esperança de gastar menos, a partir de hoje, já que a Petrobras reduziu 3,8% nos valores cobrados nas refinarias.

Consumidores reclamam que, quando é reajuste para cima, os estabelecimentos aumentam os preços no dia anterior. Mas quando beneficia os motoristas, não há a mesma prática. Alguns motoristas de vans e motos decidiram trazer para Brasília o movimento que ocorre em Goiânia e outras regiões do estado vizinho. Ontem, o objetivo era bloquear a saída da BR Distribuidora e da Transpetro, ambas ligadas à Petrobras, para impedir o abastecimento dos postos de combustíveis. O protesto foi marcado pelas redes sociais e ocorreria no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), onde ficam localizadas as unidades.

No entanto, a estatal entrou com uma ação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) para impedir o protesto, que foi aceita pelo TJDFT. O órgão entendeu que o ato prejudicaria diversos órgãos de segurança pública do DF, como as Polícias Civil, Federal e Rodoviária Federal, além do Corpo de Bombeiros e ambulâncias de hospitais.

O militar Ocimar Guimarães, 49 anos, apoia o movimento iniciado em Goiânia. “Temos que fazer igual. Os preços cobrados em Brasília são absurdos para o salário que nós, trabalhadores, recebemos. Há um cartel antigo que joga o preço do combustível lá para cima. É preciso fazer algo”, criticou.

A servidora pública Andrea Brayner, 50 anos, concorda que está difícil custear um carro. O dela consome quatro tanques de combustível por mês, fazendo com que ela gaste R$ 600. “Fora o que eu gasto com o carro da minha filha, que ainda é estudante”, declarou. “O pior é que não tem como nós dividirmos um veículo. Temos horários diferentes. Eu vendi meu carro porque não estava suportando mais despesas. Passei a andar só com carona de aplicativo, mas não consegui me adaptar. Em algumas situações, é necessário ter um automóvel”, contou.

 

Manifestação

Goiânia, que inspirou o movimento em Brasília, passou por uma seca nos tanques dos postos. Os protestos bloquearam a saída de combustíveis das distribuidoras. Os postos que ainda tinham os produtos estavam lotados e motoristas enfrentavam longas filas de espera. Lá, a gasolina chega a custar quase R$ 5. O presidente do Sindicato dos Transportes Escolares do Distrito Federal (Sintresc-DF), Nazon Simões Vilar, afirmou que a situação em Brasília não é diferente. “A prática do cartel é histórica. Apesar de as autoridades afirmarem que não existe mais, é visível o tabelamento de preços, inclusive no Entorno”, destacou. “Apoiamos o protesto e queremos deixar claro que a intenção não é prejudicar a população, mas atingir o bem comum”, completou.

O presidente da Associação dos Motoristas Prestadores de Serviços de Transporte Individual Público e Privado de Passageiros por Aplicativos Baseado em Tecnologia de Comunicação em Rede no Distrito Federal (AMSTIP-DF), Bismarck Konrad Hgermann, declarou que tenta derrubar a liminar na Justiça para dar continuidade ao protesto. “Entramos em contato com o pessoal de Goiânia para buscar novas alternativas para seguirmos com o movimento”, disse.

Segundo os manifestantes de lá, há um grande cartel no estado e tributação excessivamente alta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de 30% para gasolina e 25% para etanol.

 

Redução

A Petrobras cortou em 3,8% o preço da gasolina e 1,3% do diesel. Desde o último dia 1º de novembro, o valor do combustível acumula quatro reduções e sete altas, fechando o período com aumento de 3,7% nas refinarias. Já o diesel tem queda acumulada de 1,3% nos 17 primeiros dias do mês.

Segundo a companhia, como a lei brasileira garante liberdade de preços no mercado de combustíveis e derivados, os ajustes realizados nas refinarias podem ou não se refletir no preço final ao consumidor. Isso depende de repasses feitos por outros integrantes da cadeia de combustíveis, especialmente distribuidoras e postos revendedores.